terça-feira, 8 de julho de 2014

Caso prático sobre cláusulas de rescisão

Gerou muita polémica e até escárnio a decisão de o Sporting definir uma cláusula de rescisão de €60M para Tanaka. Sendo um jogador contratado por um valor abaixo do milhão de euros e tendo 26 anos, é altamente improvável que algum clube venha um dia pagar os tais €60M, o que parece ter incomodado muita gente que prefere ver cláusulas de rescisão que representem uma avaliação mais realista do atleta.


Vejamos um caso prático de cláusulas de rescisão mais "realistas": no princípio da época passada o Benfica renovou contrato com um jovem guarda-redes esloveno que nunca tinha jogado na sua equipa principal. O tal jogador vinha de um empréstimo de uma equipa que habitualmente luta pelo meio da tabela da primeira divisão e previsivelmente teria como futuro imediato o papel de guarda-redes suplente do plantel principal do Benfica.


Ao renovarem o contrato, ficou acordada uma cláusula de rescisão de €20M que, para um guarda-redes, é um valor bastante apreciável. Não são muitas, na história do futebol, as transações de guarda-redes que tenham atingido este patamar monetário. Na altura em que Benfica e Oblak acordaram a renovação, deverão ter sido muito poucos aqueles que contestaram o valor da cláusula.


Falo, como é evidente, de Oblak. Ontem circularam notícias de que o guarda-redes fez testes médicos em Madrid sem autorização do Benfica, o que significa que o Atlético estará preparado para pagar os €20M da cláusula de rescisão.


É, do ponto de vista financeiro, uma grande venda. A valorização do jogador ao fim de vinte e poucos jogos é, a todos os títulos, notável. No entanto, aposto que são muito poucos os benfiquistas que ficarão contentes com a venda - a maior parte provavelmente preferiria continuar a contar com o esloveno na baliza da Luz durante mais uns bons anos.


Tivesse o Benfica negociado na altura da renovação para colocar uma cláusula de rescisão de, por exemplo, €60M, e hoje caberia unicamente ao clube a decisão de negociar ou não o atleta com o Atlético Madrid. Em vez disso, já arrancou a pré-época e o Benfica terá agora a complicada missão de encontrar um novo titular para a baliza, e sem quaisquer garantias de que o escolhido conseguirá impór-se da mesma forma categórica que Oblak - se se confirmar a saída do guarda-redes, como é evidente.


Tanaka, Dramé, Enoh, Betinho, Gould, Montero, Cissé e todos os outros possivelmente nunca valerão a sua cláusula de rescisão. Mas é um conforto para o Sporting saber que, caso um dia algum desses jogadores se venha a valorizar enormemente, continuará a ter o poder de decisão de negociar ou não com eventuais interessados, nos termos que forem mais convenientes para o clube - no fundo falamos de uma prática de gestão que melhora enormemente a posição negocial sem custar um cêntimo a mais.