sábado, 31 de maio de 2014

Portugal - Grécia

O meu onze para daqui a pouco.                                                                                                
Depois de quase duas semanas de estágio com a maior parte dos jogadores, chegou a hora do primeiro jogo de preparação para a fase final do mundial. Espero que Paulo Bento não desperdice a oportunidade para começar a rotinar a equipa titular que tem na cabeça.

Não faz sentido estar a colocar segundas linhas contra a Grécia, quando todos sabemos que serão quase sempre os mesmos a jogar quando for mesmo a doer. Havendo apenas três jogos de preparação até ao jogo contra a Alemanha, convém aproveitar todas as oportunidades possíveis para afinar o entrosamento da equipa em geral, com especial enfoque nos jogadores com poucos minutos de competição, como Postiga e Nani.

Já é sabido que Ronaldo e Pepe não poderão jogar, pelo que me parece que serão dadas oportunidades a Neto e Varela. Fora isso, restam-me duas dúvidas: lateral esquerdo e médio defensivo.

Paulo Bento vai apostar já em Coentrão, apesar de ter chegado há poucos dias ao estágio? Na minha opinião devia apostar no jogador do Real Madrid, mas caso Bento considere que ainda não está nas condições ideais (apesar de Coentrão ter poucos jogos nas pernas esta época), faz sentido colocar André Almeida como titular. 

A outra dúvida que tenho é a de médio defensivo: continuará a apostar em Miguel Veloso, ou vai lançar William Carvalho? Não falando apenas como sportinguista, espero que William jogue. Portugal vai jogar contra três equipas muito físicas no mundial (Alemanha, Gana e EUA) e o jogador do Sporting acrescentaria alguns centímetros e músculo ao nosso meio-campo. Meireles e Moutinho têm muita raça, mas não conseguem crescer nem para cima nem para os lados. No entanto, como é de Paulo Bento que estamos a falar, deverá ser mesmo Veloso a ser utilizado.

O meu onze para hoje seria este:



Na segunda parte pode ir aproveitando para dar alguns minutos a outros jogadores: Vieirinha em primeiro lugar (cheira-me que poderá fazer falta no mundial), e depois em Beto, André Almeida, Ricardo Costa, Veloso, Rúben Amorim, e Hugo Almeida ou Eder.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

A preocupação de Vieira com o passivo do Sporting

Quando Luís Filipe Vieira fez referência ao facto de o passivo do Benfica não ser o maior de Portugal, só podia estar a referir-se ao Sporting. É fácil concluir isso por exclusão de partes, pois o Porto tem apresentado contas consolidadas e o passivo é significativamente inferior ao do Benfica.

No caso do Sporting, as contas apresentadas referentes ao 1º semestre de 2013/14 não são consolidadas, dizem respeito apenas à SAD. Em relação à Sporting Património e Marketing, empresa detentora do estádio e responsável pelos empréstimos bancários associados à sua construção, as últimas contas referem-se ao exercício de 2012/13:


Contas preocupantes que, somadas às contas mais recentes da SAD do Sporting, apontam para números assustadores mas ainda abaixo do passivo do Benfica. Para além disso, há uma parcela de cerca de €20M do passivo da SPM que se referem a dívidas a outras empresas do grupo, o que significa que desapareceriam num cenário de contas consolidadas.

Aparentemente, quando Vieira falar no passivo do Sporting como o maior dos clubes portugueses, saberá de mais alguma coisa que ainda não é do conhecimento público -- conforme escreveu ontem Pedro Santos Guerreiro no Record:
"A questão é simples e é complexa. O Benfica consolida todo o seu passivo na SAD, o Sporting não. Por isso, quando se olha para o passivo de 450 milhões de euros da Benfica SAD, está a ver-se o perímetro completo da SAD e clube. Já quando se vê o passivo da Sporting SAD não se está a ver a totalidade do clube. Ora, e esta é a novidade, os auditores do Sporting escreveram uma reserva no relatório às contas segundo a qual, além do passivo do clube de cerca de 210 milhões, há mais quase 300 milhões de passivo. Este relatório de auditoria não é ainda público mas os valores circulam junto de várias fontes do sistema financeiro. Era certamente a este valor que Vieira estaria a referir-se: a dívida do Sporting (clube) somará, neste caso, quase 500 milhões. Sendo assim, é superior à do Benfica."

Se estes €300M se tratam de rumores ou se têm um fundo verdadeiro não sei, mas tenho Pedro Santos Guerreiro como um jornalista sério e que está bem informado dos assuntos das finanças dos clubes. Tratam-se de números (ainda) mais preocupantes que deveriam merecer um esclarecimento por parte da direção do Sporting. Aliás, não havendo novidades sobre a reestruturação financeira há alguns meses, seria bom que fosse feito um ponto de situação de todo o processo, bem como da auditoria de gestão -- estará o rumor associado a algo que a auditoria de gestão terá descoberto?

Voltando a Vieira, as repetidas referências que fez indiretamente ao passivo do Sporting revela que é um assunto que o preocupa. Não pelas dificuldades históricas que o Sporting atravessa (com o mal dos outros pode ele bem), mas sim com o perdão de divida bancária que supostamente está definido no acordo da reestruturação.

E isso não é novidade. Em março de 2013, quando o Sporting negociava o plano de reestruturação com os bancos, Vieira e Domingos Soares Oliveira (administrador da SAD do Benfica para a área financeira) já tinham vindo a público reclamar idêntico tratamento:


A preocupação do Benfica estava, acima de tudo, no facto de o BCP estar a fechar a torneira do crédito aos clubes de futebol, perdoando uma parcela da dívida ao Sporting pelo meio. Sendo assim, o Benfica passaria a estar apenas dependente do BES. Isto foi confirmado por Pedro Santos Guerreiro num artigo escrito para o Record em setembro de 2013:
Já na Luz dinheiro parece não ser problema. Não porque o tenham a rodos, mas porque o mesmo banco que aperta o Sporting dá largas ao Benfica: o Banco Espírito Santo. Esta semana, o BCP confirmou oficialmente uma notícia do “Jornal de Negócios” de há uns meses, de que vai deixar de financiar o futebol, depois das perdas acumuladas em vários clubes. Um deles foi o Sporting, onde BCP e BES foram sucessivamente forçados a reestruturar a dívida, perdendo dinheiro. Mas o BES é gato que não se escalda. E estará a amparar tanto Luís Filipe Vieira que este afirmou, sem medo, na entrevista de há duas semanas à Benfica TV que, se fosse preciso, aumentaria a sua dívida. Foi preciso. Este ano o Benfica comprou mais do que vendeu.

Estes desenvolvimentos mostram que o Sporting afinou e está a ser financeiramente disciplinado; que o Benfica não tem medo do risco e assume mais dívida; e que o BES ou não aprendeu nada ou está com carências afetivas depois da hecatombe do Sporting.

Junte-se a isto as notícias que falam nos buracos que andam a ser descobertos no BES e a mudança da administração do banco, é normal que Vieira tenha receio que a última grande torneira de crédito bancário de que dispõe se feche definitivamente.

Estou muito longe de ser um especialista nestes assuntos, mas parece evidente para todos que o crédito fácil é coisa em vias de extinção. O Benfica continua a viver acima das suas possibilidades, conforme os prejuízos acumulados testemunham. A dívida bancária tem vindo a acumular-se, os empréstimos obrigacionistas são cada vez mais recorrentes (sinal que os bancos já não emprestam dinheiro a juros baixos), e o rumo de um porta-aviões não se muda de um dia para o outro.

Vamos ver o que as contas do 3º trimestre de 2013/14, a apresentar brevemente por Sporting e Benfica, vão revelar.

Balanço de 2013/14: Leonardo Jardim

                                                                                                                                             

Leonardo Jardim fez um trabalho fantástico. Num ano de desinvestimento e forte contenção orçamental, dispondo de muito menos recursos que os seus mais diretos opositores, conseguiu montar uma equipa extremamente competitiva num curto espaço de tempo. Pode ter sido parcialmente pelo efeito surpresa, mas o que é facto é que o Sporting entrou fortíssimo na liga, goleando com frequência e mandando nos jogos do princípio ao fim.

Apesar de a grande figura do início da época ter sido Montero, jogador acabado de chegar ao clube, foi evidente desde cedo que vários dos jogadores que já faziam parte dos quadros do Sporting estavam a jogar a um nível bem mais elevado. Aliás, ao longo do ano, jogadores que antes estavam pouco valorizados, como Cédric, Rojo e Adrien, acabaram por ser fundamentais para a campanha de sucesso da equipa.

A aposta em William Carvalho foi surpreendente. Não só o jogador era praticamente um desconhecido, como disputava o lugar que parecia ser de Rinaudo. No entanto, o tempo demonstrou que Leonardo Jardim acertou em cheio ao entregar o lugar 6 ao jovem da academia.

Outra das facetas que mais apreciei em Leonardo Jardim foi o seu discurso. As flash interviews passaram a ser um momento a não perder, pois valia sempre a pena ouvir as explicações do mister sobre o jogo e os motivos das suas decisões, sempre de uma forma muito racional e serena.

A saída de Jardim acaba por ser o único grande ponto negativo do seu ano ao comando da equipa do Sporting. Compreende-se a decisão de Leonardo Jardim em abandonar o clube para um cargo de maior visibilidade e muito mais bem pago, mas não deixa de ser mais um contrato que o treinador não conseguiu levar até ao fim -- e que também o define enquanto profissional.

Houve, como é óbvio, outros aspetos menos positivos. O nível exibicional da equipa foi caindo progressivamente, mas o que é facto é que os pontos continuaram a ser conquistados. Podemos apontar outros erros, como a forma como montou a equipa com o Benfica na Luz, ou a falta de proteção a Carrillo ao substitui-lo na primeira parte do jogo com o Estoril, mas esses episódios acabam por ser notas de rodapé na globalidade de um trabalho que foi excecional.


quinta-feira, 29 de maio de 2014

Luís no país das maravilhas

Vieira e o passivo do Benfica                                                                                                                  
Voltando à entrevista de Luís Filipe Vieira à RTP, aqui fica mais uma declaração que achei muito interessante:


Destaco a frase "O que é importante realçar é que nós chegámos a um ponto em que estamos sempre muito competitivos em todas as vertentes e lentamente vamos reduzindo o nosso passivo.".

Lenta redução do passivo. Nota-se.

Valores em milhões de euros.
(*) Incorporação da Sociedade Benfica Estádio no perímetro de consolidação do grupo
Números retirados daqui.

Agora um pequeno gráfico com base nos números que estão no quadro, para podermos apreciar a tendência de redução do passivo que Vieira refere.


O Benfica não apresenta lucros desde 2007/08. Os capitais próprios há três anos passaram a negativos e continuam a cair perigosamente. O passivo não tem deixado de aumentar ano após ano. Pior, nos últimos quatro anos o endividamento do Benfica tem crescido de forma galopante. A técnica, agora, é contrair empréstimos obrigacionistas no momento em que se vencem os anteriores, aumentando progressivamente o seu valor (há que pagar o valor emprestado mais juros, e aproveitam para pedir mais uns trocos para atividades correntes).

O património do clube tem vindo a crescer, é certo, mas será sustentável? Que mais-valias trarão para a atividade principal do clube - a área desportiva? Eventualmente o centro de estágios poderá vir a compensar, mas a progressão dos jovens formados no clube colide de frente com a política desportiva que tem vindo a ser seguida nos últimos anos. E ter património não é só construir e está feito. Significa suportar juros dos empréstimos que os pagaram e custos de manutenção anuais elevados.

Vieira pode falar nas grandes receitas que o clube tem, mas o que se verifica é que os custos têm sido sempre superiores às receitas (como os resultados líquidos negativos indicam), o que significa que a capacidade para pagar os empréstimos contraídos é muito baixa.

As contas do Sporting antes da reestruturação eram piores, é um facto. Mas felizmente que agora não temos dirigentes a tentar esconder o real estado das finanças do clube, o que é um passo imprescindível para se poder começar a resolver o problema. 

No Benfica passa-se o inverso. Vieira não muda. Desde que é presidente que tem um discurso recheado de promessas maravilhosas, dando totais garantias de que o clube está a ser bem governado e que tudo está perfeitamente controlado. E ainda tem a lata de chamar os outros de populistas.

Balanço de 2013/14: Pinto da Costa


Da mesma forma que acredito que não haja um único portista que fique eternamento grato a Pinto da Costa pelo papel impar que teve na história do clube, também me parece que serão poucos os adeptos portistas que tenham ficado satisfeitos com o desempenho do seu presidente na época que passou.

Nem é uma questão de falta de conquistas, apesar de ser invulgar na história recente do Porto. Na minha opinião é mais grave a exposição pública, ao longo da época, de um estado de desorganização e falta de unidade, precisamente o oposto daquilo que foi uma das imagens de marca do clube nas últimas décadas.

As coisas começaram tortas na forma como se desenrolou o processo de escolha do treinador. O Porto poderia ter arrumado facilmente o assunto logo após o final da época se decidisse renovar com o bicampeão Vítor Pereira, um treinador que apenas perdeu por uma vez em sessenta jogos para o campeonato. Ficou a ideia que o Porto preferiu esperar que o Benfica definisse o dossier Jorge Jesus para decidir o que fazer. Se Jesus não renovasse, provavelmente iria parar ao Dragão. Se renovasse, o potencial interesse do Porto iria obrigar o Benfica a abrir os cordões à bolsa -- como acabou por se verificar. O processo de renovação de Jesus foi prolongado, e o Porto optou continuar na expetativa. Vítor Pereira acabaria por se fartar de esperar e rejeitou a proposta de renovação feita depois de se saber que Jesus tinha assinado por mais dois anos com o Benfica.

A escolha de Paulo Fonseca, por si só, não parecia uma má decisão. No entanto, Pinto da Costa pareceu sempre mais interessado em dar um golpe profundo no rival do que em arrumar a sua própria casa. Perdeu o treinador desejado (Jesus), o treinador que fazia sentido (Pereira), e acabou por se decidir por Paulo Fonseca tarde e a más horas.

Também a construção do plantel foi desastrada. O Porto gastou €30M em reforços, mas poucos acabaram por justificar a aposta. Licá começou bem mas rapidamente perdeu influência. Reyes, Herrera e Carlos Eduardo andaram pela equipa B antes de começarem a ser utilizados. Ghilas andou perdido no banco com Paulo Fonseca, e só com Luís Castro passou a ter oportunidades. Ricardo pouco contou (a não ser para tapar buracos como lateral, por falta de alternativas a Danilo e Alex Sandro) e Tiago Rodrigues foi emprestado. Quintero teve lampejos de brilhantismo, mas ainda era muito novo para fazer esquecer James. Quaresma foi o único que pegou de estaca, mas a queda do Porto na classificação coincidiu com a sua chegada ao clube. Coincidência?

Os rumores de divisões na estrutura foram outro dos temas da época do Porto, e provavelmente isso acabou por se refletir indiretamente no controlo do balneário. Não me lembro de alguma vez ter assistido a tantas demonstrações públicas de insatisfação por parte de jogadores portistas: Jackson e a vontade de sair, o assunto da renovação de Fernando, os inúmeros desabafos de Defour, e ainda queixas de falta de oportunidades de Fabiano e Kelvin (com Iturbe a dar apoio público a Kelvin desde Itália). Junte-se a isto o afastamento de Fucile do grupo de trabalho e o desaparecimento de Izmailov. A saída de Lucho, uma voz de comando no plantel, também não deve ter ajudado.

Também nas intervenções públicas, Pinto da Costa pareceu longe dos seus melhores dias. Ter falado apenas 4 ou 5 dias depois da derrota na Luz para se queixar da arbitragem de Artur Soares Dias foi um ato falhado, e optou por não se dirigir aos sócios e adeptos na pior fase da época (no espaço de 3 semanas em que foram afastados de todas as provas a eliminar e perderam o comboio do 2º lugar).

Salvou-se pouco desta época. A venda conjunta de Moutinho (sub-avaliado) e James (sobre-avaliado) foi eticamente desprezível, mas o Porto limitou-se a tirar partido de um acordo em que os interesses do Sporting não estavam devidamente acautelados. Tiveram uma demonstração de poder no episódio do atraso da Taça da Liga, mas o efeito foi ainda pior ao serem eliminados de forma humilhante pelo Benfica nas meias-finais.

Os tempos não se avizinham fáceis. Com duas das estrelas do plantel (Jackson e Fernando) a quererem sair, com um buraco orçamental para tapar, numa altura em que as vendas fabulosas de outrora são um cenário pouco provável, e ainda com um play-off da Liga dos Campeões para disputar, os portistas devem estar longe de sentir a estabilidade e perícia da liderança a que Pinto da Costa os habituou no passado. O fim da era de Pinto da Costa parece estar a chegar, e todos (portistas e adversários) têm consciência que dificilmente as coisas voltarão a ser o que eram.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Luís Filipe Vieira: um homem fiável e de boas contas

                                                                                                                                     
Ficámos a saber várias coisas novas na entrevista que o presidente do Benfica deu ontem à RTP:

1. Vieira é sempre o primeiro a dar a cara na hora da derrota


Nove meses antes...



2. A Olivedesportos não ofereceu €23M / ano pelos direitos de transmissão dos jogos


Comunicado da SL Benfica, SAD à CMVM

Está certo. A proposta foi de apenas €22,2M / ano. Temos que ser rigorosos, 800 mil euros é muito dinheiro.


3. O passivo do Benfica é de €400M


Está certo... mais 50 milhões, menos 50 milhões... peaners, como diz o outro.

R&C consolidado do Benfica, 1º semestre 2013/14

Balanço de 2013/14: Luís Filipe Vieira


Nota prévia: no momento em que escrevi este post ainda não vi a entrevista do presidente do Benfica à RTP. 

Quem acompanha este blogue há mais tempo sabe que estou longe, muito longe, de ser um fã de Luís Filipe Vieira. Não tem a ver com o facto de ser presidente do Benfica. Se Vieira fosse sportinguista, quereria que ficasse o mais afastado possível da cadeira de presidente do meu clube.

Independentemente da minha opinião pessoal, não posso negar que este ano correu incrivelmente bem a Vieira. Fez apostas de alto risco e venceu-as quase todas. Mesmo assim, muitas dessas apostas não pareceram tomadas por convicção, mas sim impostas ou por necessidade.

A aposta em Jesus foi um sucesso, mas fiquei com a ideia que a renovação aconteceu apenas para impedir que o treinador acabasse no Porto. Uns meses depois, quando o campeonato começou mal e os benfiquistas já mostravam lenços brancos aos adeptos, é possível que a indemnização de €8M que o Benfica teria que pagar a Jesus no caso de despedimento foi um fator de peso na decisão de Vieira em se manter fiel ao treinador. 

A Benfica TV foi indiscutivelmente um grande sucesso. Não acredito que financeiramente compense em relação à melhor oferta da Sport TV, mas do ponto de vista de afirmação do clube contra um "sistema" hostil foi uma grande jogada. Mas mais uma vez, podemos pensar nos riscos da aposta. Correu bem este ano, mas não nos podemos esquecer que o número de assinantes foi alavancado por uma prestação desportiva de sonho. Será que num ano em que a equipa de futebol esteja uns furos abaixo o sucesso da Benfica TV será idêntico?

A aposta no "melhor plantel dos últimos 30 anos" traduziu-se no domínio em todas as competições nacionais. No entanto, sabemos pelas palavras de Vieira que o plantel foi dimensionado para disputar a final da Champions. O 3º lugar na fase de grupos acabou por ser um fracasso considerável face ao investimento realizado, e a final perdida da Liga Europa acabou por ser fraco prémio de consolação perante a ambição demonstrada.

Isto foi o que correu bem. Também há aspetos negativos a apontar. 

Em primeiro lugar, fica mal a Vieira desaparecer sempre nos maus momentos e estar sempre pronto a amealhar os louros dos sucessos. Desculpabilizou-se da forma como a época anterior terminou com a frase "acha que eu dou pontapés na bola?", coisa que o nº 1 de um clube nunca deveria dizer. Procura sempre os jornalistas no momento das vitórias, mas nos fracassos costuma fugir à comunicação social (como aconteceu após a derrota com o Sevilha) sem se preocupar em dar uma palavra de consolação aos sócios e adeptos benfiquistas.

Podemos também falar da política de contratações. Continuam a chegar camionetas de jogadores, muitos dos quais não chegam a vestir a camisola do clube (Fariña, Pizzi, Lisandro Lopez, Mitrovic, Funes Mori). Não é uma proeza construir um plantel de qualidade quando se compra tanto e tão caro. Entretanto a aposta nos jovens da formação foi mais uma vez colocada de lado.

Continua a meter-se em negócios pouco claros com fundos. A venda de Rodrigo e André Gomes é mais um exemplo na linha do que já tinha acontecido com Roberto. Já se descobriu que afinal não vão receber €45M. O futuro dirá se ainda haverá mais algum pormenor escondido no meio dessas transferências tão pouco racionais (ninguém me convence que algum comprador minimamente atento se disponha a pagar €15M por um jogador que mal era utilizado).

Finalmente, resta saber se o esforço financeiro feito ao longo do ano não terá reflexos negativos no equilíbrio do clube. Quando ouço falar em receitas megalómanas e renovações de contratos com patrocinadores por valores incrivelmente altos, fico sempre de pé atrás. O Benfica pode ser o Benfica, mas não deixa de ser um clube de um país em que há muito pouco dinheiro a circular.

De qualquer forma, com a vitória do Benfica no campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga, e com a ida à final da Liga Europa, só tenho que admitir que Vieira teve uma época de grande sucesso. Por muito que me custe reconhecê-lo.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Um bom negócio

A operação já é do ano passado, mas confesso que só hoje me apercebi disso ao ler o R&C do 3º semestre do Porto.



Tecnicamente está certa a observação de que a operação não gerou qualquer mais ou menos valia: se 95% do passe custaram €7M, então 47,5% valem €3,5M. O que pode não ser tão interessante para o clube é que esses parceiros não suportaram nenhuma parcela dos quase €2,1M de encargos adicionais. Esses ficaram à conta do Porto. 

Mais um caso de fabulosas comissões que o Porto paga aos seus intermediários. Está tudo muito bem quando se conseguem concretizar vendas fabulosas, mas em tempos mais complicados acabam por saltar mais à vista.

Não admira que tenham apresentado quase €39M de prejuízo (que seriam à volta de €50M se não contabilizassem os €12M da venda de Otamendi ao Valência). Há muitas bocas para alimentar.

Balanço de 2013/14: Bruno de Carvalho


Foi indiscutivelmente uma das figuras da época. Usando um estilo de comunicação pouco discreto e que gera muitos anti-corpos, Bruno de Carvalho dificilmente alguma vez passará despercebido, mas a verdade é que o resultado do seu trabalho ultrapassou largamente as expetativas que os adeptos sportinguistas tinham há cerca de um ano.

O primeiro tema crítico relativo a 2013/14 foi a escolha do treinador. A decisão mais fácil seria manter Jesualdo Ferreira (muitos sportinguistas, entre os quais eu, defendiam a continuidade de Jesualdo), mas Bruno de Carvalho não teve dúvidas em ir para a guerra com um treinador que se identificasse totalmente com o seu projeto para o clube. Leonardo Jardim foi uma escolha de sucesso indiscutível que teve um impacto enorme no sucesso da época.

Mas os méritos de Bruno de Carvalho não se ficam por aqui: implantou uma cultura de exigência transversal a todas as áreas do clube; o Sporting passou a falar a uma só voz; montou uma estrutura para o futebol capaz de blindar o balneário e de fazer o seu trabalho longe dos olhares da comunicação social; tratou os sócios como adultos, não tendo medo de lhes expôr a realidade, por mais difícil que fosse, e corresponsabilizou-os no crescimento do clube. Como consequência de tudo isto, conseguiu recuperar a auto-estima dos sportinguistas.

Defendeu intransigentemente os interesses do Sporting, não tendo problemas em abrir diversas frentes de batalha sempre que necessário: a denúncia da negociata James / Moutinho, o corte de relações com o Porto, o caso Bruma, as propostas de melhoria do futebol português, a contestação ao atraso da Taça da Liga, e as críticas à arbitragem em momentos oportunos. Algumas dessas frentes acabaram por não ter consequências práticas, mas pelo menos lutou pelo que achava justo e conseguiu até expôr aos olhos de todos alguns dos interesses instalados nas cúpulas do poder do futebol.

No meio de tanto trabalho feito de forma competente, houve também aspetos menos positivos: demonstrou reagir mal à crítica (fazendo comentários dispensáveis como "esse espectador não deve ser concerteza sportinguista" ou "as pessoas não sabem do que estão a falar"), e por vezes exagerou na provocação aos adversários, como nos episódios sobre a cor da bandeira e "os nossos adversários têm que começar a dar mais luta". Prefiro deixar a bazófia para os adeptos de outros clubes.

Em resumo, Bruno de Carvalho teve uma época extremamente positiva, em que conseguiu reconciliar muitos adeptos com o clube, devolvendo o entusiasmo a Alvalade, e permitindo que os adeptos sonhassem alto num ano que se antevia de pesadelo.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Três semanas até ao mundial

Faltam neste momento três semanas para o dia da estreia de Portugal no mundial. No dia 16 de junho entraremos em campo para defrontarmos a Alemanha, uma das seleções favoritas à vitória na competição. 

Numa prova deste tipo não é fundamental começar bem. No Euro 2004 começámos com uma derrota que transformaram todos os outros jogos em jogos de mata-mata, e conseguimos chegar à final. Por outro lado, em 2008, assegurámos o 1º lugar do nosso grupo ao fim de 2 jornadas, o que nos permitiu poupar a equipa no derradeiro jogo com a Suiça. Depois, com a equipa repousada, jogámos com a Alemanha nos quartos-de-final e perdemos.

De qualquer forma não convém facilitar, pelo que espero que a equipa técnica saiba aproveitar o mês de estágio (apesar de serem só três semanas com todos os convocados) para tentar construir algo que seja um pouco mais do que Ronaldo + 10 logo no primeiro jogo do mundial.

O estado em que os jogadores habitualmente titulares se apresentam não é o ideal, mas está longe de ser dramático. As únicas exceções são Ronaldo e Pepe, que estão pelos arames, e Nani, que tem 134 minutos de competição em 2014. Hélder Postiga esteve muito tempo lesionado e somou apenas 136 minutos ao serviço da Lazio.

Fábio Coentrão também jogou pouco durante toda a época, mas felizmente teve uma utilização mais regular ao longo do último mês. Moutinho, Patrício, William, João Pereira, Bruno Alves, Raúl Meireles, e Miguel Veloso não tiveram uma época muito desgastante e jogaram com regularidade. 

O desafio de Paulo Bento em apresentar um onze muito competitivo no dia 16 de junho não é uma tarefa impossível. A equipa joga junta há anos e não há motivos para que não esteja tudo afinado quando entrarmos em campo com a Alemanha. Os principais desafios são:
  • gerir bem a recuperação física de Ronaldo e Pepe
  • recuperar a forma e ritmo competitivo de Nani e Postiga
  • manter a equipa focada na preparação para o mundial no meio do circo mediático que se vai montar à sua volta
  • adaptar os jogadores ao clima do Brasil

O meu maior receio acaba por ser a questão do circo mediático. Coisas como o cerco de jornalistas, compromissos com patrocinadores, e jogadores a meio de processos de transferências, não facilitam a concentração que um trabalho destes exige.

O calendário de preparação que a FPF delineou parece-me discutível. O estágio começa em solo português e estende-se até ao dia 2, com um jogo com a Grécia pelo meio. Até aqui tudo bem. Não percebo é a utilidade (que não financeira) de continuar o estágio no norte dos EUA entre os dias 2 e 10 de junho, com jogos contra o México (dia 6) e Irlanda (dia 10). Boston e New Jersey não são propriamente Manaus e Salvador. Salva-se o facto de o fuso horário ser mais ou menos o mesmo.

Só no dia 11 é que a seleção parte para o Brasil, deixando 4 ou 5 dias para ambientação ao clima brasileiro, sendo que Campinas fica bastante longe de Salvador e Manaus, onde se disputam os primeiros jogos.

Serão portanto três semanas muito intensas, em que será necessário trabalhar muito e bem. O que me deixa mais otimista é o facto de que, quando chegam estes grandes momentos, os nossos jogadores costumam surgir psicologicamente ao seu melhor nível. Se houver organização e liderança à altura, tudo será possível.

Desrespeito pelo valor da vida humana

                                                                                                                                           


Admiro a coragem destas pessoas, mas parece-me que desta vez foram longe demais. Irem para a frente de baleeiros em botes semi-rígidos, sabendo que correm o risco de serem albaroados em mares gélidos, vá que não vá... Agora, irem para a cobertura do estádio da Luz sabendo que a qualquer momento pode vir uma rajada de vento que pode arrancar umas placas de zinco e atirar com novelos inteiros de lã de vidro na sua direção, já me parece um desrespeito total pelo valor da vida humana.


O meio ambiente agradece esta ação de protesto, mas seguramente haveria maneiras mais seguras de chamar a atenção do mundo para o problema da cobertura do Estádio da Luz.

sábado, 24 de maio de 2014

Dias de sonho para Luís Filipe Vieira

                                                                                                                                               
Causou alguma estranheza a presença de Luís Filipe Vieira no hotel do Real Madrid, ontem durante a tarde. O presidente do Benfica não explicou a razão da visita.


A explicação, na realidade, é muito simples:


Vieira tinha o sonho de estar presente na final da Champions. É bom ver que ainda há portugueses a conseguirem concretizar os sonhos de uma vida.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Os desafios do defeso

Agora que terminou a época de clubes, é difícil não começarmos a pensar já em 2014/15.

A próxima temporada irá sobretudo girar à volta da capacidade que o Benfica terá para consolidar o domínio conseguido este ano. Estaremos perante um novo ciclo de hegemonia do futebol português, desta vez pintada a tons de vermelho?

Infelizmente, no centro desta resposta estará, em primeiro lugar, aquilo que o Benfica conseguirá ou não fazer. Do ponto de vista de qualidade de plantel, o Benfica parte à frente dos adversários. Nas lutas nos corredores do poder, é uma evidência à vista de todos que o Benfica recuperou um respeito que os coloca bem mais protegidos de erros alheios do que estavam no passado.

Isto não quer dizer que o Sporting não tenha as suas hipóteses de conquistar títulos em 2014/15. Acima de tudo significa que o nosso sucesso não dependerá apenas de nós, mas também dos erros que os nossos adversários possam cometer durante o defeso e com a época a decorrer. Se todos os clubes fizerem o seu trabalho de forma competente, a diferença de orçamentos e a influência nas instâncias de poder continua a ser um handicap impossível de ignorar, colocando o Sporting num patamar de favoritismo inferior em relação ao Porto e, sobretudo, em relação ao Benfica.

Muito do que será a próxima época ficará definido no trabalho que os clubes realizarem até agosto, cada um com os seus próprios problemas e desafios pela frente.


Sporting

Na minha opinião, a mudança de treinador deixa-nos mais longe do título do que estaríamos se Leonardo Jardim continuasse como treinador do Sporting. No entanto, Marco Silva era a melhor alternativa disponível para dar continuidade ao trabalho feito na época que passou. O trabalho que fez no Estoril é notável e parece-me que existem condições para que possa demonstrar toda a sua competência num clube cada vez mais organizado e estável. Com o tempo, tenho confiança que Marco Silva conseguirá atingir (e quem sabe superar) o excelente trabalho de Leonardo Jardim.

Arrumada de forma muito satisfatória a questão do treinador, os desafios do Sporting são vários. Em primeiro lugar, parece-me importantíssimo segurar Rui Patrício, Rojo, e William Carvalho, o que poderá não ser uma tarefa fácil. O orçamento da próxima época não está dependente de vendas (as receitas da Liga dos Campeões e dos direitos televisivos cobrem os €25M de orçamento referidos por Bruno de Carvalho), mas o assédio de grandes clubes europeus e o desejo dos jogadores em experimentar outros campeonatos podem ter uma palavra a dizer. Neste aspeto, estou convencido que o William ficará. Acredito que Patrício saia se houver uma boa proposta, e (infelizmente) penso que a saída de Rojo será inevitável.

Independentemente das saídas, o plantel terá que ser sempre reforçado em várias posições. Havendo pouco dinheiro para gastar, o Sporting terá sempre mais dificuldades em acertar em pleno nas contratações do que os seus rivais. A abordagem usada em procurar jogadores em mercados menos visíveis e mais acessíveis parece-me interessante. O problema é que as equipas de sucesso raramente se constroem exclusivamente à base de jogadores jovens com potencial. 


Porto

Honestamente, não me parece que na próxima época o Porto tenha condições de se bater de igual para igual com um Benfica de poderio idêntico ao deste ano. Parece-me no entanto perfeitamente possível que a prestação do Porto se situe uns bons furos acima do que fizeram este ano, bastando para isso construírem um plantel mais equilibrado e afastando jogadores que claramente não têm vontade de continuar.

No entanto, o paradoxo da construção do plantel do Porto está no facto de os jogadores que querem sair serem difíceis de substituir a curto prazo -- nomeadamente Jackson e Fernando. Retirando esses jogadores, sobra uma equipa jovem que terá a tarefa complicada de lutar contra os fantasmas que esta época criou. 

Existe muito talento: Fabiano, Danilo, Alex Sandro, Mangala, Quaresma (se passar a bola), Quintero, Ghilas, são uma boa base para começar. Mas ao contrário do que o Porto tem conseguido ao longo da última década, não haverá em campo nenhum líder que seja uma voz de comando e experiência, nem nenhum desequilibrador nato ao nível de um Falcao, Jackson, James, ou Hulk.

Há no entanto que considerar a falada reaproximação entre o Porto e Jorge Mendes, possivelmente uma forma salomónica que Pinto da Costa encontrou para tentar resolver as fraturas existentes na estrutura. Por outro lado, não se pode ignorar a situação financeira do Porto. Apesar de o Porto ser o clube grande com contas mais saudáveis, os rumores de problemas de tesouraria e a realidade do desequilíbrio orçamental que o 1º semestre do R&C revelou, poderão ser um fator importante na capacidade de reforço do plantel.


Benfica

A grande incógnita está em saber qual o nível de mexidas que haverá no plantel. A saída de Rodrigo parece inevitável. André Gomes também deverá continuar a carreira noutro lado, mas o impacto da sua saída será reduzida. Siqueira e Sílvio são emprestados. O brasileiro parece ter bastantes interessados, o que obrigará o Benfica a ter que pagar por inteiro o valor de opção de €7M, caso queira continuar a contar com ele.

Fora isso, quantas saídas mais haverão?

Dependerá muito do esforço financeiro que os bancos estiverem na disposição de tolerar a Vieira. Comentadores ligados ao Benfica vão dizendo que deverão sair à volta de 4 jogadores. Garay parece uma inevitabilidade. O problema é que tendo o Benfica apenas 40% do passe, o jogador renderá no máximo €8M aos cofres do clube. Fala-se também no interesse de vários clubes em Enzo e Gaitan, que foram as estrelas da equipa, pelo que pelo menos um dos jogadores deverá sair. Enzo será mais complicado de substituir. Gaitan seria um mal menor, pois o Benfica ainda ficaria muito bem servido de extremos como Markovic e Sálvio.

Para além disso, Luisão não caminha para novo, e Cardozo, que foi fundamental para manter o Benfica dentro da corrida do campeonato e taça entre setembro e novembro, parece estar com um pé fora da Luz.

E há, claro, a questão do treinador. Para mim é o ponto chave em relação à próxima época. Mesmo que saíssem Rodrigo, Garay, Enzo, e Gaitan, para mim o Benfica continuaria a ser de longe o favorito. Mas saindo Jesus estou convencido que as hipóteses de revalidação do título deixariam de ser tão elevadas. 

São muitas incógnitas, mas é preciso não esquecer que o Benfica tem o poder de decisão em relação à resolução da maior parte dos casos. Seria para mim uma surpresa se o Benfica não fizesse tudo ao seu alcance para manter a equipa que tantas alegrias deu aos seus adeptos o mais intacta possível.

A frase cómica do ano

                                                                                                                                               
Rui Gomes da Silva, na passada segunda-feira, no programa Dia Seguinte.

Retirado do canal de Youtube Fernanndo00

Uns minutos mais tarde, comprovando que a imparcialidade é mesmo um valor de que nunca abdica, Rui Gomes da Silva diria que André Gomes está a um nível semelhante a William Carvalho, com a vantagem de ter mais experiência internacional que o jogador do Sporting.

De registar ainda que no programa de segunda-feira se falou da final da Taça de Portugal, do triplete, da festa na Praça do Município, da provável continuidade de Jorge Jesus no Benfica, das confusões à entrada no Jamor, da convocatória da seleção, das movimentações para a presidência da Liga, das contratações do Sporting, mas nem uma palavra foi dita em relação à final da Liga Europa.

A turma do Rui ao seu melhor nível.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

O futebol português no seu esplendor

Arouca volta a casa                                                                                                                  
in rr.pt

Organização e estratégia

                                                                                                                                   
Noutros tempos, perante a hipótese da saída do treinador, seria quase certo que o Sporting entraria em estado de negação e provavelmente apenas cairia na realidade no momento em que o cheque fosse entregue na tesouraria do clube. Seguir-se-ia um longo processo de escolha do novo treinador, que provavelmente acabaria por ser um Lopetegui* ou um Vercauteren que nos deixaria imediatamente deprimidos. Agora vejo a melhor solução disponível (realista) no mercado a ser apresentada 24 horas depois de se consumar a saída do treinador -- tal como já tinha acontecido no ano passado.

Noutros anos, assistiríamos a uma saída atabalhoada de um treinador que prestou um bom serviço ao clube, e à apresentação envergonhada do seu substituto. Esta semana vimos uma despedida que honrou o excelente serviço que Leonardo Jardim prestou ao Sporting ao longo do último ano, e uma apresentação que não deixa dúvidas a Marco Silva que o passado é um assunto encerrado, e que é com ele e apenas com ele que iremos para a guerra daqui para a frente.

Noutros tempos, ficaria receoso ao ver entrar um treinador tão jovem e sem experiência profissional num clube da dimensão do Sporting. Agora vejo uma estrutura atenta, unida, e focada, que dará as melhores condições possíveis ao novo treinador de aplicar os seus conhecimentos e ideias, e que ao mesmo tempo será capaz de funcionar como um complemento à equipa técnica nos aspetos que forem necessários.

Noutros tempos, a direção ofereceria ao novo treinador um contrato de um ano com opção de mais um ano, que seria logo um sinal inicial de descrença nas suas capacidades. Agora vejo uma estrutura que sabe o que quer para o clube, que não tem medo em assumir as suas apostas, e que transmite uma enorme confiança ao novo treinador ao assinar um contrato de longa duração -- ideia que passará de imediato para os jogadores. Uma estrutura que percebeu que a estabilidade é um fator importantíssimo para conduzir o clube ao sucesso que todos desejamos.

Noutros tempos, seria certo ver vários dirigentes do clube a desdobrarem-se em entrevistas, de forma a procurarem amealhar créditos do trabalho feito e das perspetivas de sucessos futuros. Agora vejo uma direção que fala a uma única voz.

Como é evidente, tudo isto, só por si, não é garantia de nada. Mas é um sinal inequívoco de que o Sporting é, pela primeira vez em muitos anos, um clube organizado e que segue uma estratégia bem definida. E de uma coisa não haja dúvidas: a organização e estratégia não marcam golos, mas são essenciais para a conquista de campeonatos.

Vêm aí tempos muito bons para os sportinguistas.


* Não vejam isto como um insulto ao treinador do Porto. Lopetegui merece o benefício da dúvida antes de poder demonstrar a sua competência. Refiro-me apenas ao perfil pouco entusiasmante do treinador que o Porto escolheu -- que não tendo experiência de clubes de 1ª divisão ou do futebol português, e tendo uma carreira intermitente, está longe de ser um nome que entusiasme e dê confiança aos portistas.

Cortinas de fumo

Pinto da Costa recupera o discurso contra o centralismo                                                       
in record.pt

in ojogo.pt

Curioso como o presidente do Porto retoma este discurso gasto e populista sempre que os resultados desportivos ficam abaixo do esperado. Num dia em que se deslocou a uma das câmaras municipais mais endividadas do país (que por acaso até lhe ofereceu um luxuoso centro de estágio a troco de uma renda ridícula), Pinto da Costa não perdeu a hipótese para dar uma lição de moral aos outros, num período em que pessoas em todos os cantos do país sofrem com os cortes salariais, despedimentos, aumentos de impostos, e com a deterioração dos serviços de saúde e ensino.

"Quando o Norte está mal, o país está pior", diz o presidente da CM Gaia. É verdade. Da mesma forma que o país fica pior quando o Alentejo está mal, quando o interior está mal, quando as ilhas estão mal, quando o Algarve está mal, ou quando Lisboa está mal -- sim, a austeridade também chegou a Lisboa.

O ataque que Pinto da Costa faz, mais do que à região de Lisboa, é ao poder central. Mas a forma como o faz é suficientemente dúbia para conseguir mobilizar os portistas (e não os portuenses) contra os inimigos da capital (Benfica e Sporting). A hipocrisia da declaração esbarra nas próprias ações do presidente portista, que sempre apreciou ser recebido no parlamento para umas grandes almoçaradas com os deputados azuis e brancos -- à semelhança do que os outros clubes também fazem, bem entendido.

Como é evidente, todo este discurso não passa de uma cortina de fumo lançada por Pinto da Costa para desviar as atenções dos problemas do clube. Uma época tenebrosa com um investimento milionário sem qualquer retorno desportivo, contas totalmente desequilibradas e problemas de tesouraria, uma estrutura dirigente fragmentada, um treinador que não motiva nem os adeptos mais entusiastas, e um plantel enfraquecido que ainda assistirá à saída de algumas das suas principais figuras.

Despesismo megalómano sem proveitos que se vejam não é um exclusivo do Estado português. Basta olhar para o R&C do 1º semestre do FCP.

The king is dead, long live the king!

Ninguém tem a capacidade de prever como será o futuro, mas não posso mentir: estou perfeitamente convencido que o Sporting contratou o melhor treinador disponível no mercado.

Tenho muita confiança em como Marco Silva tem a competência, ambição, e postura necessárias que o enquadrarão na perfeição no projeto do Sporting. A direção certamente que acredita fortemente nisso, tal como o contrato de quatro anos o comprova. E Marco Silva acredita no projeto que lhe apresentaram, caso contrário não teria aceite um contrato tão prolongado.

Foi-nos apresentado um treinador jovem, com muita vontade de vencer, e que na conferência de imprensa demonstrou perceber as expetativas dos adeptos: no Sporting, querer ser campeão é algo natural. É uma loucura estarmos a exigir um campeonato a Marco Silva no próximo ano, mas após a excelente época que agora acabou, não fazia sentido não nos assumirmos como candidatos na época que aí vem. 

Somos os principais favoritos? Não. Mas isso não quer dizer que não tenhamos as nossas hipóteses. Se o Sporting continuar a fazer o seu trabalho de forma competente, pode efetivamente ambicionar mais do que conseguiu este ano no caso de o Benfica não conseguir apresentar a mesma força da época que terminou e se o Porto não conseguir uma recuperação competitiva milagrosa. E neste momento acredito sinceramente que o Benfica não estará tão forte no próximo ano e que o Porto continuará bastante abaixo daquilo que habituou os seus adeptos.

Mais: ao concretizar-se a contratação de Marco Silva tenho a certeza que até ao final do mandato de Bruno de Carvalho seremos campeões. Os mais ambiciosos podem não achar isto suficiente, mas para mim é algo que não sentia desde o início do século. Eu já vejo a luz ao fundo do túnel e não são os faróis de um comboio em sentido contrário. A seca de títulos está a acabar.

Bem-vindo, Marco!

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Capas que não fizeram história, nº 37: Reciclagem de sonhos

                                                                                                                                                    
Maio de 2013 (via blogue O Rapaz de Verde e Branco)

Há anos que deixei de me iludir com os discursos dos sonhos, em que jogadores e treinadores afirmam, no momento da sua apresentação, serem de um determinado clube desde pequeninos. Já todos percebemos que no futebol atual o amor à camisola é algo cada vez mais escasso fora do universo dos adeptos. 

Fiquei desiludido com a saída de Leonardo Jardim, mas não foi por ser uma traição ao tal "sonho". A minha desilusão vem exclusivamente de Jardim ter abandonado a meio um projeto de curta duração e, consequentemente, de um clube que contava com ele para continuar a aproximação ao topo do futebol português.

É diferente o caso de um treinador jovem que interrompe a meio um contrato de dois anos, de um jogador que decide sair ao fim de um ano com quatro anos de contrato ainda pela frente.

Compreendo os motivos da saída de Leonardo Jardim? Claro que sim, percebo o nível da tentação que a proposta do Mónaco representava. Mas normalmente o que nos faz homens não é só o número dígitos do cheque que recebemos ao fim do mês ou a visibilidade aos olhos dos outros. A parte de nos mantermos fiéis aos compromissos que assumimos é um aspeto muito importante do caráter de uma pessoa.

De qualquer forma, obrigado por tudo, Leonardo. Espero que sejas muito feliz em França.

O candidato do Benfica para a Liga

                                                                                                                                        

in maisfutebol.pt



Boa escolha, presidente Vieira!

in cmjornal.pt

E um campeonato só com golos de portugueses?

                                                                                                                                     
in observador.pt

Leonardo Jardim: ficará na memória mas não no coração dos sportinguistas

                                                                                                                                        
Gostei da forma escolhida para anunciar a saída de Leonardo Jardim. A postura e competência que o treinador demonstrou ao longo do último ano não merecia menos do que uma saída pela porta grande, com o devido reconhecimento e agradecimento do clube pelo trabalho feito.

Também registo o facto de Bruno de Carvalho não ter dado qualquer pista sobre o futuro treinador. Se já estiver definido e tudo acertado com o sucessor de Leonardo Jardim, é um gesto que fica bem à direção -- era momento de agradecer ao treinador que estava de saída, e seria uma falta de respeito estar a falar do substituto à sua frente. Leonardo Jardim respondeu com a mesma cortesia ao não se pronunciar sobre o seu futro. Por outro lado, se o novo treinador não estiver ainda definido, será obviamente um motivo de preocupação para os sportinguistas. Os próximos dias responderão qual dos casos se trata.


Fico com muita pena de ver partir Leonardo Jardim. Fez um trabalho notável, acima de todas as expetativas, quer na construção de uma equipa coesa, quer no desenvolvimento de jogadores. Cédric, Rojo, e Adrien foram jogadores que demonstraram uma enorme evolução em relação à época anterior. William era um não-fator e foi Jardim que viu nele o monstro em que se viria a transformar. Demonstrou paciência e sabedoria no lançamento de Carlos Mané.

O início de campeonato foi brilhante e devolveu a alegria a Alvalade. Gradualmente os adversários foram percebendo como causar maiores dificuldades ao Sporting, e a equipa empolgante das primeiras jornadas deu lugar a uma equipa pragmática que continuou a amealhar pontos a um ritmo notável. O 2º lugar é uma proeza assinalável atendendo à diferença de condições em relação aos adversários diretos.

Fica também o apreço pelo seu discurso coerente e racional, quer nas conferências de imprensa quer nas flash interviews. As personalidades de Leonardo Jardim e Bruno de Carvalho complementavam-se, e cada um dava a injeção de racionalidade e paixão que os adeptos necessitavam de ouvir e sentir.

Não acredito nos rumores que referiam desentendimentos entre os dois. A saída de Leonardo Jardim deve-se mais à sua personalidade e plano(?) de carreira, do que a diferenças com a direção em relação aos objetivos da próxima época. O Mónaco acenou com mais dinheiro, um campeonato mais visível, e objetivos mais ambiciosos, e Leonardo Jardim fez o mesmo que noutros clubes por onde passou: não hesitou e aceitou o novo desafio.

E é precisamente isso que que me magoa em Leonardo Jardim. O projeto que tinha no Sporting era apenas de dois anos, e não faz sentido que o abandone a meio. Compreendo que é um profissional, que tem que pensar na sua carreira e que há oportunidades que podem tardar em voltar a aparecer. Mas o termo profissional também tem outra vertente: o profissionalismo. E a verdade é que não é uma atitude profissional abandonar, apenas um ano após a assinatura, o clube que apostou nele e que contava com ele para se posicionar noutro patamar do futebol português. 

Num jogador, que tem uma carreira curta, ainda se compreende. Num treinador de 39 anos, que ainda tem mais de duas décadas de carreira pela frente, não lhe fica bem.

Desejo portanto as maiores felicidades a Leonardo Jardim no seu novo desafio, e agradeço-lhe com toda a sinceridade tudo o que fez no Sporting. Conquistou o apreço de todos os sportinguistas, mas abandonou o clube de forma demasiado rápida para merecer ficar no nosso coração.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Capas que não fizeram história, nº 36: Silly season

Agora que a época terminou, os clubes desdobram-se em esforços para conseguirem reforçar os plantéis que irão disputar as competições da época que se segue.

Também se desdobram em esforços os jornais, para tentar anunciar em primeira-mão quais os novos craques que serão apresentados pelos grandes aos seus sócios e adeptos. Infelizmente, não é preciso muito para aparecer em grande destaque uma capa que relate o interesse de Sporting, Benfica, ou Porto num novo jogador, seja um craque ou um ilustre desconhecido.

É a silly season do futebol, em que a falta de acontecimentos realmente relevantes leva os jornais a utilizarem o mais ténue dos rumores como isco para atrair às bancas os adeptos mais sedentos de novidades.

Olhemos para o Sporting: a contratação de Slavchev e Paulo Oliveira foi descoberta apenas no momento em que os jogadores cumpriam as últimas formalidades antes da assinatura do contrato. No entanto, jornais e rádios já anunciaram nas últimas duas semanas que o Sporting estava interessado em Anderson Esiti, Danilo Pereira, Pedro Tiba, Derley, Loris Benito, Petkovic, Ali Ghazal, Rafael Martins, Evandro, Gonçalo Santos, Sebá, Oriol Rossell, Rotariu, Evouna, Karnezis, e Fucile. E ainda só vamos a 20 de maio. Ainda faltam mais de 3 meses para o fecho do mercado.

Mas para mim, nada disto chega aos calcanhares do melhor momento de silly season de que tenho memória. O protagonista desse momento foi o Record. Escrevo protagonista porque na realidade o Record não se limitou a relatar um interesse de um jogador. O Record (segundo o próprio jornal) foi parte ativa no processo e influenciou decisivamente o desfecho do mesmo.

Em Junho de 2007, o Record noticiou que o Benfica planeava dar uma oportunidade à sua estrela de futsal, Ricardinho, no plantel principal de futebol.


Uma ideia que parecia completamente estapafúrdia foi revelada pelo Record como uma notícia bombástica. No entanto, no dia seguinte aconteceu isto:


Segundo o jornal, não foi o Record que se enganou. O jogador até já tinha escolhido as botas... querem melhor prova do que isto? O clube é que decidiu mudar de ideias porque apareceu uma notícia no jornal. Confessem lá: não é coisa que se veja todos os dias, pois não?

Faltam 4 dias para o maior pesadelo de Michel Platini

                                                                                                                                                         


Tem tudo para ser um sucesso.

Começou 2014/15


Por momentos vou esquecer-me que existe uma incógnita em relação a quem será o nosso treinador na próxima época. Escrevi ontem que não faz muito sentido estarmos a fazer contratações sem o aval da pessoa que os irá treinar durante o ano, e mantenho essa opinião, mas a verdade é que a vida não pára e as oportunidades que surgem não ficam eternamente à nossa espera.

Mas olhando exclusivamente para os dois novos reforços do Sporting, as impressões iniciais são positivas. 

Não estive atento aos jogos que Paulo Oliveira fez no Guimarães, mas a avaliação da crítica foi muito boa ao longo da época. Devemos no entanto ter calma nas expetativas. É novo, vai dar de caras com uma nova realidade, a concorrência será forte, e não podemos exigir rendimento imediato. Foi titularíssimo durante toda a época, mas não nos podemos esquecer que o craque da defesa do Guimarães na 1ª volta era Abdoulaye, e vimos depois como correu quando regressou ao Porto. Provavelmente significará que Rojo estará mesmo de saída.

Quanto a Slavchev, é um ilustre desconhecido que marca o regresso a um mercado onde o Sporting foi muito feliz no passado (Bojinov não conta, pois fomos contratá-lo a Itália). As impressões iniciais são boas: alia um bom porte físico (1m86) a uma excelente técnica e uma atitude guerreira. Pelo menos foi o que me pareceu a partir do vídeo que vi no Youtube, vale o que vale. Melhor jogador jovem do campeonato búlgaro, desportista do ano, internacional A, são cartões de visita interessantes. Ainda não percebi se é um 6 ou um 8 (já li por aí que também pode ser um 10), mas a verdade é que precisamos de reforçar o meio-campo -- mesmo que William continue. Marcou 13 ou 14 golos no campeonato búlgaro, e nenhum de penálti, o que é assinalável -- mesmo considerando o nível mediano dessa competição. Mas lá está, é um jovem de 20 anos que vai ter que se adaptar a um clube e uma liga de outro nível. Mais uma vez não poderemos esperar milagres.

À primeira vista, começa da melhor forma o defeso do Sporting. Fico também muito satisfeito por ver que a direção conseguiu manter o sigilo das negociações até ao momento em que os testes médicos foram realizados.

Venha rapidamente a confirmação do treinador. Será que é hoje?