quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Momento "Mas o meu pai é mais grande do que o teu", por Eládio Paramés

No princípio do programa Contragolpe, após mostrarem as declarações de Leonardo Jardim no final do Guimarães - Sporting, tivemos o seguinte diálogo entre o moderador Sousa Martins e o comentador residente Eládio Paramés.

Sousa Martins: Ora cá está uma bela deixa para tema de conversa, as declarações de Leonardo Jardim, quando diz que o Sporting não é candidato ao título. Isto porque, diz o técnico do Sporting, o clube não tem estrutura. Percebes isto, Eládio?, boa noite.

Eládio Paramés: Boa noite. Percebo, é um discurso que parece que houve uma inflexão, que houve uma alteração relativamente ao último discurso de Leonardo Jardim. Gostei deste discurso, voltou àquela forma inicial, aquele discurso inicial do Sporting. Esta história da estrutura não me parece que seja nenhum recado, quer dizer, é a constatação de um facto.

Sousa Martins: Mas ó Eládio, o que é que falta à estrutura do Sporting? A questão é, não sendo o Sporting tão candidato como são Porto e Benfica, dado o investimento, dada a qualidade do plantel, dado aquilo que foi gasto em reforços, o Sporting não pode ter uma ponta de aspiração de chegar em primeiro lugar?

Eládio Paramés: Pode, pode ter, mas estamos no primeiro terço do campeonato, ainda há muitos jogos, ainda há muita coisa, vamos ver o que é que vai acontecer, mas dou-te um elemento, uma coisa curiosa: falou-se muito sempre na formação do Sporting, a grande formação do Sporting e a formação do Sporting e a formação do Sporting. Neste momento, por exemplo, nas seleções jovens há mais jogadores se calhar do Benfica do que do Sporting. Por exemplo, nos sub-21 é capaz de haver jogadores muito mais determinantes, oriundos da formação do Benfica, que do Sporting. E além disso, sabemos todos, os problemas que existem, as dificuldades financeiras, as dificuldades económicas do próprio Sporting, portanto quando ele fala na estrutura eu julgo que se refere a um mundo muito mais vasto, uma coisa interna que é conhecida, pelo menos em termos públicos, aquilo que tem vindo a público. Não me parece nenhum recado, não me parece nenhum recado como eventualmente pode surgir, ou na mente de alguns, mas não me parece um recado.


A argumentação de Paramés

Eládio Paramés teve, portanto, duas coisas a dizer em relação ao discurso de Leonardo Jardim. A primeira é que a referência à estrutura que LJ fez não é um recado para ninguém. A segunda é que, para Eládio Paramés, o principal exemplo que lhe ocorreu mencionar sobre a falta de estrutura do Sporting é a superioridade do Benfica em termos da formação.

Apanhando a embalagem da excelente vitória dos sub-21 em Israel, em que Portugal venceu por 4-3 em que 3 dos golos foram marcados por Ivan Cavaleiro, Bernardo Silva e André Gomes, e em que o outro foi marcado a partir de uma deliciosa jogada de Bernardo Silva, Eládio Paramés suporta o seu discurso argumentando que Leonardo Jardim não se considera candidato ao título porque a formação do Benfica é superior à do Sporting.

Bom, para além de ser uma argumentação sem pés nem cabeça, porque não tem nada a ver com o que Leonardo Jardim disse, dizer que "nos sub-21 é capaz de haver jogadores muito mais determinantes oriundos da formação do Benfica" é falar as coisas pela metade. Sim, é verdade que naquele jogo as figuras principais foram da formação do Benfica. Sim, a formação do Benfica forneceu José Sá (que foi dispensado para o Marítimo), Luís Martins (que foi dispensado para o Gil Vicente), André Gomes, Bernardo Silva e Ivan Cavaleiro.

Por acaso a formação do Sporting, naquele jogo, até tinha Ricardo Esgaio, Tiago Ilori, João Mário, Betinho e, se quiseremos ser preciosistas, Ricardo Pereira.

Eládio Paramés também se terá esquecido que Bruma e William Carvalho não jogaram pelos sub-21 porque estavam convocados para uns jogos de cariz lúdico contra uma determinada seleção escandinava. Por acaso William até foi utilizado num desses jogos.

Mais uma vez, temos um comentador a sentir-se na necessidade de se pôr nos bicos dos pés para declarar o fim da superioridade da formação do Sporting sobre as restantes equipas nacionais. Ainda por cima num contexto que não tinha qualquer ligação com a formação, o que demonstra que Paramés estava em pulgas para o fazer. Ou isso, ou estamos perante uma criança que à falta de argumentos para contrapor ao outro miúdo com quem está a discutir, vem com o clássico "Mas o meu pai é mais grande do que o teu" para terminar a conversa.


A postura de Paramés

Eládio Paramés tem uma postura curiosa no programa "Contragolpe". Quando fala do Benfica, fá-lo na terceira pessoa: "O Benfica isto, o Benfica aquilo.". Quando fala no Braga, fá-lo na primeira pessoa: "Nós isto, nós aquilo.". Eládio Paramés já foi diretor da SAD do Braga, pelo que se justifica o sentimento de posse que demonstra ao falar do clube minhoto.

No entanto, esta atitude do comentador não me parece justa para o Benfica, que se deverá sentir como um enteado nesta relação entre Eládio e os dois clubes da sua vida. É que Eládio foi o acessor de imprensa do Benfica durante a presidência de Vale e Azevedo.

Aliás, Eládio, ex-jornalista do jornal A Bola, parecia sentir-se tão à vontade no papel de acessor de imprensa do Benfica, que até nos proporcionou momentos dignos de Rui Cerqueira, como este em que agrediu o jornalista da RTP Noé Monteiro durante um estágio do Benfica em França.



Eládio deve ter ficado tão traumatizado por ter feito parte de pior presidência de um clube na história portuguesa, que agora renega publicamente o seu benfiquismo. Quer dizer, para ser mais rigoroso, apenas deixou de se assumir como benfiquista, que é uma coisa diferente. Típica de gente com consciência pesada.