sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Eu, génio imprevisível


Eugénio Queiroz é um jornalista atípico. Tem um espaço no site do Record (Bola na Área) que aparentemente usa para publicar coisas que gosta de escrever mas que não têm lugar nas edições de um jornal mainstream como é aquele em que trabalha. Nesse espaço escreve sobre tópicos do mais alternativo que se possa imaginar (como as últimas previsões do bruxo de Fafe), mas também gosta de disparar na direção das grandes figuras do futebol português, com uma certa piada, sem papas na língua, e sem ser seletivo nos alvos da sua escrita - não parece interessar-lhe a cor do equipamento.

Ontem, a propósito de Shikabala (obrigado, Tiago), escreveu um texto intitulado "Shikabala e Bolinhos" (bom título) que, sendo perfeitamente razoável e com graça, acaba por descambar completamente no último parágrafo - ao nível de um certo ex-diretor recentemente afastado da liderança de um certo jornal desportivo.



Diz Eugénio Queiroz que lhe custa ver talentos desperdiçados especialmente por quem mais precisa deles (supõe-se neste caso que se trata do Sporting) para voltar a ser quem pensa que é mas já não é (assumo que Eugénio quer dizer com isto um grande clube). Ou seja, numa frase digna de um "eu sei que tu sabes que eu sei que tu sabes", o que eu interpreto é que Eugénio Queiroz acredita que os sportinguistas estão equivocados ao pensar que o Sporting poderá voltar a reclamar um lugar no topo do futebol português.

Não me apetece dar grande importância ao que foi escrito no último parágrafo, já que não tenho um particular talento para decifrar mensagens enviesadas emitidas por (eu)génios excêntricos. Talvez esta provocação final tenha sido uma espécie de homenagem a antigos colegas, ou uma algum tipo de compensação emocional causada pelo trauma psicológico de ver sair o seu antigo líder.

O Record passou a ser liderado por António Magalhães, Bernardo Ribeiro e Nuno Farinha, jornalistas de quem não me lembro de alguma vez demonstrarem falta de isenção (mesmo que não tenha concordado com algumas das suas opiniões e análises - anormal seria o contrário), e acredito que tentarão inverter a vergonhosa linha editorial seguida pelo seu antecessor. Como tal, não vejo nesta frase nenhum ataque institucional do jornal ao clube, e vejo-o mais como um caso que se enquadra na teoria do lone gunman.

O ex-n.º 1 está de malas aviadas depois de uma série de episódios que foram para além dos limites de tolerância. Isto é o que se conhece, mas muito mais haverá para contar e é isso mesmo que se espera dos jornais - que nos contem, e bem, estas histórias.

Voltando a Eugénio Queiroz, o que neste caso me faz espécie (gosto da expressão) é a incapacidade dos jornais e dos seus diretores e chefes de redação para domar este tipo de feras, ou seja, jornalistas especialmente talentosos mas com um génio imprevisível.

Custa-me ver talentos desperdiçados tão facilmente especialmente por quem mais precisa deles para voltar a ser aquilo que deve ser.