quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Realidades alternativas

O jornal A Bola dá hoje grande destaque à visita guiada de apresentação do centro de estágio do Seixal que Luís Filipe Vieira lhes proporcionou.

Como não poderia deixar de ser, o jornal dedica uma boa parte do espaço às habituais tiradas vieiristas: o presidente do Benfica tanto fala em André Gomes como o grande exemplo da formação do clube (um jogador que apenas esteve um ano nas camadas jovens do Benfica), como refere que "Na próxima época teremos quatro ou cinco jogadores da formação no plantel profissional, é irreversível.". Esta última provavelmente juntar-se-á à enorme compilação de frases feitas que o presidente benfiquista já proporcionou ao anedotário desportivo nacional. 

(se Bruno de Carvalho mandasse recados públicos deste tipo a Marco Silva, imagino a chuva de críticas que se seguiriam de imediato na comunicação social)

Isto num dia em que também se fala em novo empréstimo de Nelson Oliveira (que até agora tem 12 minutos de utilização contra o Covilhã) a um clube estrangeiro, apesar de no plantel continuar a haver espaço para outros jogadores de qualidade duvidosa not made in Seixal. Adiante.

Nada disto é novidade. Se é normal que Vieira tente vender o seu peixe aos benfiquistas, já não é tão normal que os jornais (e em particular os seus responsáveis máximos) aceitem sem qualquer tipo de espírito crítico tudo aquilo que lhes é dito, sem considerar o histórico de promessas não cumpridas e aquilo que é efetivamente a realidade dos clubes e do país. Vem isto a propósito do inacreditável editorial que Vitor Serpa escreveu hoje:


Realmente dá a ideia que Serpa escreveu este editorial a partir do futuro, porque os elogios que faz a Vieira e ao Benfica não são minimamente compatíveis com a realidade atual. 

Diz Serpa que é com alegria que tem vindo a descobrir um novo paradigma desportivo e cultural em Portugal que se impunha em função dos tempos de crise financeira do país, com particular destaque para o Benfica. É absurdo. Não só o Benfica tem esbanjado sistematicamente o investimento que faz na formação, como continua a gastar principescamente em aquisições e salários de jogadores estrangeiros, alguns dos quais sem qualidade que o justifique. Oito anos depois do centro de estágios do Seixal ter sido inaugurado, o país desportivo continua à espera que o Benfica aposte de forma consistente nos seus jovens jogadores.

Eu olho para o futuro idealizado por Vieira que o jornal A Bola apresenta, e vejo apenas a renovação de promessas mais que gastas de aposta na formação e, como não poderia deixar de ser, garantias de mais betão para o Seixal:


Num clube que, apesar das enormes receitas nas vendas de jogadores nos últimos anos, tem sido incapaz de abater o endividamento bancário e obrigacionista, não vejo como é que Serpa acha que o Benfica está a "assumir, enfim, a realidade" quando continua a investir em infra-estruturas de utilidade discutível para o core business do Benfica.

Megalomanias que não espantam, vindas de quem vêm. Mas para quê mudar? Enquanto os bancos não fecharem a torneira não haverá qualquer problema, e nunca serão os jornais desportivos a questionar o quer que seja. Pelo contrário. Engolem a carne que Vieira já lhes fez o favor de mastigar com um enorme e genuíno sorriso nos lábios. E no fim lambem os beiços.