segunda-feira, 6 de outubro de 2014

B de buraco?

                                                                                                                                     
Já há algum tempo que tencionava escrever sobre as preocupações que tenho com o rumo da equipa B, mas a notícia de que Francisco Barão estará prestes a ser substituído por João de Deus acabou por torná-la um assunto da ordem do dia.

Antes de entrar em considerações mais concretas, gostaria de partilhar convosco aquilo que, na minha opinião, são os principais objetivos de uma equipa B:

  • Manter os jogadores do plantel principal menos utilizados com ritmo competitivo, de forma que estejam nas melhores condições possíveis no momento em que forem chamados pelo treinador;
  • Servir de plataforma de desenvolvimento e adaptação dos jogadores provenientes das camadas jovens ao futebol sénior, permitindo um acompanhamento mais próximo pelos responsáveis do clube - uma solução que bate aos pontos a alternativa, que era enviar miúdos de 18/19 anos para clubes de dimensão inferior onde o Sporting pouco poderia fazer para assegurar que os seus melhores interesses fossem protegidos.

Como é evidente, é mais agradável que tudo isto venha embrulhado em bons resultados e uma classificação no topo da II Liga, mas isso não é de todo o essencial. Portanto, não é pelo facto de o Sporting B estar atualmente em 12º lugar que eu (e suponho que a generalidade dos sportinguistas) estou preocupado.

Para mim, o que mais me tem custado assistir nesta equipa B é a evidente falta de motivação com que muitos dos jogadores encaram as partidas, traduzindo-se em jogos com ritmo lento e muitas falhas de concentração. E preocupa-me ainda mais ver alguns talentos puros que parecem andar perdidos - nomeadamente aqueles que provavelmente já teriam lugar num nível competitivo mais elevado, como Gauld (vamos ver quanto tempo mais demorará a chegar à equipa principal), Wallyson, Iuri ou Chaby. E também me faz confusão ver um miúdo como Gelson Martins com apenas 108 minutos de competição em 7 jogos.

Se o treinador pode ter um papel importante em manter estes miúdos concentrados naquilo que é essencial, a verdade é que a equipa B vive num limbo criado por uma série de equívocos internos e externos ao Sporting:
  • A existência de um plantel principal sobre-dimensionado, com 27 jogadores, que faz com que os jogadores da equipa B vejam a possibilidade de promoção como uma miragem. Este ano apenas dois jogadores da equipa B foram convocados por Marco Silva: Esgaio, graças sobretudo à "falta de comparência" de Geraldes, e Tobias, graças às saídas de Rojo e Dier, e à lesão de Rabia.
  • A utilização da equipa B como um repositório de contratações de utilidade questionável (como Hugo Sousa, Jorge "Gazela" Santos, Enoh ou Dramé) que acabam por ocupar espaço e minutos que poderiam ser dados a jovens da casa.
  • Uma certa indefinição em relação ao perfil que se pretende para o treinador do Sporting B. Primeiro Abel, que acabou por ser uma promoção natural após um bom trabalho realizado nos juniores, depois Barão, cujo passado como treinador era totalmente desconhecido, e agora (ao que se diz) João de Deus, com um currículo mais preenchido, que fez uma boa época no Gil Vicente.
  • O facto de a II Liga, com 24 clubes e 46 jornadas, a que se somam os jogos da Taça de Portugal e Taça da Liga (provas em que o Sporting B não participa), ser uma aberração competitiva que obriga os clubes a formarem plantéis demasiado extensos e forçando rotatividades excessivas, com as consequentes dificuldades para criar um fio de jogo de qualidade.

Não podemos menosprezar o efeito que a desmotivação pode ter em jogadores jovens e talentosos. Basta olhar para o que aconteceu a João Mário no ano passado. Depois de uma primeira metade de época desapontante e com problemas disciplinares no Sporting B, foi a sua saída para o Setúbal que permitiu a explosão do seu talento - contribuindo decisivamente para os benefícios que agora estamos a colher. 

É fundamental rever a estratégia que está a ser seguida para os jogadores da equipa B. Não podemos dar-nos ao luxo de desperdiçar jovens promissores por não sabermos estimulá-los e dar-lhes as melhores condições possíveis que os levem a quererem superar-se diariamente - só assim conseguiremos ajudá-los a concretizar todo o seu potencial.