quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Sporting, candidaturas e ilusões

O Record, provavelmente irritado pelo facto de os dirigentes, treinador, a generalidade dos jogadores, sócios e adeptos do Sporting não assumirem qualquer candidatura ao título, decidiu fazer uma capa à prova de míopes.


Não acredito que haja algum sportinguista que esteja insatisfeito com a carreira da equipa até agora, mas estamos todos conscientes que é uma asneira classificar o Sporting como um candidato ao título. Não tanto pela pressão que se coloca na equipa (são todos adultos, profissionais e acompanhados por uma estrutura que saberá incutir a importância de pensar jogo a jogo), mas pelo facto de o Sporting não ter objetivamente as mesmas condições de que Porto e Benfica dispõem.

O Porto, todos sabemos, é uma equipa habituada a ganhar. Quando chegam os momentos decisivos nas competições nacionais não costuma tremer. Tem um conjunto de jogadores excelente, apesar de o plantel ser curto ao nível de extremos. Tem Jackson. E tem, no mínimo, o respeitinho disciplinado de uma série de agentes desportivos sempre prontos a fazer um jeitinho quando a situação assim o exige.

O Benfica tem dinheiro. Não sei se o dinheiro é do Benfica, dos bancos, de algum mecenas, mas uma equipa que gasta milhões em contratações para reforçar setores que já eram fortíssimos, tem claramente vantagem sobre quem anda a contar os tostões num ano de forte redução orçamental. O talento está lá, os conhecimentos do treinador são indiscutíveis, pelo que deve ser uma questão de tempo para que o rendimento da equipa comece a melhorar, se lhes derem condições para isso. E Luís Filipe Vieira não é um novato nas movimentações de bastidores, tendo um nível de influência que não pode ser desprezado.

O Sporting tem um plantel composto por jogadores que não estão habituados a ganhar títulos. O Sporting não tem dinheiro. O desempenho tem superado todas as expetativas dos seus adeptos, mas não sabemos ainda como vai a equipa comportar-se em situações adversas. Lesões prolongadas, expulsões e suspensões a la carte, abaixamento de forma de peças fundamentais, ainda se está para ver se a profundidade do plantel conseguirá manter a equipa com hipóteses reais de vencer todos os jogos que disputa.

O que o Sporting tem é uma indiscutível força de vontade de inverter um passado recente desastroso. Um presidente que coloca os interesses do clube acima de negociatas e do orgulho pessoal. Uma estrutura dirigente que fala a uma voz, trabalhando de forma discreta e eficaz. Um treinador experimentado, competente e pragmático, que monta uma equipa de forma a aproveitar da melhor forma os recursos que tem à sua disposição. Jogadores que não são vedetas, que demonstram união, solidariedade, e uma enorme disponibilidade e disciplina para procurar vencer um jogo a seguir ao outro. E adeptos pacientes, apaixonados, gratos por poderem ver de novo em campo gente com vontade de representar o clube, que se revêm na cultura que tem vindo a ser incutida nos últimos meses.

O Sporting tem muito, muito mais do que tinha no ano passado. Mas o que tem não substitui o dinheiro, a experiência, as influências de bastidores. Este ano, com este plantel, o Sporting pode ambicionar ganhar jogo a jogo, mas para ambicionar ganhar este campeonato implica que o Porto e Benfica não cumpram os requisitos mínimos que se lhes exige.

E se, como a maior parte dos jornalistas, comentadores e paineleiros não se tem cansado de dizer, o surgimento do Sporting é mais visível devido aos fracos desempenhos de Porto e Benfica, então não faz sentido considerar o Sporting candidato como os outros. Um clube é candidato independentemente do estado dos outros. Um clube não se torna candidato só porque os outros estão uns furos abaixo do que se esperava.

Logo, capas como esta do Record só servem para criar ilusões e gerar expetativas pouco realistas. Expetativas que, da mesma forma artificial se elevam, rapidamente ruirão para profundidades abismais às primeiras contrariedades. O presidente e o treinador do Sporting nunca venderam ilusões aos sportinguistas. É pena que o Record não tenha os mesmos escrúpulos.