sábado, 27 de setembro de 2014

Demonstração de classe

A maior injustiça que se pode fazer ao Sporting de Marco Silva é avaliar o trabalho que está a ser feito pelos resultados. 2 empates e 5 empates estão longe, muito longe, de traduzir a qualidade do futebol praticado, que já tinha sido de bom nível contra Belenenses, Maribor e Gil Vicente (em crescendo), e que conheceu o seu auge na primeira parte realizada contra o Porto. 

O empate sabe a pouco porque poderíamos ter resolvido o jogo ainda na primeira parte. Depois do golo madrugador, ainda tivemos um remate de João Mário para defesa muito difícil de Fabiano, um cabeceamento à frente da baliza do mesmo jogador que sai desviado e um remate de Nani em posição frontal à entrada na área após um slalom inacreditável de Carrillo. Com um pouco mais de felicidade, poderíamos ter transformado a partida de ontem num passeio.

Ao mesmo tempo, era notória a total incapacidade do Porto a sair com a bola jogável. Na primeira parte, os azuis e brancos limitaram-se a bombear jogo para um desamparado de Jackson, que foi sempre bem anulado por Maurício - muito bom jogo do Xerife.

Na segunda parte Lopetegui sacou do ás e da manilha para tentar inverter a situação, e a verdade é que o conseguiu: Óliver impressionou pela personalidade e talento (ninguém diria que tem 19 anos) e Tello foi para campo com o objetivo de expulsar os amarelados Cédric e Maurício - e bem o tentou com aquele mergulho ao passar pelo central, em vez de tentar seguir isolado para a baliza. O Porto passou a ter muito mais bola no pé, o Sporting pareceu acusar o esforço da primeira parte - as bolas divididas que na primeira parte eram todas nossas, passaram a ser conquistadas quase todas pelo Porto na segunda parte - e o Porto foi a equipa mais perigosa. O Sporting acabou por ter também uma grande oportunidade através de uma bomba a 116 kms/h de Capel que embateu violentamente na barra. 

O jogo terminaria com uma oportunidade flagrante de Tello (que parte em posição de fora-de-jogo) que lhes poderia ter dado a vitória, mas a verdade é que o Sporting foi de tal forma superior na primeira parte que uma derrota seria um castigo completamente imerecido.


Positivo

Primeira parte de luxo - foram impressionantes os primeiros 45 minutos do Sporting. Uma demonstração de personalidade, raça e vontade de vencer que encostou o adversário às cordas, tal era o sufoco da pressão alta que impedia que o Porto saísse a jogar, tendo sido inúmeras as recuperações de bola no meio-campo adversário - o golo de Nani surge a partir da interceção de um passe de Rúben Neves. Enormes as exibições de Carrillo, Nani, Slimani, João Mário, Adrien, e até já se viu algo parecido com o William do ano passado.

Aquela jogada de Carrillo - um momento sublime do nº 18 que merecia melhor finalização de Nani. Diz-se que Casemiro, Rúben Neves e Danilo ainda estão a esta hora à procura do peruano. Mas não foi só essa jogada. Carrilo fez uma primeira parte tremenda: a assistência para golo é dele, e ainda foi o autor do cruzamento teleguiado para o cabeceamento de João Mário - que devia ter acabado nas redes de Fabiano. Para além disso foi incansável no apoio à defesa e na pressão sobre os adversários. Foi substituído por Capel numa altura em que já estava esgotado.

As promessas de Jonathan - não consigo imaginar melhor estreia em Alvalade do que marcar um golo ao fim de 80 segundos num clássico. Só por isso, merece destaque. Mas a verdade é que parece ser um jogador realmente muito interessante. Uma carraça a defender, sempre em cima do adversário direto, rápido a reagir, e nunca virando a cara à batalha. A atacar parece gostar de pisar terrenos mais centrais, arrastando o lateral e abrindo uma avenida para o extremo aproveitar se não estiver devidamente acompanhado. Secou Quaresma e só passou por dificuldades perante algumas investidas de Tello, mais por falta de apoio do que por culpa própria. Não foi tão efetivo a cruzar quanto Jefferson, mas aquilo que promete oferecer encaixa-se que nem uma luva no dinamismo ofensivo que Marco Silva está a implementar.

Uma muralha chamada Rui Patrício - teve menos trabalho do que inicialmente seria previsível, mas respondeu de forma fabulosa nos lances em que teve que intervir. Primeiro ao tapar o caminho da baliza a um Jackson completamente isolado, e depois num voo épico que tirou o golo a um fantástico remate de Herrera. Está numa forma soberba o nosso capitão, e voltou a valer pontos.


Negativo

A inconsistência de Sarr - não há dúvida que a partida tinha um nível de dificuldade elevado, e na maior parte das vezes que foi chamado a intervir Sarr esteve bem, mas foram demasiadas as situações em que  o francês cometeu erros e hesitações que me deixaram extremamente intranquilo. Desde alguns passes que foram parar aos pés dos adversários, uma charutada em plena área totalmente na vertical que fez com que a bola fosse cair apenas uns metros ao lado, a forma como se deixou antecipar na área por Herrera - o mexicano estava no chão e foi mais rápido a levantar-se e a seguir com a bola perante a apatia do francês e, claro, o auto-golo marcado da quina da pequena área. Naquela zona do terreno a fiabilidade é uma característica fundamental, e Sarr parece demasiado propenso a cometer erros que não contribuem em nada para a tranquilidade à equipa e das bancadas.

Outra vez anjinhos - quando Casemiro se lesiona, Reyes começa de imediato a aquecer. A equipa médica do Porto entra em campo, e apercebem-se da gravidade da situação. A maca vem, mas Casemiro levanta-se e diz que vai sair pelo próprio pé. A maca abandona o relvado sem passageiro, e quando atravessa a linha lateral Casemiro atira-se novamente para o chão. Mais um bilhete, mais uma viagem, e lá volta a maca para dentro de campo. Casemiro é colocado cuidadosamente na liteira, sai de campo, e Reyes já está pronto para entrar. Uma encenação bem montada que permitiu ao Porto não jogar nem um segundo em inferioridade numérica. Uns minutos depois Maurício leva um golpe na cabeça. A equipa médica entra, avalia, e todos (médicos e jogador) abandonam o campo em passo de corrida para fazer o tratamento. Resultado: vários minutos fora de campo. Os casos de Casemiro e Maurício eram diferentes, mas havia forma de fazer parte do tratamento dentro do relvado. Manhas que podem fazer a diferença em embates como o de ontem.

A choraminguice de Lopetegui - o carácter das pessoas vê-se sobretudo nos momentos difíceis. Estar a queixar-se consecutivamente da arbitragem quando apenas tem razões de queixa num dos jogos é uma forma de disfarçar a cada vez mais que evidente falta de competência para gerir um plantel extremamente rico. Maurício não faz penálti - é um caso claro de bola na mão, num remate de calcanhar à queima, em que o central estava a um metro de Jackson e com o braço na vertical junto ao corpo. Se Lopetegui quer criticar a arbitragem, então que comente a pisadela e varridela por trás que Quaresma fez a Nani sem qualquer intenção de jogar a bola. E deixar Oliver e Tello no banco num jogo desta dimensão não é rotatividade do plantel - é pura idiotice. Lopatético.



Os sinais que o Sporting de Marco Silva está a dar são muito positivos, e deixam-me com grande confiança no futuro. Há muitos anos que não via a nossa equipa a jogar com tanta qualidade, e estamos ainda no princípio da época. Há jogadores que ainda estão num processo de integração que me leva a acreditar que ainda existe uma grande margem de progressão para esta equipa. Nani veio para somar, está a colocar o seu enorme talento ao serviço da equipa, Carrillo finalmente confirma tudo aquilo que prometia, e William parece estar a regressar ao nível da época passada. Três esteios que a jogar no seu melhor nos poderão transportar para um nível ainda superior.

Segue-se agora o Chelsea, num jogo em que a única responsabilidade que temos é deixar tudo em campo.