terça-feira, 8 de abril de 2014

Final agridoce na novela de Elias

                                                                                                                                             
Não sou fã de novelas. O principal motivo que me leva a não gostar de novelas é o facto de se tratar de um tipo de programa que, tendo uma história para contar, o faz num tempo irrazoavelmente prolongado que impede que mantenha um interesse constante. Os argumentistas são obrigados a criar personagens, acontecimentos, e diálogos que não têm nada de relevante a acrescentar à história, preenchendo os episódios com inúmeros momentos de encher chouriços que desafiam a paciência de pessoas como eu, que preferem formatos mais condensados.

A história das negociações da venda de Elias para o Flamengo e Corinthians foi, para todos os efeitos, uma autêntica novela. Teve demasiada gente a falar, com particular destaque para o pai e empresário do jogador, e uma interminável sequência de rumores e declarações que na prática não acrescentaram nada ao enredo e, no final, espremendo-se o conteúdo, pouco se aproveitou. Felizmente que os argumentistas reservaram uma surpresa ao escreverem um epílogo, que acabou por revelar uma reviravolta surpreendente naquilo que se julgava um final trágico, e Elias acabou mesmo por ir para longe de Alvalade.

A meu ver, há duas questões importantes nos números revelados pelo comunicado do Sporting à CMVM.

A primeira tem a ver com os €8M de salários que o Sporting poupará. O valor divulgado no comunicado da venda bate certo com notícias anteriores que davam o salário de Elias a rondar os €3M / ano, ao que provavelmente se terá que somar a verba que o Sporting tinha em atraso relativa aos direitos de imagem de épocas anteriores. O salário dos meses que faltam de 2013/14, mais os de 2014/15 e 2015/16 são um enorme peso que sai dos ombros de quem é responsável pelas finanças do clube. Na prática correspondem a 3 jogadores que poderão auferir perto do teto salarial do clube. Muito positivo.

A segunda questão tem a ver com os €4M que o Corinthians paga por 50% dos direitos económicos do jogador. Há dias, um outro comunicado do Sporting dizia que, à falta de acordo entre o clube comprador e o fundo QFIL, o Sporting teria que indemnizar o fundo em €3,85M. 

Parece-me fora de equação que a QFIL tenha abdicado dessa indemnização. É que a motivação dos fundos (à exceção daquele que comprou o passe de André Gomes) é ganhar dinheiro, e não perder, pelo que suponho que esses €4M irão seguir quase na totalidade para a QFIL -- a não ser que a transação tenha envolvido outros valores / passes de jogadores que para já não foram divulgados.

De qualquer forma, temos que ser realistas e perceber que seria impossível que algum clube alguma vez cobrisse os €8M por 100% do passe de um jogador encostado, em conflito com o clube, e com uma enorme vontade de regressar ao país de origem. Mesmo assim podia ter sido pior, pelo que o facto de se ter conseguido cobrir a indemnização que o fundo iria exigir já não é nada mau.

Por isso creio que não existam sportinguistas que considerem o final desta novela como feliz para o clube. Aconteceram demasiadas tragédias durante os três anos desta novela para que todos os males pudessem ser reparados no último episódio. Por isso, não podendo ficar feliz, sinto-me ao menos aliviado por ver que o clube se livrou do último peso morto de uma era para esquecer, que não só não contribuía em nada para o sucesso desportivo, como acima de tudo representava um empecilho financeiro para a evolução do nosso Sporting.