terça-feira, 25 de novembro de 2014

Jornalismo desportivo em Portugal: o rigor e a credibilidade

Não percebo: durante as últimas 3 semanas o tema mais debatido neste país (legionella e Sócrates à parte) tem sido a guerra aberta entre Nani e Bruno de Carvalho, e agora...


... Bruno de Carvalho quer comprar o passe de Nani?

Parece que querem fazer dos sportinguistas parvos.

Não vale a pena detalhar todos os obstáculos que podem impedir a concretização deste "sonho" (dos quais o salário, o plano de carreira do jogador, e o orçamento do Sporting serão os principais), mas não há dúvida que esta chamada de capa que cita uma notícia do tabloide Daily Star - estamos conversados quanto à sua credibilidade - é um belo exemplo de como se faz jornalismo desportivo em Portugal.

Aliás, o próprio jornal A Bola contradiz a sua própria capa ao escrever no interior:
"Segundo apurámos, essa tentativa, ou essa abordagem da administração verde e branca junto do colosso inglês, não ganhou ainda forma"

Portanto, sobra um suposto processo de intenções da administração do clube, baseado naquilo que um jornal inglês sem qualquer credibilidade noticiou. Confirmação através de fontes próprias é que nem vê-la, mas publique-se a notícia na 1ª página de qualquer forma. É caso para perguntar: quantas outras vezes o terão feito no passado recente?

Infelizmente esta falta de rigor é prática comum e transversal a toda a comunicação social desportiva. Não há matéria para encher 3 jornais desportivos diários e 5 canais televisivos, pelo que a alternativa é criar casos e alimentar novelas que ajudem a encher páginas e horas de comentário. A única novidade na "notícia" de A Bola de ontem é que se fosse verdade até seria agradável para os sportinguistas. Infelizmente estamos habituados a que a coisa funcione mais ao contrário.

Quando aparecem notícias bombásticas ou improváveis, sem que existam confirmações dos envolvidos, em que não haja matéria que vá para lá do tradicional "uma fonte próxima da direção confirmou" ou "o nosso jornal sabe que", não lhes devemos dar importância e muito menos ajudar a alimentá-las - não só devido à falta de qualidade de um jornalismo que funciona em modo linha de produção em massa, mas também porque é sabido que certos dirigentes do futebol português não têm problemas em utilizar jornalistas para mandar recados ou até plantar notícias falsas. E isto é tão válido para as boas notícias como para as más.