terça-feira, 2 de dezembro de 2014

M*rdas que só mesmo connosco, nº 9: Já que falamos em repetições de jogos...

Num fim-de-semana em que existiram erros nos jogos dos três grandes, é curioso que aquele de que se fala mais seja o dos dois toques de William que estiveram na origem do lance que deu o primeiro golo ao Sporting. "Erro técnico", dizem uns, "repetição do jogo", exigem outros.

Vasculhando a minha memória, são raros os casos de jogos que são repetidos na totalidade por causa de uma idiotice destas. Lembro-me de jogos com bolas que não entraram na baliza e que foram validadas como golos, outros com jogadores que viram dois cartões amarelos e permaneceram em campo, o situações persistentes de lançamentos laterais mal marcados, livres executados muito longe do local da falta ou sem que a bola chegue a ficar imobilizada, e nenhum acabou por ser repetido. Mas enfim, de exceções pela negativa está a vida do Sporting cheia.

O único jogo que me lembro que tenha sido mandado repetir foi precisamente do Sporting, por causa deste lance:


No Benfica - Sporting da 30ª jornada do campeonato de 1994/95, Jorge Coroado exibe de seguida o cartão amarelo e o vermelho a Caniggia, que ainda não tinha visto nenhum cartão até esse momento. O Benfica protestou o jogo por erro técnico do árbitro. Jorge Coroado explicou no relatório que se trataram de cartões independentes: o amarelo pelos empurrões mútuos com Sá Pinto, o vermelho por insultos dirigidos a si pelo argentino. No entanto, por uma vez na vida, as instâncias da justiça federativa preferiram ignorar o relatório do árbitro e tomar como bom o protesto do Benfica, obrigando à repetição da partida.

É preciso que se diga que o Sporting venceu o jogo por 2-1 e a classificação ficava assim ordenada:


Numa altura em que as vitórias apenas valiam dois pontos, o Benfica tentava agarrar-se ao que podia para segurar o 3º posto, e com isto beneficiava indiretamente o Porto, já que o Sporting era a única equipa que ainda discutia o título. Amizades que já vêm de longe...

As persistentes diligências de um dos membros do Conselho de Justiça - Sampaio Nora (que mais tarde faria parte das listas de Vale e Azevedo para a presidência do Benfica) - acabariam por surtir efeito e a FPF anulou o jogo, obrigando a uma repetição da partida que se disputaria depois do final do campeonato, sem que o resultado acabasse por ter algum relevância na classificação. O Benfica venceria a repetição por 2-0.

Mais tarde a FIFA acabaria por intervir e dar razão a Jorge Coroado, confirmando a legalidade do jogo original e repondo a vitória do Sporting, demonstrando que em Portugal as leis do futebol são demasiado moldáveis à vontade de determinados interesses. 20 anos se passaram e continua tudo praticamente na mesma.

(obrigado, Brandão e Soleber)