quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Pedro Adão e Silva e a espinha dorsal da seleção

Pedro Adão e Silva é um político do PS que nos tempos livres aproveita para amealhar mais uns cobres fazendo uma perninha no Record, onde tem uma rubrica semanal para escrever sobre o seu Benfica.

Recentemente brindou-nos com um texto intitulado "A espinha dorsal", onde faz considerações sobre uma antiga promessa de Luís Filipe Vieira em como o Benfica teria, passados alguns anos, a espinha dorsal da seleção. A validade dessa promessa já expirou há bastante tempo, e como sabemos a aposta do Benfica em jogadores portugueses é o que é. 

O facto de Ivan Cavaleiro ter tido 4 ou 5 oportunidades para jogar num curto espaço de tempo é ainda uma anormalidade estatística, pois é provável que, quando Djuricic, Markovic, Sulejmani, Gaitan, Sálvio, Ola John, Rodrigo ou Lima estiverem num apuro de forma mais condizente com a sua reputação, o jovem português seja recambiado para as convocatórias da equipa B. A não ser, claro, que desate a marcar golos e a fazer assistências nas oportunidades que entretanto lhe forem dadas, coisa que até agora ainda não aconteceu.

Mas, voltando a Pedro Adão e Silva, achei extraordinária esta sua crónica. Permitam-me partilhar convosco alguns momentos do texto.
Sabem que mais? Ora aqui está o caso de uma promessa que podemos agradecer nunca ter sido cumprida e, aliás, a crer em declarações recentes do presidente já não faz parte dos objetivos estratégicos – “o Benfica não irá ser uma equipa de portugueses no futuro, porque o futebol é global”. Se, por absurdo, o Benfica tivesse hoje a espinha dorsal da Seleção Nacional, teríamos uma equipa pouco competitiva e incapaz de gerar mais-valias financeiras.
Ao contrário do que tem sido dito, a classificação e as exibições de Portugal na qualificação para o Mundial não surpreendem. O que foi surpreendente foi a campanha no último Europeu. A Seleção é hoje composta por um jogador de eleição (Ronaldo) acompanhado por dois de classe mundial (Moutinho e Pepe) e dois acima da média (Coentrão e Patrício); depois sobra uma mão-cheia de jogadores entre o mediano e o sofrível. Fazer diferente seria surpreendente.
Agora imagine-se uma equipa do Benfica à imagem da Seleção. Tendo em conta que Ronaldo, Moutinho e Pepe nunca estariam, nesta fase da carreira, ao alcance financeiro de um clube português, por esta altura, estaríamos condenados a jogar com João Pereira, Meireles, Miguel, Micael e no ataque divididos entre Hélder Postiga e Hugo Almeida. Penso que estamos conversados quanto à espinha dorsal.

Portanto, Pedro Adão e Silva não quer ter a espinha dorsal da seleção porque o nível médio dos internacionais que jogam por Portugal deixa muito a desejar.

A mim parece-me que revela apenas que Pedro Adão e Silva tem a vista um pouco curta. Se o Benfica apostasse consistentemente em jogadores portugueses na sua equipa principal, será que não contribuiria para o aumento da qualidade dos jogadores disponíveis para a seleção? É que neste momento, dos jogadores habitualmente titulares, apenas João Pereira veio da formação do Benfica. João Pereira, que por acaso até foi despachado do Benfica há 8 anos para o Gil Vicente. De resto o Benfica apenas contribuiu com a descoberta de Fábio Coentrão como lateral esquerdo, apesar de ter sido formado pelo Rio Ave.

Se nos últimos 10 anos o Benfica tivesse apostado, vá, em 5 jogadores portugueses da sua formação de forma insistente, de certeza que teria contribuído para o alargamento do leque de jogadores com categoria internacional a jogar por Portugal. Talvez até fosse o suficiente para não termos que andar sempre a disputar playoffs de acesso às finais de europeus e mundiais. E aí talvez Pedro Adão e Silva tivesse orgulho em ter jogadores que formassem a espinha dorsal da seleção.

Preocupa-me ter políticos com esta forma de ver o mundo. Imaginem que o PS ganha as próximas eleições e que Pedro Adão e Silva é nomeado secretário de estado ou ministro na área da educação ou da justiça. Seguindo o mesmo raciocínio, Pedro Adão e Silva deverá pensar que não vale a pena que as universidades públicas tenham cursos de direito de qualidade porque, afinal, sendo o nosso sistema judicial uma vergonha, esse investimento acabaria por ser um desperdício de recursos.

É preferível que Pedro Adão e Silva limite os seus bitaites às tricas partidárias que têm arruinado Portugal, e que deixe em paz o futebol, que sempre nos vai dando algum destaque internacional pela positiva. De políticos idiotas que falam muito mas que nunca resolvem nada está o país cheio.