quinta-feira, 29 de maio de 2014

Balanço de 2013/14: Pinto da Costa


Da mesma forma que acredito que não haja um único portista que fique eternamento grato a Pinto da Costa pelo papel impar que teve na história do clube, também me parece que serão poucos os adeptos portistas que tenham ficado satisfeitos com o desempenho do seu presidente na época que passou.

Nem é uma questão de falta de conquistas, apesar de ser invulgar na história recente do Porto. Na minha opinião é mais grave a exposição pública, ao longo da época, de um estado de desorganização e falta de unidade, precisamente o oposto daquilo que foi uma das imagens de marca do clube nas últimas décadas.

As coisas começaram tortas na forma como se desenrolou o processo de escolha do treinador. O Porto poderia ter arrumado facilmente o assunto logo após o final da época se decidisse renovar com o bicampeão Vítor Pereira, um treinador que apenas perdeu por uma vez em sessenta jogos para o campeonato. Ficou a ideia que o Porto preferiu esperar que o Benfica definisse o dossier Jorge Jesus para decidir o que fazer. Se Jesus não renovasse, provavelmente iria parar ao Dragão. Se renovasse, o potencial interesse do Porto iria obrigar o Benfica a abrir os cordões à bolsa -- como acabou por se verificar. O processo de renovação de Jesus foi prolongado, e o Porto optou continuar na expetativa. Vítor Pereira acabaria por se fartar de esperar e rejeitou a proposta de renovação feita depois de se saber que Jesus tinha assinado por mais dois anos com o Benfica.

A escolha de Paulo Fonseca, por si só, não parecia uma má decisão. No entanto, Pinto da Costa pareceu sempre mais interessado em dar um golpe profundo no rival do que em arrumar a sua própria casa. Perdeu o treinador desejado (Jesus), o treinador que fazia sentido (Pereira), e acabou por se decidir por Paulo Fonseca tarde e a más horas.

Também a construção do plantel foi desastrada. O Porto gastou €30M em reforços, mas poucos acabaram por justificar a aposta. Licá começou bem mas rapidamente perdeu influência. Reyes, Herrera e Carlos Eduardo andaram pela equipa B antes de começarem a ser utilizados. Ghilas andou perdido no banco com Paulo Fonseca, e só com Luís Castro passou a ter oportunidades. Ricardo pouco contou (a não ser para tapar buracos como lateral, por falta de alternativas a Danilo e Alex Sandro) e Tiago Rodrigues foi emprestado. Quintero teve lampejos de brilhantismo, mas ainda era muito novo para fazer esquecer James. Quaresma foi o único que pegou de estaca, mas a queda do Porto na classificação coincidiu com a sua chegada ao clube. Coincidência?

Os rumores de divisões na estrutura foram outro dos temas da época do Porto, e provavelmente isso acabou por se refletir indiretamente no controlo do balneário. Não me lembro de alguma vez ter assistido a tantas demonstrações públicas de insatisfação por parte de jogadores portistas: Jackson e a vontade de sair, o assunto da renovação de Fernando, os inúmeros desabafos de Defour, e ainda queixas de falta de oportunidades de Fabiano e Kelvin (com Iturbe a dar apoio público a Kelvin desde Itália). Junte-se a isto o afastamento de Fucile do grupo de trabalho e o desaparecimento de Izmailov. A saída de Lucho, uma voz de comando no plantel, também não deve ter ajudado.

Também nas intervenções públicas, Pinto da Costa pareceu longe dos seus melhores dias. Ter falado apenas 4 ou 5 dias depois da derrota na Luz para se queixar da arbitragem de Artur Soares Dias foi um ato falhado, e optou por não se dirigir aos sócios e adeptos na pior fase da época (no espaço de 3 semanas em que foram afastados de todas as provas a eliminar e perderam o comboio do 2º lugar).

Salvou-se pouco desta época. A venda conjunta de Moutinho (sub-avaliado) e James (sobre-avaliado) foi eticamente desprezível, mas o Porto limitou-se a tirar partido de um acordo em que os interesses do Sporting não estavam devidamente acautelados. Tiveram uma demonstração de poder no episódio do atraso da Taça da Liga, mas o efeito foi ainda pior ao serem eliminados de forma humilhante pelo Benfica nas meias-finais.

Os tempos não se avizinham fáceis. Com duas das estrelas do plantel (Jackson e Fernando) a quererem sair, com um buraco orçamental para tapar, numa altura em que as vendas fabulosas de outrora são um cenário pouco provável, e ainda com um play-off da Liga dos Campeões para disputar, os portistas devem estar longe de sentir a estabilidade e perícia da liderança a que Pinto da Costa os habituou no passado. O fim da era de Pinto da Costa parece estar a chegar, e todos (portistas e adversários) têm consciência que dificilmente as coisas voltarão a ser o que eram.