terça-feira, 30 de dezembro de 2014

A noite dos understudies

Não, não foi uma exibição espetacular. O Guimarães foi sempre a equipa mais perigosa, dispôs de várias oportunidades para marcar e merecia seguramente outro resultado. Nada que não estejamos habituados nesta época, mas normalmente com os papéis invertidos. Interessante no entanto que vários comentadores já tenham começado a salientar a quebra de forma do Guimarães - livrem-nos de terem que admitir que os leões que subiram ao relvado do D. Afonso Henriques conseguiram uma proeza notável.

Alinhando com um conjunto de jogadores que é um misto de banco da equipa principal e de recrutas da equipa B, sem rotinas consolidadas e, em alguns casos, sem qualquer ritmo de jogo, a equipa fez o jogo que era possível contra o 3º classificado da Liga - que jogou praticamente com a equipa habitual - e soube compensar as evidentes limitações com uma enorme entrega e espírito de sacrifício.

Mais importante do que os três pontos conquistados para a Taça da Liga, fica a ideia de que há mesmo alguns jogadores que poderão ser alternativas válidas a curto prazo - nomeadamente em fevereiro quando o calendário começar a apertar.



Positivo



A pele ficou em campo - marcar pouco depois do início da partida é um estímulo importante, e os jogadores souberam tirar proveito desse fator; a equipa jogou serena e com grande entrega, não se desmontando quando mais pressionada pelo Guimarães, e nunca virando a cara à luta perante uma das equipas mais agressivas (no bom sentido) do campeonato. Fizeram por merecer a oportunidade que lhes foi dada.



André Geraldes - calhou-lhe a fava ao ter que, fora do seu flanco habitual, apanhar com Hernani pela frente, mas ganhou muitos mais duelos do que perdeu. Teve dificuldades quando Hernani conseguia embalar (quem não teria?), mas na maior parte das situações soube compensar a diferença de velocidade através de um bom posicionamento e tempo de corte. Ainda safou alguns lances bastante perigosos fechando no meio quando o ataque do Guimarães era conduzido pelo flanco oposto. Não teve grandes oportunidades de subir no terreno, à semelhança de toda a equipa.



Tobias Figueiredo - bem sei que as suas exibições na equipa B têm sido irregulares, mas estaria a mentir se não dissesse que Tobias me deu uma sensação de segurança bastante superior a Sarr. Fisicamente muito forte, saiu vencedor de quase todos os confrontos diretos, e demonstrou sempre grande concentração. Atendendo aos nossos problemas no centro da defesa, merece seguramente novas oportunidades.



Wallyson Mallmann - entrou a meio da segunda parte numa altura em que o Guimarães encostava o Sporting à área, e foi fundamental para sacudir essa pressão. Muito combativo defensivamente, teve bons pormenores com a bola nos pés ao sair para o ataque.



Ryan Gauld - teve dificuldades nos primeiros vinte minutos, mas começou a soltar-se com o passar do tempo. Teve alguns pormenores deliciosos que revelam uma visão de jogo e inteligência bastante interessantes. Fico com a sensação que pode render muito mais num jogo em que tenha mais tempo a bola nos pés e com curiosidade para vê-lo jogar com jogadores como Nani, João Mário ou Montero.



Marcelo Boeck - soube recuperar do jogo infeliz com o Vizela. Apesar de não ter feito nenhuma defesa vistosa, teve muito trabalho e esteve sempre muito seguro, principalmente nos cruzamentos.



Negativo


Sarr, Slavchev, Rosell - O francês definitivamente não consegue dar segurança: há sempre uma escorregadela, um domínio de bola imperfeito, um corte atabalhoado ou qualquer outra coisa que ameaça a estabilidade da equipa. Slavchev esteve muito pouco em jogo e mostrou por que motivo nunca tem sido opção. Rosell não esteve mal, mas esperava mais de alguém que é a primeira opção para substituir William Carvalho. Ao nível do passe deixou bastante a desejar.



Depois de uma semana infernal, todos percebiam que até um mau resultado na Taça da Liga poderia servir para incendiar ainda mais a situação do clube. Pelo menos não houve falta de esforço dos comentadores e repórteres de serviço para tentar atear fogo às acendalhas que tinham à mão. Bastou ouvir as palavras de Manuel Queiroz, que registou a poucos minutos do fim a falta de interação entre Bruno de Carvalho e Marco Silva (a sério, que tipo de interação era suposto haver?), ou uma flash interview que se borrifou completamente no jogo que tinha acabado de ser transmitido. Lamentamos que o programa de segunda à noite tenha saído estragado para muita gente...