quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A venda de Matic

A venda de Matic tem que ser encarada com naturalidade. Não há condições em Portugal para termos equipas com orçamentos de 100 milhões sem que haja uma receita anual significativa proveniente da transferências de jogadores.

Excluindo as vendas de passes, a principal fonte de receitas dos clubes portugueses vem dos direitos de transmissão televisivos. No casos dos clubes grandes rende perto de €20M por ano. Depois existem as receitas da Liga dos Campeões. Só depois vêm outros elementos como a quotização e bilheteira, que têm um peso pouco significativo no orçamento dos clubes.

No caso concreto do Benfica, o resultado líquido da Benfica TV ficará certamente abaixo dos €20M. A participação na Liga dos Campeões terminou com uma eliminação prematura. Para além disso, e apesar de o Benfica registar a melhor média de assistências na Liga, o estádio está longe de ter a afluência que os seus responsáveis certamente esperariam. Tirando o jogo com o Porto, as assistências têm variado entre os 25.000 e os 37.000 espetadores.

Resta a venda de jogadores. Atendendo que o Benfica só vendeu Melgarejo no defeso, e não poupou nas contratações, é evidente que as contas teriam que estar extremamente desequilibradas. Era portanto inevitável que os credores fizessem pressão para o clube vender alguns jogadores.

Tudo isto é normal. Mas Vieira vai sair mal de toda esta história por dois motivos, que vou passar a descrever.


A miragem da Liga dos Campeões

Ao ser eliminado da principal competição europeia de clubes, o Benfica não só perdeu receitas significativas como perdeu valor de montra para muitos dos seus jogadores. Não me espanta, portanto, que Matic tenha pedido para sair. Gaitan também disse publicamente que quer experimentar novos campeonatos. Garay tem sido mais discreto, mas tem uma cláusula acessível para a maior parte dos grandes clubes europeus e certamente que quererá regressar a ligas mais competitivas.

Quando falamos de jogadores muito talentosos, é assim que as coisas são. Por muito que custe aos seus adeptos, o Benfica não é mais do que um ponto de passagem para clubes mais mediáticos, tal como o são Porto e Sporting.

Vieira apostou as fichas todas ao segurar os jogadores com promessas de uma grande campanha na Liga dos Campeões. Seria bom para os jogadores, que se valorizariam, e para o clube. Mas perdeu a aposta, e agora tem que desmantelar a equipa a meio da temporada. Não só por pressão da banca, mas também dos jogadores a quem foi negada no verão a oportunidade de se transferirem para paragens mais apetecíveis.


Um jogador só vale aquilo que oferecerem por ele

Declarações como esta...


... ou esta...


... preencheram o imaginário benfiquista durante meses. 

A primeira declaração (de Matic sair apenas pelo valor da cláusula) ainda se compreende, por ter sido proferida com o mercado de transferências aberto. Mas a segunda (a dos €130M) foi feita no final de Setembro, com a janela de transferências fechada, não sendo mais que uma forma de vender ilusões aos benfiquistas.

Não há, como é evidente, 3 ou 4 jogadores no Benfica que valham €130M. Basta ver que a estrela do plantel sai agora por €25M. Note-se no entanto que acho que é uma excelente venda. É muito dinheiro. O problema está nas elevadíssimas expetativas que Vieira criou e que agora se estão a desfazer. 

A não ser, claro, que apareça mais um milionário russo disposto a pagar uma fortuna por jogadores que não se importem de ser desterrados para as bandas da Sibéria. É esse dinheiro de origens nebulosas que tem sido tão amigo do Porto no passado, e que daria um jeitaço para que Vieira possa não perder a face.