sábado, 21 de dezembro de 2013

A teoria da pressão

Na caixa de comentários, a leitora Marisa chamou-me a atenção para este artigo de opinião publicado no Record, que me parece extraordinário. Com a devida vénia ao autor (e também à Marisa por me ter dado a conhecer o artigo), vou colocar aqui as partes mais interessantes.

"Há uma nova teoria no futebol português. Consiste em demonstrar que a pressão sobre a equipa que vai à frente do campeonato é superior, muito superior, à pressão a que estão submetidas as equipas que a perseguem. A formulação rigorosa e científica desta teoria ainda está por fazer. Podemos admitir, no entanto, que ela venha a concretizar uma adaptação moderna do princípio de Arquimedes, a saber: a pressão exercida sobre o corpo que está em cima é inversamente proporcional à exercida sobre os corpos imediatamente abaixo. Ao teórico que formule a teoria definitiva está assegurado um lugar na história da idiotice universal.
(...)
Ao que se percebe deste conceito a pressão que é exercida sobre o Sporting obriga-o a vencer todos os jogos até ao final do campeonato. Mas não exige aos seus perseguidores que façam o mesmo. Para ganhar o campeonato só quem vai à frente é que tem de vencer tudo. Quem está atrás até pode perder ou empatar que, por qualquer milagre ainda não revelado, aproxima-se da frente, em vez de se distanciar. Em qualquer outra actividade, desportiva, política ou social, pede-se a quem está em segundo ou terceiro um esforço redobrado para passar o primeiro. Logo um aumento de pressão física e psicológica. No futebol português é ao contrário: esse esforço só é exigido a quem já está em primeiro. Trata-se de uma descoberta recente. Só aconteceu quando o Porto deixou de ser o líder. 
(...) 
É possível antecipar, no entanto, que os teóricos de serviço vão certamente concluir que a pressão só se exerce sobre o Sporting, esteja esta equipa em primeiro, ou em qualquer outro lugar.
(...) 
À luz desta teoria só o Sporting tem a obrigação de jogar sempre bem, ao ataque e esmagando os adversários. Os outros podem jogar mal, ganhar à tangente e beneficiar dos erros dos árbitros. Na realidade, o Sporting, como qualquer outra grande equipa, tem de atacar quando é de atacar e defender quando é de defender. E tem de continuar a jogar como até aqui: com segurança e espírito de vitória. Na certeza de que a nova teoria da pressão está a ser formulada para esconder quem verdadeiramente está sob pressão."

O texto é bastante longo, mas não foi colocado na íntegra por um único motivo: é que foi escrito em Abril de 2000, e as passagens omitidas referem-se a situações concretas da época de 1999/2000, que terminaria com o Sporting de Inácio a sagrar-se campeão. Mas o resto assenta que nem uma luva à realidade a que assistimos nos dias de hoje, quase 14 anos depois de ter sido escrito. Parece que há mesmo coisas que nunca mudam.

O artigo foi escrito por Luís Marques e pode ser lido aqui.