quinta-feira, 26 de junho de 2014

O mistério da venda de Garay

Só €6M?                                                                                                                                      
A SAD do Benfica anunciou a venda dos direitos desportivos e económicos de Garay ao Zenit por €6M. O Benfica detinha até ontem 40% do passe do jogador, mas o comunicado não especifica se esses €6M se tratam do valor total da transação ou se é o dinheiro que o Benfica encaixará. Tratando-se da segunda hipótese, significa que o Zenit pagou €15M pelo jogador.

Inicialmente esta omissão no comunicado conseguiu lançar a confusão sobre a comunicação social, que apresentou versões diferentes. Por exemplo, enquanto que o Maisfutebol referia que os €6M se referiam ao valor total da transação (cabendo €2,4M ao Benfica), o DN dizia que a venda era de €15M. Entretanto o DN já corrigiu a notícia e alinhou com os valores apresentados pelo Maisfutebol, o que significa que possivelmente a venda total será mesmo de €6M.

Confesso que €6M me parece muito pouco para um jogador desta categoria, mesmo atendendo que ia entrar para o último ano de contrato e que já tem 28 anos. Para além disso, fico sempre de pé atrás atendendo à capacidade de engenharia negocial que Vieira tem revelado no passado - ver casos Roberto, Pizzi, Rodrigo & André Gomes, etc. - para salvar a face da sua direção e fazer passar-se como um grande negociador.

A primeira hipótese que me veio à cabeça foi uma venda subvalorizada de Garay, que seria compensada mais tarde com a venda ao Zenit de outro jogador sobrevalorizado. Desta forma, o Benfica encaixaria mais dinheiro em prejuízo do Real Madrid.

Outra hipótese possível é que Garay tenha invocado a lei Webster nos 15 dias que se seguiram à final da Taça de Portugal - os jogadores só têm 15 dias após o último jogo oficial do clube para rescindirem através dessa lei. O jogador cumpriu 3 anos de um vínculo de 4, e apenas teria que indemnizar o Benfica pelo montante dos seus vencimentos até ao final do contrato - indemnização essa que provavelmente teria que ser repartida pelos outros detentores do passe. Será que a exerceu e a carta de rescisão ficou guardada na gaveta durante umas semanas por acordo entre as duas partes, para dar ao Benfica uma hipótese de o vender? Isso explicaria a mensagem que Garay deixou ontem através do site do Benfica:


Foi através da lei Webster, por exemplo, que Paulo Assunção deixou o Porto para ir para o Atlético Madrid. Esta lei apenas se aplica para transferências para clubes de outros países.

É claro que também pode ter sido uma venda ditada pela necessidade financeira (na conjuntura atual, haver um clube português que paga um salário de €3M a um jogador é uma loucura) e pela pressão exercida pelo jogador para sair.

Quanto à saída do Benfica para o Zenit, é mais um caso que mostra que o dinheiro fala sempre mais alto. Não há 5º ou 6º lugar no ranking da UEFA que valha a qualquer clube português, mesmo quando a alternativa é ser-se desterrado para uma cidade onde viverá congelado durante a maior parte do ano. Money talks, bullshit walks. É assim a vida.