sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Dois pequenos pormenores que fazem toda a diferença

Gosto muito do programa Linha Avançada. Sou ouvinte regular (não assíduo) há anos porque acho que o registo bem disposto de José Nunes é algo de refrescante em relação a tudo o resto que se faz na comunicação social - e a brincar também se dizem coisas sérias.

Hoje, no entanto, mandou um tiro completamente ao lado quando argumentou a favor da exclusão de Deyverson e Miguel Rosa do Benfica - Belenenses de amanhã:


José Nunes acha que os jogadores emprestados não devem jogar contra os clubes de origem, por causa das suspeições que podem ser levantadas se esses atletas cometerem erros que prejudicam o seu clube atual em favor do clube com quem têm contrato.

Não estou de acordo. Habituei-me a ver os jogadores emprestados pelo Sporting a darem tudo dentro de campo quando nos defrontam: Wilson Eduardo, Cédric, Adrien e João Mário são exemplos relativamente recentes de jogadores que jogaram (e bem) contra o Sporting, causando-nos inclusivamente grandes amargos de boca. Tenho muitas dúvidas que haja algum profissional que se preze que considere a possibilidade de prejudicar conscientemente a equipa e os companheiros com que treina e convive diariamente. A existirem jogadores desses, serão certamente exceções.

O penálti exemplarmente convertido por Tozé contra o Porto é disso um excelente exemplo. Mas é verdade que se tivesse falhado seria motivo de discussão durante dias. E fica muito mal a José Nunes justificar a ação do Benfica com o facto de o Porto ter feito o mesmo com Kléber há umas semanas.

Mas voltando ao caso concreto de Miguel Rosa e Deyverson, há dois pequenos pormenores que desarmam pela raíz a argumentação de José Nunes:
  • A Liga criou uma lei que proíbe explicitamente que os clubes que emprestam impeçam a utilização dos seus jogadores contra si, ou seja, se o Belenenses não utilizar os jogadores (que são titulares indiscutíveis) está a haver uma violação da lei
  • Miguel Rosa e Deyverson não estão emprestados pelo Benfica, são jogadores do Belenenses - o Benfica detém somente uma percentagem dos direitos económicos e direitos de preferência em caso de transferência

O facto de o Belenenses não utilizar os jogadores é uma vergonha para a transparência no futebol, e é mais uma prova que a direção do Benfica aprecia o modo de ação a que o Porto habituou o futebol português - não olhar a meios na obtenção de vantagens competitivas ilícitas sobre os adversários.

Resumindo e concluindo: devia ser proibido o empréstimo de jogadores a clubes da mesma divisão. Acabava com estas discussões e os grandes seriam obrigados a formar plantéis com maior critério.


P.S.: Esteve muito bem o Record ao chamar o assunto para a capa.