quinta-feira, 17 de abril de 2014

A arte do Guerra

Tendo um dia livre pela frente, na manhã da passada terça-feira decidi fazer algo que já não fazia há anos: comprar um jornal desportivo. Perante as três opções que tinha à minha frente, acabei por adquirir um exemplar de A Bola. Como leio o Record com alguma frequência (pois tenho quem me ceda os exemplares que compra), e partes de O Jogo (é possível ler as partes dedicadas ao Porto na internet), acabei por decidir ver como paravam as modas no jornal da Travessa da Queimada.

Tendo uma primeira página na linha do habitual (largo destaque dado ao Benfica), confesso que não estava à espera que o interior fosse distribuído de forma tão equilibrada: 5 páginas para o Benfica (2 das quais dedicadas à final perdida com o Barcelona), 3 para o Porto, e 4 para o Sporting. Depois seguiram-se várias páginas dedicadas a outros clubes e ao futebol internacional, uma página dedicada inteiramente à equipa de andebol do Sporting, e mais algumas para outras modalidades.

Estava, portanto, com as defesas em baixo quando entrei na secção das opiniões. Erro meu. Desprevenido, coloquei os meus olhos na página da direita e foi como se levasse violentamente com uma viga de metal em cheio numa das têmporas.

Não, não estou a falar de Miguel Sousa Tavares, que ocupa a página esquerda da secção de opiniões. Sabemos que dá a sua opinião enquanto adepto, pelo que há alguma margem para lhe tolerarmos muito dos excessos a que nos habituou. O autor da agressão intelectual a que fui sujeito foi Fernando Guerra, jornalista desportivo de A Bola, que decidiu presentear-nos com isto:



Fernando Guerra consegue, a partir do choro de jovens que perdem uma final, fazer uma extrapolação inacreditável para a mentalidade que Vieira quer incutir no Benfica e para o projeto que o presidente do Benfica tem para o clube. Parece-me uma forma forçada de tentar aproveitar um momento altamente emocional, ao qual ninguém fica insensível, virando os holofotes para Vieira.

É curioso: em qualquer final é normal vermos homens feitos a chorar que nem crianças de quatro anos a quem tiraram um doce, fruto da desilusão após meses de trabalho e semanas de expetativas criadas. Mas neste caso concreto o choro dos jovens benfiquistas é mais do que isso: é o novo Benfica! É sinal que as finais são para se ganhar! É resultado do trabalho árduo diário que o seu líder teima em consolidar.

Já era conhecida a promiscuidade que existia entre Fernando Guerra e a direção de Vieira. Diz-se que naquela famosa reunião de indignados após uma derrota em Guimarães que levaria o Benfica a decretar o boicote de adeptos aos jogos fora de casa, Fernando Guerra era um dos participantes.

Que Fernando Guerra tem lacunas graves ao nível da isenção, já se sabia, mas choca-me sempre ver um jornalista ser um veículo de propaganda ao serviço de uma figura que, tendo os seus méritos, está longe de ser um símbolo da competência, coerência e até da honestidade. E o pior é que não se trata de um caso único.