quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A culpa é dos mauzões dos bancos

                                                                                                                                      
Confesso que tenho uma muita curiosidade para saber o que Vieira terá para dizer na entrevista que dará mais logo na Benfica TV.

Não que esteja à espera de grandes novidades, mas principalmente porque quero ver como Vieira se vai apresentar perante os sócios e adeptos do clube a que preside após um inexplicável silêncio que durou semanas, enquanto os benfiquistas assistiam a um desmantelamento sem aviso prévio da equipa que se sagrou campeã nacional e à multiplicação de notícias que colocam em causa a capacidade de tesouraria do Benfica responder às suas obrigações de curto prazo com os credores, após o colapso do BES.

De qualquer forma, creio que não é difícil adivinhar em torno de que tema se fará a maior parte do tempo da entrevista. Não foi inocente o facto de o vice-presidente José Eduardo Moniz ter dado ontem uma entrevista à RR, elegendo como assunto principal a negociação que o Sporting fez com os credores para reestruturar a sua dívida.
"Há cerca de um ano e meio, o sistema financeiro introduziu um fator de distorção competitivo inexplicável quando decidiu perdoar a um determinado clube dívida contraída, e em relação à dívida remanescente decidiu rescaloná-la em vinte anos. (...) O que acabou por se verificar foi que um conjunto de administrações que porventura não geriu tão bem o clube e a sociedade como poderia ter gerido, acabou por ser premiada. (...) É natural que haja reservas da parte do Benfica e haja legítimas preocupações quanto àquilo que o sistema financeiro na altura fez. Não pode haver filhos e enteados."

Moniz disse mais, mas na prática limitou-se a repetir as ideias que transcrevi anteriormente. Ou seja, há uma mensagem a passar, que será repetida tantas vezes quanto as necessárias, que colocam a descoberto qual será a posição oficial do Benfica: forçar a banca (e em concreto a administração do Novo Banco) a não fechar a torneira do crédito ao Benfica. 

O mote está dado e a narrativa escolhida, mas já agora seria interessante que o entrevistador fizesse outras perguntas que muita gente gostaria de ver respondidas, como:

  • Então o Benfica não tinha uma saúde financeira invejável?
  • Qual é o ponto de situação do Benfica made in Benfica?
  • Bernardo Silva, Cancelo e Cavaleiro estão vendidos ou emprestados? Se foram vendidos, quanto é que o Benfica recebeu por cada um? Se foram emprestados, existem opções de compra?
  • O que ganha o Benfica com a parceria com o Orlando City, para onde cedeu a título definitivo dois vice-campeões da UEFA Youth League?
  • Explique lá melhor o desaparecimento de Oblak...
  • Explique lá melhor a venda de Garay...
  • Como se explicam as compras de Djavan, Luís Felipe, Candeias, Friesenbichler e Victor Andrade? Entre valores de transferência, comissões e outros encargos, quanto custaram ao clube esses jogadores?
  • Quem foi o impulsionador da compra dos jogadores acima referidos? O treinador ou a prospeção?
  • Afinal quem é que o Benfica apoiou / apoia para a presidência da Liga?
  • Quantos assinantes tem neste momento a Benfica TV?
  • Qual foi o lucro real da Benfica TV entre julho de 2013 e junho de 2014? Compensou financeiramente em relação ao que foi proposto pela Olivedesportos, conforme foi prometido?
  • Quantos novos sócios aderiram à campanha de angariação? 
  • Quanto custou essa campanha de angariação?
  • Por que motivo vendeu 73.000 ações do Benfica em março passado?

Como é evidente, enquanto adepto de um clube rival a minha curiosidade não vale um chavo, mas creio que os benfiquistas gostariam, para variar, de serem efetivamente esclarecidos sobre o que se passa no seu clube.

O problema é que, como se costuma dizer, burro velho não aprende línguas. Certamente que ficaremos a saber que tudo o que se diz de mal são boatos sem fundamento, que os interesses do clube estão a ser totalmente defendidos, que os outros é que estão em situação aflitiva, e que o que (pouco) de mal está a acontecer ao Benfica deve-se exclusivamente aos mauzões dos bancos.