sábado, 4 de janeiro de 2014

Os regimes democráticos faz-de-conta

Fernando Gomes, o atual presidente da FPF, teve uma ascensão ao poder curiosa.

Após anos como diretor do Porto, decidiu candidatar-se a presidente da Liga. Curiosamente, não teve o apoio de Pinto da Costa. O presidente do Porto explicou numa entrevista à RTP que não apoiou ninguém porque o incomodava que dissessem que tinha influência na Liga. E, de facto, o Porto não votou nessas eleições na Liga. Tal como o Braga, curiosamente. O dano causado por essas abstenções a Fernando Gomes não foi grande, já que se tratava do único candidato que foi a votos.

Mais tarde, Fernando Gomes candidatou-se às eleições de Dezembro de 2011 para a presidência da FPF. Mais uma vez, sem o apoio formal de Pinto da Costa ou da AF Porto, liderada por Lourenço Pinto. Na altura falava-se também na possibilidade de Fernando Seara ou Filipe Soares Franco serem candidatos à presidência da FPF. 

Em 8 de Setembro de 2011, Filipe Soares Franco anunciou mesmo a sua candidatura. Poucas horas depois, os clubes da II Liga avançaram com um movimento para atribuir os votos a Fernando Gomes, matando à nascença qualquer hipótese de vitória de Soares Franco, que viria a abandonar a corrida eleitoral um mês depois.

Acabou por aparecer no final de Outubro a candidatura de Carlos Marta. Diz-se que foi Lourenço Pinto que o convenceu a avançar. Bastante conveniente. É que como os Conselhos de Justiça, Disciplina e Arbitragem são formados em função do método de Hondt, quanto mais forem as listas amigas, mais fácil será ocupar os lugares que mais interessam. E como Carlos Marta chamou nomes mais abrangentes como Fernando Seara e Toni para a sua lista, acabou por esmagar definitivamente o espaço que uma eventual terceira lista, hostil ao Porto, ainda poderia conseguir.

Outra curiosidade: Carlos Marta apresentou listas para a direção da FPF, para a Assembleia-Geral, para o Conselho de Disciplina e para o Conselho de Justiça, mas preferiu não apresentar uma lista ao Conselho de Arbitragem, optando optou por apoiar a lista da APAF. Um candidato que não apresenta nomes para o órgão de poder mais desejado não pode ser considerado mais do que um fantoche.

E assim, para o Conselho de Arbitragem, acabaram por ir a votos duas listas do sistema:
  • a de Fernando Gomes, com Vítor Pereira, Antonino Silva, Carlos Carvalho e Domingos Gomes
  • a da APAF, apoiada por Carlos Marta, com Luís Guilherme, Paulo Costa e Lucílio Baptista 

Só por curiosidade, em quem votou a AF Porto? Não se sabe, porque os votos são secretos.

Daí não surpreender que o resultado das eleições tenha acabado naquilo que o Jornal Sporting apresentou na edição da semana passada.

in Jornal Sporting

Antes da alteração de estatutos de Março de 2011 que impôs o método de Hondt na distribuição de lugares do Conselho de Arbitragem, a lista que vencesse ficaria com os 12 cargos. Com o método de Hondt, fica praticamente garantido à partida que o Porto continua a ser a força dominante, porque torna impossível o aparecimento de uma terceira lista, hostil a Pinto da Costa, que consiga uma vantagem eleitoral suficiente sobre as restantes para conseguir uma maioria absoluta.

E assim temos o Porto mais uma vez a controlar as nomeações da arbitragem profissional, as nomeações da arbitragem não-profissional, e a estrutura responsável pelas classificações dos árbitros.

É interessante no entanto que coloquem Vítor Pereira a liderar o CA. Parece que as aparências ainda são importantes para esta malta. Na Coreia do Norte, sempre que inauguram estátuas dos queridos líderes também fazem questão de dizer que foi o povo que tomou a iniciativa de as oferecer.