quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Os melhores momentos da pré-época: CMVM faz um frango à Roberto

Alguns dos melhores momentos da pré-época já praticamente pertencem à pré-história, mas queria escrever sobre eles. Na altura em que aconteceram ainda não tinha o blog, ou ainda estava a tentar perceber como isto funciona. Perdoem-me o atraso e o repisar em assuntos que já deviam estar fechados. Ou talvez não.

O Benfica tem muita experiência de CMVM. E a CMVM tem muita experiência de Benfica. 

Por exemplo, em 2007, quando Luís Filipe Vieira, descontente pelos resultados da equipa, decide despedir Fernando Santos após um empate fora com o Leixões na 1ª jornada, substituindo-o de imediato por Camacho. Na altura, a CMVM multou o Benfica em 25.000€ por violações muito graves do dever de divulgação de informação, isto porque no espaço de 2 dias nada foi comunicado sobre a mudança de treinador. Mais tarde o tribunal daria razão ao Benfica.

Ou então, em 2009, quando a CMVM multou o Benfica em 40.000€, por ter fornecido informações falsas sobre a transferência de Ramires. Num comunicado à CMVM, o Benfica negou estar a negociar a compra de Ramires ao Cruzeiro, o que mais tarde se veio a confirmar que não era verdade.

E se começássemos a listar os pedidos de esclarecimento, nunca mais saíamos daqui. Estes exemplos não pretendem demonstrar se o Benfica é ou não uma instituição de bem. O objetivo é demonstrar que a CMVM ofende-se facilmente com as falhas de prestação de informação das sociedades cotadas em bolsa.

Motivo pelo qual fiquei espantado quando a CMVM pouco se mexeu quando o Benfica anunciou a venda ao Zaragoza de Roberto, um dos maiores flops da sua história, por mais de 8,6M€, conseguindo um lucro de 100.000€ em relação ao valor com que o comprara ao Atlético de Madrid. Sim, a CMVM pediu esclarecimentos, e o Benfica abriu um pouco mais o jogo: o Zaragoza paga 86.000€ (1% do total) pelos direitos desportivos do jogador, e os restantes 99% foram adquiridos por um misterioso fundo de origem espanhola, supostamente ligada ao presidente do Zaragoza.

A história cheirava muito mal, mas a CMVM aceitou. A ideia com que fiquei na altura foi que o fundo espanhol seria na realidade detido pelo Benfica, pois ninguém no seu perfeito juízo iria investir dinheiro a sério num jogador que enterrou a sua equipa de todas as formas e feitios. Para além se verem livres de um ativo sem valor, LFV afirmava-se como um negociador espantoso, o Benfica saía reforçado como valorizador de jogadores (mesmo os maus), e as contas da SAD poderiam registar mais um valor brutal de proveitos (os pagamentos não entram na demonstração de resultados).

Passados dois anos, aparece um comunicado do Atlético de Madrid que revela ter comprado o passe do jogador ao Benfica. Roberto também afirma nunca ter deixado de ser jogador dos encarnados.

Descobrimos agora que afinal, segundo o Benfica, o fundo nunca pagou um tostão, devolvendo o passe do jogador, que entretanto foi despachado a troco de 50% do passe de Pizzi, que por sua vez foi despachado para o Espanhol. Simples e claro, não é?

Não sou um especialista em contabilidade, muito menos em contabilidade de sociedades desportivas e ainda menos em contabilidade criativa. No entanto fiquei com uma série de dúvidas que, até agora, a CMVM parece não partilhar.

  • A SAD do Benfica incluiu a venda de Roberto em 2011 nas suas contas?
  • Tendo havido um proveito na altura, e atendendo que nunca houve pagamento, o Benfica registou as imparidades nos resultados de 2011 e 2012?
  • Perante as evidências, não será admissível considerar que nunca houve a intenção do fundo espanhol pagar o montante que devia, e que o Benfica nunca esperou receber um tostão?
  • Não será isto tudo, potencialmente, muito mais grave do que falhar a divulgação da troca de um treinador?

É possível que as contas do Benfica espelhem corretamente tudo o que se passou. Não digo que não, afinal há muitas formas de registar contabilisticamente as operações dentro da legalidade. Mas a administração da SAD do Benfica andou a brincar com a CMVM e, mais grave do que isso, vendendo ilusões aos benfiquistas. Muitos quiseram acreditar nisso, outros nem tanto. Mas fica a dúvida de quantas outras ilusões foram impingidas durante os 10 anos da presidência de LFV. É que quem faz uma...

"4", diz a criança de 6 anos; "algures entre 3,99 e 4,01", diz o físico quantico; "quanto é que quer que dê?", pergunta o contabilista