sábado, 7 de junho de 2014

As inovações de Paulo Bento

                                                                                                                                   
Já suspeitava que ia falhar quando ontem arrisquei o onze que iria entrar em campo, mas de facto Paulo Bento conseguiu novamente surpreender a parte do país que se aguentou até de madrugada para ver o Portugal - México.

Depois do 4-4-2 com que nos presenteou contra a Grécia, Bento decidiu inovar mais uma vez, a nove dias do início do mundial, apostando num 4-2-3-1 e arrancando vários jogadores das posições em que mais rendem não se sabe muito bem em nome de quê.

A principal invenção foi Fábio Coentrão a médio. Aquele que é na minha opinião um dos melhores defesas esquerdos do mundo, na foi colocado no centro, deixando a faixa esquerda para André Almeida, que dentro da sua reconhecida polivalência acabou por ser colocado num dos lugares em que mostra maiores dificuldades. Moutinho foi colocado a 10, jogando demasiado perto da área e do ponta-de-lança, onde é bastante menos útil à equipa. Ou Vieirinha e Nani nas alas, mas a caírem muitas vezes para o meio, já que foi maioritariamente pelo centro que Portugal procurou construir lances de ataque.

Pode ser falta de hábito em ver a jogar a seleção desta forma, mas quando Portugal tinha a posse de bola pareceu-me tudo muito atabalhoado, jogado em espaços demasiado curtos, terminando muitas vezes com um balão para o meio da área na esperança que Éder resolvesse. No meio do caos instalado, acabou por valer sobretudo a raça e entrega demonstrada pelos nossos jogadores.

Depois de uma primeira parte que (com alguma boa vontade) pode ser considerada de razoável, na segunda parte quem mandou foi o México, valendo a excelente exibição de Eduardo para segurar o empate. Portugal acabou por chegar à vitória nos descontos no cabeceamento mais fácil da carreira de Bruno Alves, deixado completamente sozinho no meio da área pelos defensores mexicanos. Em boa hora, porque poderá ser a injeção de moral de que os jogadores necessitam, mostrando-lhes que podemos ter esperanças numa boa participação no mundial mesmo sem Ronaldo.

No final, foram poucas as conclusões que se puderam retirar do jogo. Éder merece a titularidade, Nani vai dando bons indicadores, mas a principal é que ao fim de 4 anos como selecionador, Paulo Bento decidiu que esta é a melhor hora para ensaiar alternativas ao 4-3-3 em que sempre apostou, o que revela um nível de indecisão que é precisamente o oposto das ideias fixas (e muitas vezes teimosia) a que sempre nos habituou. 

Deixa-me extremamente desconfortável ver um selecionador que sempre teimou em colocar os mesmos jogadores independente do seu momento de forma, estar neste momento às apalpadelas à procura de uma nova fórmula de sucesso em vez de estar a fazer as afinações necessárias a um sistema que, melhor ou pior, tem obtido bons resultados e é o que se adequa melhor ao tipo de jogadores que temos. A verdade é que vamos entrar no último terço da preparação para o mundial, e Paulo Bento ainda não testou:

  • Rui Patrício na baliza (por opção)
  • Coentrão a defesa esquerdo (por opção)
  • Pepe a central (por lesão)
  • Veloso ou William a jogarem sozinhos a 6 (por opção)
  • Meireles no meio-campo (por lesão)
  • Moutinho no seu lugar habitual (por opção)
  • Ronaldo (por lesão)


Muitas incógnitas numa altura em que começam a não haver muitas oportunidades de corrigir o que há a ser corrigido.