terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Comparações infelizes de Miguel Sousa Tavares

Miguel Sousa Tavares, na sua página de opinião no jornal A Bola, escreveu o seguinte:

Não vou discutir mais uma vez o Apito Dourado, agora com o Eduardo Barroso. (...) Repito que o Apito Dourado foi investigado e julgado por 17 magistrados judiciais e do Ministério Público e apenas um magistrado do MP, obrigado a tal pela Dr.ª Maria José Morgado, se atreveu a deduzir acusação, escudado no precioso testemunho da D. Carolina Salgado, e tendo recebido do tribunal uma sentença tão devastadora e humilhante que eu recomendo vivamente ao Eduardo Barroso que a leia (...)
Não, eu não ouvi as escutas - estas ou quaisquer outras, porque sei bem do que se trata e como se usam. Quer saber se eu acredito que a "fruta" não eram meninas para o árbitro? Não, não acredito. Mas sei (note: sei) que todos os clubes faziam isso com todos os árbitros que o pediam. O que a justiça, desportiva e judicial, teria de provar era a existência de um nexo de causalidade entre isso e um resultado de um jogo - e foi isso que não foi capaz de fazer. (...)
Em matéria de certezas, o que sei é que houve um clube cujo vice-presidente foi apanhado a transferir dinheiro para a conta de um árbitro que iria dirigir um jogo seu e sem conhecimento deste, a fim de depois, não gostando da arbitragem, o clube poder vir dizer que o árbitro fora comprado. Aconteceu há dois atrás e com o Sporting. (...) Dir-me-á o Eduardo Barroso que o Sporting não pode ser responsabilizado pela actuação de um seu dirigente. Não? Não era disso que se tratava no Apito Dourado?

Há muito para dizer sobre este comentário de Miguel Sousa Tavares. Começo pelo que me é mais incómodo.

Sou o primeiro a reconhecer que Paulo Pereira Cristóvão cometeu um ato indigno de um dirigente do Sporting, que não pode ser tolerado. No entanto, MST enganou-se. A ideia de Cristóvão não passava por acusar o fiscal-de-linha no caso de a arbitragem não lhe agradar. A ideia era afastar o fiscal-de-linha do jogo com o Marítimo. A prova de que era essa a ideia é que o Sporting entregou uma denúncia à FPF de suspeitas de corrupção nas vésperas do Sporting - Marítimo. Não deixa de ser lamentável, mas são coisas completamente diferentes.

Em termos de gravidade, diria que procurar impedir que um fiscal-de-linha esteja presente num determinado jogo fica a milhas da rede de corrupção e de tráfico de influências que o Porto montou para benefício próprio e direto (ou para prejudicar rivais) em variadíssimos jogos das mais diversas competições.

MST diz que não ouviu as escutas, mas devia. Talvez ganhasse um pingo de vergonha por ter dirigentes daqueles à frente dos destinos do seu clube. 

Diz que acredita que a fruta são meninas oferecidas aos árbitros, mas defende-se dizendo que todos os clubes o fazem, como se isso fosse desculpa para alguma coisa. E recusa uma relação de causa / efeito com os resultados desportivos. Prefere viver num permanente estado de negação, e fazer de conta que a fruta e café com leite oferecidos aos árbitros não passavam de uma colaboração bem intencionada de toda a estrutura portista para angariar clientes para os estabelecimentos noturnos do seu colega e amigo Reinaldo Teles. Com fins puramente comerciais, claro. 

Voltando à infeliz comparação que MST fez, termino com uma constatação de factos. Não sei se se apercebeu, mas foi uma questão de semanas para que Paulo Pereira Cristóvão fosse afastado da direção do Sporting a partir do momento em que se descobriram os seus atos. Nem poderia ser de outra forma, os sócios do Sporting nunca admitiriam que continuasse em funções.

Pinto da Costa (e os seus homens de confiança) continuam incontestavelmente na liderança do clube para deleite dos sócios e adeptos portistas. O resto é conversa.