quarta-feira, 12 de março de 2014

Um case-study de cobardia

Há uns meses, por altura do início da temporada de 2013/14, o Conselho de Arbitragem estabeleceu uma nova regra para as nomeações dos árbitros: estas seriam divulgadas a conta-gotas, o mais perto possível da data das partidas, supostamente como forma de reduzir a pressão a que os árbitros habitualmente são sujeitos nos dias que antecedem os jogos.

É uma regra que compreendo, mas que duvido que seja eficaz. Num CA composto por uma série de indivíduos colocados pelos clubes mais poderosos, tenho sérias dúvidas que os seus patronos não fiquem a conhecer o árbitro que lhes calhou em "sorte" poucos minutos após o final da reunião onde se tomaram essas decisões.

Eventualmente estes anúncios a conta-gotas poupam um pouco os árbitros da pressão do grande público, mas convenhamos que isso não deve ter qualquer influência. Não deve haver homens com ouvidos mais calejados para insultos e outros impropérios do que os árbitros de futebol. 

Na melhor das hipóteses talvez poupe os árbitros de alguma pressão proveniente dos holofotes dos media.

Mas a pressão que realmente conta, feita pelos clubes com contactos privilegiados e pelos homens que têm nas mãos as classificações dos árbitros, certamente que começa muito antes da divulgação pública das nomeações.

Mesmo assim, é extraordinário que o Conselho de Arbitragem tenha decidido mandar as nomeações para o próximo fim-de-semana todas cá para fora bastante mais cedo que o habitual, de uma só assentada.

Que finalidade terá esta mudança de comportamento do CA? Não me parece que seja uma resposta à conferência de imprensa de Bruno de Carvalho. O presidente do Sporting já protestou noutras ocasiões contra as arbitragens e os efeitos que teve no comportamento do CA foram nulos.

Terá sido por causa do destaque que a comunicação social deu à conferência de imprensa a Bruno de Carvalho? É que pela primeira vez os jornais deram um destaque minimamente aceitável à roubalheira que tem havido neste campeonato -- curiosamente quando o Benfica ficou com o campeonato no bolso e quando se aproxima um Sporting - Porto. Mas enfim, não vou armar-me em esquisito agora que os jornais fizeram o trabalho que lhes compete.

Confesso que não sei. O que sei é que Vítor Pereira e seus pares terão uma vida um pouco mais confortável nos dias que se seguirão, uma vez que transferiram a parcela de pressão que lhes cabia para Olegário Benquerença, que provavelmente será alvo de marcação cerrada não só pelos clientes do costume, mas também pela comunicação social, durante cinco longos dias. Quando chegar a hora do jogo já estará psicologicamente de rastos.

Que o mundo da arbitragem é composta por muita gente sem espinha e sem coragem para fazer o seu trabalho de forma isenta, já todos sabíamos. Ontem descobrimos que, no que toca à cobardia, os dirigentes máximos do setor conseguem estar bem acima daqueles que estão a comandar.