quarta-feira, 28 de maio de 2014

Balanço de 2013/14: Luís Filipe Vieira


Nota prévia: no momento em que escrevi este post ainda não vi a entrevista do presidente do Benfica à RTP. 

Quem acompanha este blogue há mais tempo sabe que estou longe, muito longe, de ser um fã de Luís Filipe Vieira. Não tem a ver com o facto de ser presidente do Benfica. Se Vieira fosse sportinguista, quereria que ficasse o mais afastado possível da cadeira de presidente do meu clube.

Independentemente da minha opinião pessoal, não posso negar que este ano correu incrivelmente bem a Vieira. Fez apostas de alto risco e venceu-as quase todas. Mesmo assim, muitas dessas apostas não pareceram tomadas por convicção, mas sim impostas ou por necessidade.

A aposta em Jesus foi um sucesso, mas fiquei com a ideia que a renovação aconteceu apenas para impedir que o treinador acabasse no Porto. Uns meses depois, quando o campeonato começou mal e os benfiquistas já mostravam lenços brancos aos adeptos, é possível que a indemnização de €8M que o Benfica teria que pagar a Jesus no caso de despedimento foi um fator de peso na decisão de Vieira em se manter fiel ao treinador. 

A Benfica TV foi indiscutivelmente um grande sucesso. Não acredito que financeiramente compense em relação à melhor oferta da Sport TV, mas do ponto de vista de afirmação do clube contra um "sistema" hostil foi uma grande jogada. Mas mais uma vez, podemos pensar nos riscos da aposta. Correu bem este ano, mas não nos podemos esquecer que o número de assinantes foi alavancado por uma prestação desportiva de sonho. Será que num ano em que a equipa de futebol esteja uns furos abaixo o sucesso da Benfica TV será idêntico?

A aposta no "melhor plantel dos últimos 30 anos" traduziu-se no domínio em todas as competições nacionais. No entanto, sabemos pelas palavras de Vieira que o plantel foi dimensionado para disputar a final da Champions. O 3º lugar na fase de grupos acabou por ser um fracasso considerável face ao investimento realizado, e a final perdida da Liga Europa acabou por ser fraco prémio de consolação perante a ambição demonstrada.

Isto foi o que correu bem. Também há aspetos negativos a apontar. 

Em primeiro lugar, fica mal a Vieira desaparecer sempre nos maus momentos e estar sempre pronto a amealhar os louros dos sucessos. Desculpabilizou-se da forma como a época anterior terminou com a frase "acha que eu dou pontapés na bola?", coisa que o nº 1 de um clube nunca deveria dizer. Procura sempre os jornalistas no momento das vitórias, mas nos fracassos costuma fugir à comunicação social (como aconteceu após a derrota com o Sevilha) sem se preocupar em dar uma palavra de consolação aos sócios e adeptos benfiquistas.

Podemos também falar da política de contratações. Continuam a chegar camionetas de jogadores, muitos dos quais não chegam a vestir a camisola do clube (Fariña, Pizzi, Lisandro Lopez, Mitrovic, Funes Mori). Não é uma proeza construir um plantel de qualidade quando se compra tanto e tão caro. Entretanto a aposta nos jovens da formação foi mais uma vez colocada de lado.

Continua a meter-se em negócios pouco claros com fundos. A venda de Rodrigo e André Gomes é mais um exemplo na linha do que já tinha acontecido com Roberto. Já se descobriu que afinal não vão receber €45M. O futuro dirá se ainda haverá mais algum pormenor escondido no meio dessas transferências tão pouco racionais (ninguém me convence que algum comprador minimamente atento se disponha a pagar €15M por um jogador que mal era utilizado).

Finalmente, resta saber se o esforço financeiro feito ao longo do ano não terá reflexos negativos no equilíbrio do clube. Quando ouço falar em receitas megalómanas e renovações de contratos com patrocinadores por valores incrivelmente altos, fico sempre de pé atrás. O Benfica pode ser o Benfica, mas não deixa de ser um clube de um país em que há muito pouco dinheiro a circular.

De qualquer forma, com a vitória do Benfica no campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga, e com a ida à final da Liga Europa, só tenho que admitir que Vieira teve uma época de grande sucesso. Por muito que me custe reconhecê-lo.