domingo, 12 de janeiro de 2014

Empate por afogamento

A noite começou mal ainda antes do pontapé de saída. Não gostei de ouvir os assobios durante o minuto de silêncio. É certo que se tratou de uma minoria de pessoas mas é o suficiente para estragar aquilo que deve ser um momento de reflexão e de pesar. Têm direito a não gostar de Eusébio, mas no mínimo deviam respeitar a dor da família. Se calhar agora é que lhes demos um motivo válido para não gostarem de nós.

Não há muito a dizer em relação ao jogo. Estiveram duas equipas que procuraram que o adversário não tivesse espaço para construir, provocando congestionamentos humanos no campo onde quer que a bola estivesse, oferecendo-nos um jogo intenso mas pouco emotivo. Houve um total de duas oportunidades para o Estoril (um remate à barra e um lance em que tiveram um jogador isolado mas que rematou para fora) e três para o Sporting (remate de Wilson, outro remate de Adrien à entrada da área que devia ter saído com melhor colocação, e o remate de Rojo) o que é francamente escasso para aquilo que se esperava destas duas equipas.

O Sporting dominou apenas os últimos 25 minutos a partir da entrada em campo de Capel e Slimani. Capel esteve apagado, mas o argelino mostrou mais uma vez que tem uma presença que impõe muito respeito às equipas adversárias. Mané entrou bem no jogo e talvez se justificasse a sua entrada um pouco mais cedo, pois só acabou por ter dez minutos para procurar agitar o jogo.

William fez uma grande exibição, mais uma vez. Rui Patrício teve pouco trabalho, mas esteve em grande nível sempre que foi chamado a intervir. A defesa esteve toda ela muito concentrada, com destaque para Cédric, que está cada vez mais a mostrar-se como um grande jogador. Neste momento, na minha opinião, é o melhor defesa-direito a jogar em Portugal, a par com Danilo. Muito forte a atacar, cruza quase sempre bem, disputa cada bola como se fosse a última, e está cada vez mais certinho a defender. E revelou uma grande maturidade -- estando condicionado com um amarelo logo aos 16', percebeu que tinha que ter um cuidado extra nos contactos com outros jogadores.


Falta falar de Proença. Os jornais e os comentadores irão certamente desfazer-se em elogios à sua atuação, já que esteve bem nos dois lances mais polémicos (Filipe Gonçalves parece tocar na bola apenas com o peito, e o contacto sobre Montero não me pareceu suficientemente forte para ser penalty). Mas no resto foi o árbitro irritante que nos habituámos a ver pavonear-se nos relvados. 

O amarelo mostrado a Cédric aos 16' é aberrante, e vem na linha do estilo proencista -- condicionar desde cedo os jogadores da equipa com que não simpatiza, para terminar o servicinho à primeira oportunidade que tiver na 2ª parte do jogo. Felizmente Cédric não lhe deu motivos para isso. O amarelo a Montero é absurdo, pois limitou-se a afastar um adversário que estava a agir de forma completamente desajustada. Proença também esticou para além do razoável o tempo para decidir dar ou não a lei da vantagem. A poucos minutos do fim não deixou Cédric cobrar um livre porque a bola estava 10cm mais para a esquerda do que devia. Permitiu várias entradas duras dos jogadores do Estoril (nomeadamente uma sobre André Martins) sem mostrar qualquer amarelo. Nos livres, parecia que andava a dar aulas de linguagem gestual aos jogadores. 

Mas o que fica para a história é um justo empate a zero, que demonstra mais uma vez a solidez defensiva do Sporting, mas também que também mostra que a inspiração dos nossos construtores de jogo e dos nossos finalizadores já conheceu dias mais risonhos. Esperemos que essa inspiração volte depressa.

No fundo, este jogo fez-me lembrar um empate por afogamento do rei no xadrez. A ocupação dos espaços pelas peças é tal, que o Rei não tem possibilidade de fazer qualquer movimento que não o coloque em cheque.