segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A quantidade também tem as suas virtudes

                                                                                                                                                    
Dizia Jorge Jesus no lançamento do derby que o Sporting deste ano é uma equipa com mais... quantidade, ao referir-se às diferenças que separam a equipa comandada por Marco Silva daquela que Leonardo Jardim conduziu ao segundo lugar na época passada. Este não elogio de Jesus não passou de uma alfinetada no meio de outras observações pouco simpáticas que fez sobre o Sporting (incluindo na conferência de imprensa após o jogo), mas não discordo do que o treinador benfiquista disse, no sentido em que o Sporting deste ano tem muito mais soluções capazes de, a meio de um jogo que não está a correr de feição, repor o equilíbrio necessário em situações de maior aperto. 

A verdade é que foi essa quantidade que, lançada no momento certo, acabou por ser decisiva para primeiro estancar, e depois inverter, uma tendência do jogo entre os 55 e os 65 minutos onde o golo encarnado parecia adivinhar-se a qualquer momento. 

Marco Silva mexeu bem na equipa, primeiro apostando em Capel para manter a bola em nossa posse, arrancar umas faltas e quebrar o ritmo de jogo que estava demasiado sufocante, e depois colocando Mané e Rosell para refrescar o meio campo numa altura em que o jogo já estava mais partido, contribuindo para o crescimento do Sporting no jogo nos últimos minutos em que a vitória acabaria por escapar devido a uma extraordinária defesa de Artur.

Contra isto, provavelmente Jesus desejaria ter mais... quantidade. Fez apenas uma substituição, aos 86', sendo incapaz de interferir no desenrolar do jogo por notória falta de confiança nos jogadores que não fazem parte do onze.

A inacreditável fífia de Artur que está na origem do golo de Slimani acaba por ser o momento incontornável do jogo, que teve várias alternâncias no domínio ora de uma equipa ora de outra (apesar de o domínio mais acentuado ter sido do Benfica na primeira metade da segunda parte), e em que o empate acaba por ser o resultado mais certo - apesar de, confesso, ter-me sabido a pouco pela forma como o Sporting terminou o jogo.



Aplausos

Inteligência na exploração das fraquezas do adversário: o Sporting percebeu os pontos fracos do Benfica e insistiu, insistiu, insistiu nos lançamentos para as costas da linha defensiva adversária e na pressão imediata sobre o jogador do Benfica que recuperava a bola. O golo, apesar de ter sido um erro gravíssimo de Artur, só acontece porque Carrillo não desistiu dessa pressão e porque Slimani já se aproximava para fechar as linha de passe no lado oposto. Era esse o plano e o plano deu frutos porque ajudou a provocar um erro que nos deu o golo do empate. Muitas vezes diz-se que um jogo é decidido nos detalhes - e foi precisamente isso o que se passou aqui.

Mexer bem na equipa e na altura certa: Marco Silva conseguiu provavelmente evitar a derrota ao lançar Capel, que foi importantíssimo para estancar o domínio de jogo do Benfica numa altura em que já se adivinhava o 2-1. Refrescou a equipa com Mané e Rosell a 10 minutos do fim, que foram decisivos para que o Sporting terminasse a partida em claro ascendente sobre o adversário. Não arriscou e tirou os amarelados Carrillo e Adrien - num jogo destes um segundo amarelo poderia surgir a qualquer momento e deitar tudo a perder. Esteve muito bem o nosso treinador.

A presença de Slimani: devolveu ao Sporting aquilo que era mais que evidente para todos - precisamos de mais, muito mais presença na área adversária. O golo foi provavelmente o mais fácil da carreira do argelino, e até teve mais algumas ocasiões para marcar que acabou por desperdiçar, mas é um animal de área que torna o Sporting imediatamente mais perigoso. Vem de uma ausência prolongada que pode explicar a ferrugem demonstrada na finalização, mas é imperioso que continue no plantel.

Carrillo primeiro, Nani depois: na primeira parte Carrillo foi o elemento que mais tentou desequilibrar (em oposição a um Nani discreto), mas mesmo assim nunca deixou de trabalhar incansavelmente em tarefas defensivas. Voltou a confirmar a mudança de atitude em relação ao passado, estando continuamente focado naquilo que tem a fazer em campo, com e sem bola, o que o torna num dos jogadores mais valiosos que temos. A experiência de Nani veio ao de cima a meio da segunda parte, tendo sido decisivo para inverter uma tendência de jogo que nos era desfavorável. Fez uma assistência de morte perto do final que Slimani por pouco não converteu no golo da vitória.

A segurança de Rui Patrício, Esgaio e Sarr: Patrício foi um esteio de tranquilidade para a equipa, tendo brilhado com um punhado de intervenções muito complicadas. Esgaio e Sarr, que pela sua falta de experiência pareciam ser os pontos fracos a explorar pelo Benfica, estiveram muito bem. Prova inteiramente superada.


Assobios

As incertezas à volta de William: não é que William tenha jogado mal, mas esteve longe do monstro que vimos vezes sem conta durante a temporada passada. Certamente que os rumores de mercado terão alguma coisa a ver com um início de época abaixo do que se esperava dele. Para o melhor ou para o pior, é um assunto que estará resolvido amanhã - mas como é óbvio, será fundamental que William continue connosco.

A intranquilidade de Maurício e a concentração defensiva de Jefferson: o central voltou a mostrar-se demasiado nervoso, principalmente com a bola nos pés, enquanto que o lateral ficou ligado ao golo do Benfica - pareceu-me que podia ter feito melhor na cobertura a Sálvio no início do lance do 1-0. Aliás, o Benfica insistiu nos ataques pelo nosso flanco esquerdo precisamente por saberem que Jefferson tem algumas lacunas nesse departamento.


Conquistar um ponto na casa dos rivais é sempre um resultado positivo, independentemente das incidências do jogo que acabaram por se verificar. Mantemos a desvantagem de dois pontos em relação ao Benfica e passamos a ficar a quatro do Porto, mas acaba por ser um resultado moralizador que fecha um ciclo de jogos marcado por uma enorme instabilidade na constituição do plantel. E ao contrário do que muitos pensavam, saímos desse ciclo bem vivos.