segunda-feira, 2 de junho de 2014

Balanço de 2013/14: Jorge Jesus

                                                                                                                                              

Em primeiro lugar, tenho que reconhecer que errei tremendamente por três vezes em relação a Jorge Jesus durante este ano. Primeiro, quando pensei que o ciclo de Jesus no Benfica tinha terminado após 3 jornadas no campeonato, apesar de na altura achar que os adeptos benfiquistas estavam a ser muito injustos com o seu treinador. Segundo, quando pensei que a ânsia de sucesso europeu o iria levar colocar a carne toda no assador na Liga Europa logo a partir da eliminatória com o Tottenham, optando por rodar a equipa em jogos do campeonato teoricamente mais simples. E, finalmente, quando pensei que Jesus iria a correr para clubes como o Valência (clube com nome inferior ao do Benfica, mas com meios financeiros muito superiores e integrado numa liga de topo) ou o Milan (emblema histórico, que faz parte de uma liga muito competitiva, apesar de não ter os meios financeiros de outrora) se o convidassem para ser o seu treinador.

Jesus, ao desfazer as minhas suposições, revelou persistência e crença no rumo do trabalho que vinha realizando no Benfica, demonstrou que aprendeu com os erros do passado, e fez ver que está mais identificado com o Benfica do que eu supunha após o linchamento público de que foi alvo no final da época passada. Por outro lado, também revelou menos ambição e auto-confiança do que supunha, ao recusar um convite como o do Milan.

A época de Jesus foi extraordinária pelos resultados que obteve, pela forma como montou uma equipa oleada a ponto de pouco se ressentir da ausência de alguns dos jogadores mais influentes nos jogos de competições consideradas não prioritárias (Liga Europa e Taça de Portugal, principalmente) e, acima de tudo, partindo de uma posição em que a sua saída era desejada por praticamente todos dirigentes, sócios e adeptos do Benfica.

O maior elogio que posso fazer a Jesus é que, com ele, muitos dos jogadores de um plantel já de si riquíssimo, parecem ainda melhores do que na realidade são. Sabem todos o que fazer em campo, parecem um corpo único a defender, e acabaram só por não ganhar jogos em que os adversários tenham sido invulgarmente eficazes na finalização ou em que os próprios jogadores benfiquistas tenham sido anormalmente perdulários. Voltou a ser confrontado com a saída de um jogador fundamental (Matic), mas soube encontrar soluções dentro do plantel de que dispunha sem que a equipa se ressentisse dessa baixa.

Há depois o lado negativo de Jesus, que não tem a ver com o seu trabalho, mas com a sua personalidade e forma de comunicar. Já conhecíamos o Jesus disléxico e arrogante, este ano foi-nos apresentado o Jesus pretensioso (Eça, Paula Rego, Pascal?) e o Jesus insensível, que não pensa nas repercussões do que diz, como foi exemplo o caso dos jovens de formação terem que nascer 10 vezes para virem a ser jogadores de topo.

Também é de lembrar outros três episódios muito negativos que protagonizou esta época: a escaramuça com a polícia em Guimarães, os festejos patéticos e provocadores em White Hart Lane (à semelhança do que já tinha feito no passado com Manuel Machado), e a forma como se descartou da responsabilidade de definir o marcador de um penálti nos descontos em Barcelos, aquando do falhanço de Cardozo. É típico em Jesus se colocar à margem das responsabilidades quando os resultados não são bons, mas não ter problemas em colocar-se bem no centro dos sucessos (ex.: em Bruxelas, disse que lançou Rodrigo porque tinha uma fezada que iria resolver).

Não é que aprecie falsas modéstias, mas nestas últimas entrevistas parece evidente que o sucesso subiu à cabeça de Jesus. Pode ser muito bom no que faz, mas está a roçar os limites do ridículo quando se considerar um dos melhores treinadores do mundo, quando em cinco anos apenas conseguiu uma única presença nos quartos-de-final da Liga dos Campeões, e parece ter receio em aceitar projetos desafiantes em campeonatos mais competitivos que o português. Uma coisa é ter sucesso num campeonato que conhece como a palma da mão, outro é ser o outsider num campeonato mais competitivo.