quarta-feira, 21 de maio de 2014

Leonardo Jardim: ficará na memória mas não no coração dos sportinguistas

                                                                                                                                        
Gostei da forma escolhida para anunciar a saída de Leonardo Jardim. A postura e competência que o treinador demonstrou ao longo do último ano não merecia menos do que uma saída pela porta grande, com o devido reconhecimento e agradecimento do clube pelo trabalho feito.

Também registo o facto de Bruno de Carvalho não ter dado qualquer pista sobre o futuro treinador. Se já estiver definido e tudo acertado com o sucessor de Leonardo Jardim, é um gesto que fica bem à direção -- era momento de agradecer ao treinador que estava de saída, e seria uma falta de respeito estar a falar do substituto à sua frente. Leonardo Jardim respondeu com a mesma cortesia ao não se pronunciar sobre o seu futro. Por outro lado, se o novo treinador não estiver ainda definido, será obviamente um motivo de preocupação para os sportinguistas. Os próximos dias responderão qual dos casos se trata.


Fico com muita pena de ver partir Leonardo Jardim. Fez um trabalho notável, acima de todas as expetativas, quer na construção de uma equipa coesa, quer no desenvolvimento de jogadores. Cédric, Rojo, e Adrien foram jogadores que demonstraram uma enorme evolução em relação à época anterior. William era um não-fator e foi Jardim que viu nele o monstro em que se viria a transformar. Demonstrou paciência e sabedoria no lançamento de Carlos Mané.

O início de campeonato foi brilhante e devolveu a alegria a Alvalade. Gradualmente os adversários foram percebendo como causar maiores dificuldades ao Sporting, e a equipa empolgante das primeiras jornadas deu lugar a uma equipa pragmática que continuou a amealhar pontos a um ritmo notável. O 2º lugar é uma proeza assinalável atendendo à diferença de condições em relação aos adversários diretos.

Fica também o apreço pelo seu discurso coerente e racional, quer nas conferências de imprensa quer nas flash interviews. As personalidades de Leonardo Jardim e Bruno de Carvalho complementavam-se, e cada um dava a injeção de racionalidade e paixão que os adeptos necessitavam de ouvir e sentir.

Não acredito nos rumores que referiam desentendimentos entre os dois. A saída de Leonardo Jardim deve-se mais à sua personalidade e plano(?) de carreira, do que a diferenças com a direção em relação aos objetivos da próxima época. O Mónaco acenou com mais dinheiro, um campeonato mais visível, e objetivos mais ambiciosos, e Leonardo Jardim fez o mesmo que noutros clubes por onde passou: não hesitou e aceitou o novo desafio.

E é precisamente isso que que me magoa em Leonardo Jardim. O projeto que tinha no Sporting era apenas de dois anos, e não faz sentido que o abandone a meio. Compreendo que é um profissional, que tem que pensar na sua carreira e que há oportunidades que podem tardar em voltar a aparecer. Mas o termo profissional também tem outra vertente: o profissionalismo. E a verdade é que não é uma atitude profissional abandonar, apenas um ano após a assinatura, o clube que apostou nele e que contava com ele para se posicionar noutro patamar do futebol português. 

Num jogador, que tem uma carreira curta, ainda se compreende. Num treinador de 39 anos, que ainda tem mais de duas décadas de carreira pela frente, não lhe fica bem.

Desejo portanto as maiores felicidades a Leonardo Jardim no seu novo desafio, e agradeço-lhe com toda a sinceridade tudo o que fez no Sporting. Conquistou o apreço de todos os sportinguistas, mas abandonou o clube de forma demasiado rápida para merecer ficar no nosso coração.