segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Comparar o incomparável?

Agora que Cristiano Ronaldo superou o número de golos de Eusébio na seleção portuguesa, parece relançado o debate sobre quem será o melhor jogador português de sempre. Uma questão que, na minha opinião, para já tem que ficar sem resposta.

Ninguém sabe o que valeria Eusébio se fosse jogador de futebol hoje. Nem ninguém sabe o valeria Cristiano Ronaldo se fosse jogador nos anos 60. 

Quem defende Eusébio diz que Cristiano Ronaldo só é o que é porque tem muito melhores condições de treino para se tornar o jogador portentoso que todos conhecemos. Mas também os adversários de Ronaldo têm melhores condições, e todos eles (com exceção de um) estão num patamar abaixo. Também dizem que Eusébio tem melhor média de golos na seleção, o que é uma falsa questão pois nos dias de hoje as equipas estão muito melhor preparadas para anular os ataques adversários do que nos anos 60 (seja por haver uma cultura tática muito superior, ou um muito melhor conhecimento dos jogadores adversários, já que não há nenhum jogo que não tenha transmissão televisiva acessível a qualquer pessoa no mundo).

Para os que defendem Cristiano Ronaldo, o argumento de já marcou mais golos que Eusébio será suficiente. Na minha opinião não, já que não só teve muito mais jogos como adversários mais fracos para os marcar. Não sei quantos jogos Eusébio teve oportunidade de fazer contra Luxemburgo, São Marino ou Liechtenstein, mas terão sido certamente em percentagem inferior. Também o argumento da carreira internacional de Ronaldo não pega, porque cortaram as pernas a Eusébio para mostrar o que poderia fazer num clube noutro país. E a questão do ícone mundial não só não conta para quem joga à bola (senão Beckham seria o melhor jogador de sempre) como a globalização de hoje em dia endeusa qualquer pessoa que caia nas boas graças do público. Ronaldo tem uma Bola de Ouro, mas esse prémio não existia nos anos 60.

Há mais argumentos que podem ser utilizados por ambos os lados, mas todos eles podem ser rebatidos.

Quem costuma seguir a NBA sabe que Lebron James é indiscutivelmente o melhor jogador de basquetebol do mundo. Está um nível acima de qualquer outro jogador, e o talento na NBA é abundante. Há muitas comparações que fazem com Michael Jordan, considerado o melhor de sempre. Quando fazem a pergunta a outras lendas do basket sobre quem é o melhor, a resposta quase unânime é Michael Jordan. E complementam com "Quando Lebron ganhar 6 títulos da NBA podemos reconsiderar esta posição".

E é esta a minha opinião também. Quer Eusébio quer Ronaldo são jogadores dominantes da sua época (com as facilidades e dificuldades que todos os jogadores seus contemporâneos tinham que enfrentar). São ícones do futebol, inesquecíveis para quem teve o privilégio de os ver jogar. E do ponto de vista de títulos, até ver estão mais ou menos iguais.

Eusébio ganhou uma Taça dos Campeões Europeus pelo Benfica (a 2ª, nunca chegou a jogar para a 1ª). Ronaldo ganhou uma Liga dos Campeões pelo Manchester United. Ambos venceram campeonatos nacionais (mais Eusébio, mas só em Portugal). Ambos levaram a seleção a uma meia-final de uma competição internacional (Eusébio no Mundial '66 e Ronaldo no Euro 2010 -- a seleção de 2004 e 2006 era liderada por Figo, que tinha uma equipa fortíssima consigo - Rui Costa, Cristiano Ronaldo, Deco, Ricardo Carvalho, a defesa e meio campo do Porto campeão europeu).

Por isso até ver, coloco Eusébio, Ronaldo e Figo na equação do melhor jogador português de sempre. Figo marca menos golos porque não é avançado, mas não era menos brilhante que qualquer outro jogador português da história. Deixemos Ronaldo continuar a fazer o que sabe, e daqui a uns anos se calhar teremos argumentos para o considerar o nº 1. E, já agora, aproveitem. Há-de tardar que apareça outro como ele.