sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Capas que não fizeram história, nº 9: Se o arrependimento matasse

Junho de 2012; coloquei uma capa XL porque vale a pena ler as letras miudinhas

A relação Hugo Vieira - Benfica é provavelmente uma das mais proveitosas na história do clube encarnado. Não só permitiu enfiar um grande melão aos sportinguistas (já que tudo indicava que Hugo Vieira iria rumar a Alvalade) como em termos de aproveitamento desportivo é um caso absolutamente extraordinário.

É que desde que o jogador assinou pelos nossos vizinhos da 2ª circular, o Benfica venceu todos os jogos oficiais em que Hugo Vieira foi utilizado.

Convém referir que nesses jogos Hugo Vieira não jogou pelo Benfica, mas sim pela equipa adversária.

Fonte: zerozero.pt

Suponho que o único momento em que Hugo Vieira terá vestido a camisola do Benfica foi mesmo para posar para o jornal A Bola. 

Pouco tempo depois era despachado por empréstimo para o Sporting de Gijón, da 2ª divisão espanhola, onde somou uns impressionantes 44 minutos durante a sua estadia nas Astúrias. A aventura não correu bem, a acabaria por voltar ao Gil Vicente, também por empréstimo, no mercado de inverno. 

No último defeso, foi novamente cedido pelo Benfica para o Sporting de Braga, desta vez a título definitivo. Foi utilizado em 7 jogos (1 dos quais pelo Braga B contra o Benfica B), com um proveitoso pecúlio de 1 vitória, 1 empate e 5 derrotas. Não espanta portanto que no mercado de inverno tenha sido novamente recambiado por empréstimo para o Gil Vicente.

Nessa passagem pelo Gil Vicente teve uma prestação interessante, pois marcou 8 golos em 14 jogos. Pena é que esses 14 jogos em que participou tenham terminado em 2 vitórias, 1 empate e 11 derrotas para o clube de Barcelos. Hugo Vieira quase que fez o jogo da sua vida a 16 de Fevereiro de 2013, quando defrontou o Sporting em Barcelos marcando dois golos. Não foram no entanto suficientes, pois o Sporting ganhou por 3-2. 

É caso para dizer que se o arrependimento matasse, Sporting de Gijón, Sporting de Braga e Hugo Vieira já não estariam entre nós. Quanto ao Sporting Clube de Portugal, mesmo vivendo a pior época da sua história, não houve momento algum em que alguém se tenha lamentado por não ter conseguido assegurar os préstimos de Hugo Vieira.

Alguém perdeu uma excelente oportunidade para ficar calado.

Coincidências giras

No princípio desta semana, o leitor King_lion chamou-me a atenção para esta coincidência: em todos os jogos da 17ª jornada defrontam-se equipas que estiveram emparelhadas nos grupos da Taça da Liga. 

Em 3 casos, há a coincidência de se repetirem jogos no espaço de uma semana (Benfica - Gil Vicente, Porto - Marítimo e Braga - Belenenses). Nos outros, se substituíssemos as equipas da II Liga que estiveram na 3ª fase da Taça da Liga, pela equipa da I Liga que cada uma eliminou, a 17ª jornada seria uma fotocópia de um conjunto de jogos da 2ª e 3ª jornada da fase de grupos. Complicado? Vejam este quadro que preparei.



O sorteio da Taça da Liga realiza-se da seguinte forma:

1. Estabelece-se uma hierarquia para definir os potes, em função da classificação da época anterior. No caso da edição deste ano, resultaram nos seguintes agrupamentos:
  • Porto, Benfica, Paços e Braga no pote 1; 
  • Estoril, Rio Ave, Sporting <suspiro> e Nacional no pote 2; 
  • Marítimo, Setúbal, Gil Vicente e Belenenses no pote 3; 
  • Beira-Mar, Leixões, Penafiel e Covilhã no pote 4.

2. No sorteio, uma pessoa tira a bola do clube e outra pessoa tira a bola que indica em que grupo vai ficar.

3. Depois de definidos os grupos, é sorteado uma de seis grelhas possíveis para definir os emparelhamentos entre as equipas pelas 3 jornadas. Foi sorteada a grelha 1.

Como devem calcular, o nível de coincidência para que as equipas que se defrontam na 17ª jornada (substituindo obviamente as equipas eliminadas pelas que as eliminaram) estarem todas emparelhadas nos grupos da Taça da Liga não são muito altas.

O tempo em que tive cadeiras de Probabilidade e Estatística já lá vai, mas do pouco que me lembro podem fazer-se cálculos deste tipo:

Probabilidade de Benfica (pote 1) e Gil Vicente (pote 3) ficarem no mesmo grupo: 25% (hipótese de 1 em 4)
Probabilidade de Benfica e Gil Vicente + Porto (pote 1) e Marítimo (pote 3) ficarem no mesmo grupo: 25% x 33% = 8,25% (1 em 12)
Probabilidade de Benfica e Gil Vicente + Porto e Marítimo + Braga (pote 1) e Belenenses (pote 3) ficarem no mesmo grupo: 25% x 33% x 50% = 4,13% (1 em 24)
Probabilidade de Benfica e Gil Vicente + Porto e Marítimo + Braga e Belenenses + Paços (pote 1) e Covilhã (pote 4) ficarem no mesmo grupo: 25% x 33% x 50% x 25% = 1,03% (1 em 97)


Continuando por aí fora, os cálculos complicar-se-iam porque entraríamos em probabilidades condicionadas pelos emparelhamentos entretanto já calculados, e isso já são contas a mais para a minha cabeça. Não sei há se alguém que leia isto que seja especialista em cálculo de probabilidades e que possa dar um número mais credível que o meu, mas a atirar por alto, diria que a hipótese destes 8 emparelhamentos serem sorteados andaria na escala dos 0,05% (que nesse caso representaria uma probabilidade de 1 em 2000).

Pelo pequeno vídeo que vi aqui, tudo foi feito de forma perfeitamente transparente. Não creio que tenha havido qualquer tipo de manipulação, até porque não vejo que benefícios alguém pode tirar daqui (tirando o facto de Igor Rossi, por ter sido expulso no sábado no Dragão, não poder alinhar contra o Porto para o campeonato). Benefício esse que também se estendeu a Braga (João Meira, do Belenenses, foi expulso) e Belenenses (Vukcevic, do Braga, também foi expulso), e que se poderia estender também a Benfica e Gil Vicente caso as circunstâncias do jogo tivessem sido outras.

É claro que também poderia ser só alguém a demonstrar que tem o poder de fazer com que estas coincidências possam mesmo acontecer, na linha da teoria de que o Porto se atrasou 3 minutos apenas para mostrar quem é que são os chicos-espertos cá do burgo, sem quererem tirar daí qualquer outro benefício.

É que já começam a ser casos a mais, em Portugal e lá fora, de situações a levantarem suspeita.

Enfim, teorias.

Não me canso de ler isto

in O Jogo

O futebol é um jogo de onze contra onze em que no fim ganha...

... o Benfica. Pelo menos para o canal de youtube slbenfica! Links aqui e aqui.





quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Capas que não fizeram história, nº 8: O Pelezinho

Julho de 2007

A propósito do que escrevi há pouco sobre Shikabala, nada melhor que recordar a chegada de Freddy Adu ao Benfica. Quando foi anunciada a contratação do jogador, as expetativas eram elevadíssimas. 

E depois o Record ofereceu-nos esta capa: Pelé, o Rei (será que Eusébio apreciou este título dado ao brasileiro?), segura Adu ao colo e diz que Deus deu um dom ao jovem(?) americano. A partir deste momento, era evidente o que todos os benfiquistas iriam esperar em cada jogo de Adu:


Sabendo o que sabemos hoje, temos mesmo que dar razão a Romário: Pelé calado é um poeta. Não só Adu acabou por ser uma tremenda desilusão, como quem realmente decidiu o jogo contra dos prisioneiros aliados contra a Alemanha foi o Stallone.

Sporting nas compras

Os últimos dias foram férteis em notícias sobre jogadores apontados ao Sporting. Primeiro Dramé, que entretanto já está confirmado, e depois Shikabala.

Dramé parece ser uma aposta semelhante à de Enoh, uma contratação sem custos e de baixo risco, na esperança que o potencial que lhe é atribuído há anos finalmente se concretize. No entanto, tratando-se de um jogador que já tem 21 anos e que na última época apenas jogou 10 partidas oficiais numa divisão inferior italiana, não fico muito otimista.

Aliás, faz-me confusão o Sporting estar a contratar um extremo para a equipa B, porque se há posição que as escolas do Sporting sempre forneceram em quantidade e qualidade, é precisamente essa. Terá o jogador alguma característica que o diferencia dos restantes extremos da equipa B? Logo veremos.

Quanto a Shikabala, trata-se de outra entrada sem custos para o Sporting, mas em termos de risco a conversa é outra. 

Em primeiro lugar, olhando para os vídeos que podem ser vistos na internet sobre o jogador, é difícil não ficar entusiasmado. A velocidade e a técnica demonstrada são impressionantes (o golo mais espetacular que vi nesses vídeos por acaso é de Robinho, mas existem muitos outros que são fantásticos).

No entanto, quando alguém me mostra um vídeo do youtube como cartão de visita de um jogador, vem-me logo à memória um outro jogador: Freddy Adu. Quando veio para o Benfica, fiquei assustadíssimo ao ver inúmeras jogadas absolutamente impressionantes. Parecia um daqueles craques que ganham jogos sozinhos e valem campeonatos. Vários anos depois sabemos como acabou por correr a experiência de Adu em Portugal: 11 jogos pelo Benfica, 3 pelo Belenenses, e o balanço final foi uma tremenda desilusão.

Pelo que diz quem o conhece, Shikabala pode jogar quer pelas faixas quer pelo meio e parece ter qualidades que poderão ser muito úteis contra adversários mais fechados. Nesse sentido poderá preencher uma das principais lacunas do plantel do Sporting.

Na melhor das hipóteses, parece-me que será um jogador com um papel a desempenhar na linha de Slimani, ou seja, alguém que está no banco e que pode ser lançado nos últimos 30 minutos numa altura em que o desgaste é maior e os espaços começam a aparecer com mais facilidade. Uma 2ª pedra para o plano B poderá ser tremendamente útil.

No entanto, não nos podemos esquecer que Shikabala vem de um campeonato pouco competitivo para os padrões europeus e tem um historial de conflitos atribuídos ao seu temperamento complicado. Junte-se a isto o facto de ir integrar uma equipa rotinada com a época em curso com apenas mais 14 jogos oficiais para disputar até Maio, e temos montado um cenário pouco favorável para a afirmação do jogador. Para além disso, esperemos que a chegada do jogador não tenha um efeito negativo em André Martins.

É certo que esta mesma direção e equipa técnica acertaram na contratação em mercados menos populares como no caso de Maurício, que chegou da 2ª divisão brasileira, de Slimani, da liga argelina, e de Montero, da liga americana, mas também falharam em Magrão e Welder.

Mexer num plantel coeso a meio da época é uma jogada de risco, principalmente considerando que o clube não foi forçado a vender nenhum jogador importante. E também aumenta as responsabilidades do clube, pois será inevitável que a imprensa associe o reforço do plantel a uma escalada nas ambições para o campeonato.

Seria bom que Leonardo Jardim (não me passa pela cabeça que não tenha aprovado esta contratação) explicasse os motivos que levaram o Sporting a avançar para a contratação de Shikabala.

Resumindo, vejo tantos riscos quanto oportunidades com estas contratações. Preferia que não houvessem mexidas no plantel, a não ser que se tratasse da integração de algum jogador da equipa B, como Esgaio. Mas como é evidente, a partir do momento em que as novas contratações são anunciadas, fico desejoso de os ver em ação e espero sinceramente que me façam engolir as palavras que acabei de escrever. Nada me faria mais feliz.

Jorge Gabriel e Jaime Mourão Ferreira

Miguel Guedes, durante o programa Trio d' Ataque do último domingo, procurou desvalorizar a importância do atraso com que o Porto - Marítimo começou:


O argumento que o Miguel Guedes usa é que na 1ª parte o atraso foi de "dois minutos e tal" e na 2ª de "quarenta e cinco segundos". 

É falso. Segundo as contas da TVI, que transmitiu ambas as partidas, a diferença foi de 2m45s no início do jogo, e de 3m12s no princípio da 2ª parte.

De qualquer forma, Jorge Gabriel, não contestou a afirmação do seu colega de painel.

Pouco depois, Miguel Guedes voltou à carga:


Miguel Guedes esfrega de forma pedante os 45 segundos na cara de Jorge Gabriel. Gobern ainda tenta rebater como pode, trazendo o caso Calabote à baila, mas o representante do Sporting mais uma vez fica calado.

No dia seguinte, no programa Grandes Adeptos, na Antena 1, Miguel Guedes já não tem as mesmas facilidades. Quando o tema do atraso do Porto - Marítimo é mencionado, não é Miguel Guedes que está ao ataque. Quem está ao ataque é quem foi efetivamente prejudicado pelo atraso do jogo:


Aqui Miguel Guedes nem se atreveu a falar em atrasos de 45 segundos, alargando para "dois minutos e meio". E muito menos pôde fazer o ar de virgem ofendida que tantas vezes faz na RTP Informação.

Duas formas bem diferentes de defender o Sporting. Jorge Gabriel tem estado melhor nas últimas semanas, mas mesmo assim não é suficiente. Miguel Guedes faz o que quer de Gabriel e de Gobern, pois é o único elemento daquele trio verdadeiramente bem informado sobre tudo o que acontece no mundo do futebol. Miguel Guedes é extremamente competente, e como sabe que os outros se preparam mal, está à vontade para distorcer factos -- dificilmente será contrariado. 

O mesmo não acontece com Jaime Mourão Ferreira, que na minha opinião é o melhor representante do Sporting neste tipo de programas. Vai bem preparado, sempre com resposta adequada e pronta, tem uma memória impressionante, defende intransigentemente o Sporting e nota-se na voz que vibra com o clube.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Capas que não fizeram história, nº 7: A caça ao pato

Maio de 2007

Quem diria que uma capa poderia conter nela própria tanta sabedoria sobre as reais motivações que os jornais têm ao fazer manchetes sensacionalistas? 


Caça ao pato. Nem mais.

Quanto ao jogador, a história é conhecida. Dois meses depois voava para Milão, juntamente com as ilusões dos benfiquistas que ainda iam nestas cantigas.

Bruno de Carvalho, by Luís Sobral

Começa a ser uma tradição: quando Bruno de Carvalho fala publicamente para criticar algo, lá vem Luís Sobral dedicar-lhe uns parágrafos na sua rubrica Desce. É sobre isso que vou escrever, com uma narrativa tipo Memento, que começa nos dias de hoje e vai recuando gradualmente no tempo.


I. Penafiel - Sporting (Janeiro de 2014)

O exemplo mais recente diz respeito às declarações feitas no final da 3ª jornada da Taça da Liga, e foram comentadas assim por Luís Sobral.


Colocando o vídeo da conferência de imprensa de Bruno de Carvalho à cabeça para ilustrar o artigo, Luís Sobral escreve que "Apesar de estar nisto há uns meses, Bruno de Carvalho ainda não entendeu o óbvio: às vezes perde-se. O futebol é assim. E, por norma, perde-se porque alguém foi melhor."

É justo dizer que Luís Sobral aproveita para estender as críticas ao treinador do Porto pelas suas declarações, escrevendo que "custa vê-lo no papel menor de moço de recados"


II. Sporting - Nacional (Dezembro de 2013)

Há cerca de um mês, Luís Sobral dedicou outro Desce a Bruno de Carvalho, após as declarações sobre a brilhante performance de Manuel Mota no Sporting - Nacional.


Ficou-me na retina esta comparação que Luís Sobral deixou no final: "NOTA: quando oiço discursos como o de Bruno de Carvalho depois do jogo com o Nacional tenho vergonha do futebol português. Na verdade, nada disto é novo. Só mudam os nomes. Hoje Bruno, ontem Luís, Jorge, João, Pimenta, Bartolomeu, Valentim. Coisa triste e lamentável esta."

Interessante como nesta lista ilustre apenas Bruno de Carvalho tem direito a ser identificado pelo nome completo. Outros poderão ter passado mais despercebidos, como o Luís e o Jorge. Não percebi o motivo pelo qual Luís (Sobral) não usou os apelidos dos outros dirigentes (com exceção de Pimenta e Bartolomeu, bem entendido). E comparar Bruno, que chegou apenas há meses, a outros dirigentes que têm o seu nome associado a casos de corrupção e burla (num país com uma justiça que funcionasse estariam todos atrás das grades) parece-me tremendamente injusto.


III. Benfica - Sporting (Novembro de 2013)

Basta recuar mais um mês para encontrarmos outro Desce dedicado ao presidente do Sporting, a propósito das declarações de Bruno de Carvalho no final do Benfica - Sporting para a Taça de Portugal sobre os erros de Duarte Gomes.


Mais uma vez, Luís Sobral não poupou o presidente do Sporting, escrevendo "Por último o presidente do clube. Bem, vocês devem ter ouvido. Não merece comentário, até porque estou obrigado a conter-me dentro dos limites da boa educação. E não conseguiria.".


IV. Sporting - West Ham (Agosto de 2013)

Na pré-época, no final de um jogo no Torneio Guadiana com o West Ham, Bruno de Carvalho dirigiu-se ao trio de arbitragem a demonstrar o seu desagrado sobre a dureza permitida aos jogadores ingleses. Achei na altura que o presidente o fez de uma forma que achei despropositada. Neste caso estou perfeitamente de acordo com o comentário feito por Luís Sobral, em mais uma rubrica Desce


Nesta sua crítica merece o meu aplauso pois fê-la de uma forma construtiva: "Nesse contexto, o papel de Bruno de Carvalho, o presidente, é fundamental. Confesso que ainda não o entendi, mas pode ser problema meu. Não percebo a necessidade de se colocar tão à frente das câmaras, não percebo a reação desproporcionada à equipa de arbitragem na segunda-feira. Não percebo a atitude face a Labyad.".


V. <adivinhem sobre o que é> (Abril de 2013)

Precisamos de recuar mais uns meses para encontrarmos mais um Desce dedicado a Bruno de Carvalho. Não, ao contrário do que estarão a pensar, Luís Sobral não o criticou após o Benfica - Sporting de João Capela. No entanto, nesse mesmo mês de Abril já havia criticado o presidente do Sporting. Sobre o quê? O conflito com a banca.


O presidente do Sporting foi deselegante com a banca. Vejam lá aquilo com que se preocupou Luís Sobral, um dos puristas do futebol a quem normalmente só interessa falar de jogadores e do mérito que tem quem vence dentro das quatro linhas, independentemente do nível das ajudas externas. Isto foi escrito duas semanas após a tomada de posse de Bruno de Carvalho e o tom empregue pelo diretor do Maisfutebol foi bastante categórico.

"A conferência de imprensa de Bruno de Carvalho esta tarde foi um exercício inédito de pressão sobre a banca.", escreveu. "Já quanto ao estilo o estado de graça terminou, pelo menos para mim. A conferência de imprensa com adeptos é uma prática antiga, própria de dirigentes inseguros e organizações que não sabem comunicar.", rematou Luís Sobral.

Mas houve algum período da história em que Bruno de Carvalho esteve em estado de graça para Luís Sobral? Segundo o próprio sim. E, na realidade, é possível encontrar um artigo sobre Bruno de Carvalho na rubrica Sobe, aquando da sua eleição.


VI. A vitória nas eleições (Março de 2013) - rubrica SOBE

É verdade, o diretor do Maisfutebol dedicou mesmo um Sobe a Bruno de Carvalho. Ora tomem e embrulhem, detratores de Luís Sobral:


Esta é a prova de que Bruno de Carvalho viveu mesmo um estado de graça sobralesco, como podem ver pelo texto abaixo.


Ou seja, o estado de graça de Luís Sobral foi um enorme ponto de interrogação, e mesmo assim durou apenas duas semanas. Foi uma espécie de benefício da dúvida embrulhado em grossas camadas de cepticismo. Não o censuro por isso, mas parece-me escasso que este caso tenha sido o único momento em que Sobral considerou Bruno de Carvalho merecedor de um Sobe, apesar de tudo o que o presidente do Sporting entretanto fez e lutou pela recuperação do clube.



Entretanto, numa galáxia muito distante

Recentemente Pinto da Costa arrasou Soares Dias muito para além do seu trabalho no Benfica - Porto. Criticou a atuação nesse jogo, a sua capacidade enquanto árbitro e até o homem que existe para além do árbitro. O que escreveu Luís Sobral? Nada. 

Uns meses antes Pinto da Costa acusou o árbitro de inventar um penalty no Estoril - Porto, e o que escreveu Luís Sobral? Nada. 

Luís Filipe Vieira disparou em todas as direções na sequência do empate entre Benfica e Belenenses, e o que escreveu Luís Sobral? Também nada.

No período entre Março de 2013 e Janeiro de 2014, apenas encontrei um Desce dedicado a Pinto da Costa, pela forma "rude" como se referiu a Vítor Pereira aquando da apresentação de Paulo Fonseca.

Seria interessante perceber os motivos desta diferença de tratamento.

Vira as costas à corrupção!


Gosto. Lá estarei de costas voltadas durante 1 minuto, e a apoiar os restantes 89.

https://www.facebook.com/events/467981789991086/

Mais depressa se apanha um Paulo Fonseca que um coxo

Muito bem a TVI24 a destacar esta inconsistência no discurso de Paulo Fonseca. Não estou a ver a RTP a atrever-se a fazer o mesmo.


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Capas que não fizeram história, nº 6: Band of Brothers

Agosto de 2013

Poucos dias depois da venda do melhor médio defensivo do mundo, a grande promessa benfiquista para o lugar 6 acabou por receber guia de marcha indo à experiência para um clube holandês da segunda metade da tabela. Repito, à experiência. Está visto que os dirigentes do NAC Breda não costumam ler o jornal A Bola e não sabem a jóia que acabou de lhes cair no colo.

Quem deve estar muito feliz com a forma como todo este processo se desenrolou é Filip Markovic. É melhor que não se habitue demasiado ao clima ameno de Lisboa.

Não é frequente ver jornais respeitáveis recorrer a pontos de exclamação nas suas manchetes ou textos. É caso para dizer que A Bola se entusiasmou muito depressa com tão pouco. Se há capas que se parecem com uma ejaculação precoce, esta é certamente uma delas.

Comparações infelizes de Miguel Sousa Tavares

Miguel Sousa Tavares, na sua página de opinião no jornal A Bola, escreveu o seguinte:

Não vou discutir mais uma vez o Apito Dourado, agora com o Eduardo Barroso. (...) Repito que o Apito Dourado foi investigado e julgado por 17 magistrados judiciais e do Ministério Público e apenas um magistrado do MP, obrigado a tal pela Dr.ª Maria José Morgado, se atreveu a deduzir acusação, escudado no precioso testemunho da D. Carolina Salgado, e tendo recebido do tribunal uma sentença tão devastadora e humilhante que eu recomendo vivamente ao Eduardo Barroso que a leia (...)
Não, eu não ouvi as escutas - estas ou quaisquer outras, porque sei bem do que se trata e como se usam. Quer saber se eu acredito que a "fruta" não eram meninas para o árbitro? Não, não acredito. Mas sei (note: sei) que todos os clubes faziam isso com todos os árbitros que o pediam. O que a justiça, desportiva e judicial, teria de provar era a existência de um nexo de causalidade entre isso e um resultado de um jogo - e foi isso que não foi capaz de fazer. (...)
Em matéria de certezas, o que sei é que houve um clube cujo vice-presidente foi apanhado a transferir dinheiro para a conta de um árbitro que iria dirigir um jogo seu e sem conhecimento deste, a fim de depois, não gostando da arbitragem, o clube poder vir dizer que o árbitro fora comprado. Aconteceu há dois atrás e com o Sporting. (...) Dir-me-á o Eduardo Barroso que o Sporting não pode ser responsabilizado pela actuação de um seu dirigente. Não? Não era disso que se tratava no Apito Dourado?

Há muito para dizer sobre este comentário de Miguel Sousa Tavares. Começo pelo que me é mais incómodo.

Sou o primeiro a reconhecer que Paulo Pereira Cristóvão cometeu um ato indigno de um dirigente do Sporting, que não pode ser tolerado. No entanto, MST enganou-se. A ideia de Cristóvão não passava por acusar o fiscal-de-linha no caso de a arbitragem não lhe agradar. A ideia era afastar o fiscal-de-linha do jogo com o Marítimo. A prova de que era essa a ideia é que o Sporting entregou uma denúncia à FPF de suspeitas de corrupção nas vésperas do Sporting - Marítimo. Não deixa de ser lamentável, mas são coisas completamente diferentes.

Em termos de gravidade, diria que procurar impedir que um fiscal-de-linha esteja presente num determinado jogo fica a milhas da rede de corrupção e de tráfico de influências que o Porto montou para benefício próprio e direto (ou para prejudicar rivais) em variadíssimos jogos das mais diversas competições.

MST diz que não ouviu as escutas, mas devia. Talvez ganhasse um pingo de vergonha por ter dirigentes daqueles à frente dos destinos do seu clube. 

Diz que acredita que a fruta são meninas oferecidas aos árbitros, mas defende-se dizendo que todos os clubes o fazem, como se isso fosse desculpa para alguma coisa. E recusa uma relação de causa / efeito com os resultados desportivos. Prefere viver num permanente estado de negação, e fazer de conta que a fruta e café com leite oferecidos aos árbitros não passavam de uma colaboração bem intencionada de toda a estrutura portista para angariar clientes para os estabelecimentos noturnos do seu colega e amigo Reinaldo Teles. Com fins puramente comerciais, claro. 

Voltando à infeliz comparação que MST fez, termino com uma constatação de factos. Não sei se se apercebeu, mas foi uma questão de semanas para que Paulo Pereira Cristóvão fosse afastado da direção do Sporting a partir do momento em que se descobriram os seus atos. Nem poderia ser de outra forma, os sócios do Sporting nunca admitiriam que continuasse em funções.

Pinto da Costa (e os seus homens de confiança) continuam incontestavelmente na liderança do clube para deleite dos sócios e adeptos portistas. O resto é conversa.

Adeus, Taça da Liga

Aquilo que inicialmente prometia ser uma competição interessante rapidamente se transformou num destroço graças ao pior que o futebol português tem para oferecer. 

A ideia inicial era boa: uma forma de preencher um calendário esvaziado pela redução de equipas das competições profissionais, com um formato inovador que procurava assegurar jogos competitivos até ao fim, e prémios monetários bem interessantes para a realidade portuguesa.

No entanto, não tardou muito para que caísse em descrédito pelos motivos do costume: péssimas arbitragens e dirigentes com agendas obscuras.

Primeiro, com o erro gravíssimo que entregou de bandeja a vitória na 2ª edição ao Benfica que rebatizou a competição de Taça Lucílio Baptista.

Depois, as sucessivas declarações de Pinto da Costa sobre o seu desinteresse na Taça da Liga acabaram por afugentar os patrocinadores e, com eles, os prémios chorudos -- tudo isto com o único objetivo de desconsiderar a competição, para que as vitórias que o Benfica entretanto acumulou não sejam contabilizadas na estéril discussão de qual o clube que tem mais títulos.

Ontem o Sporting veio dar a estocada final na Taça da Liga ao emitir um comunicado sobre os acontecimentos de sábado.



O comunicado do Sporting

O ultimato que o Sporting apresentou não será, como é óbvio, atendido pela Liga. Quem estará presente nas meias-finais será o Porto, pois num país em que a justiça desportiva não pode utilizar provas inequívocas de corrupção para penalizar clubes e dirigentes prevaricadores, muito menos será capaz de provar a verdadeira e evidente intenção do Porto ao atrasar o início do jogo com o Marítimo.

Os dirigentes do Sporting sabem disso. E tendo essa consciência, significa que estão a usar a Taça da Liga como sacrifício para tentar despertar consciências. Se o Sporting levar para a frente a ameaça -- e Bruno de Carvalho já demonstrou não é homem para fazer ameaças vãs -- não há empresa que volte a querer ver o seu nome associado à bagunça que a Taça da Liga se transformou. Se já era difícil, com esta declaração de intenções passará a ser impossível.

Confesso que ainda não sei muito bem o que pensar desta estratégia. Independentemente disso, não acho que faça sentido que o Sporting tenha misturado no comunicado os casos de arbitragem. Por outro lado, fico muito satisfeito por ver que tenho uma direção que se bate pelos interesses do Sporting com toda a determinação. E revejo-me totalmente nesta parte do comunicado:

"Releva-se, ainda, que o Sporting Clube de Portugal efectivamente não solicitou, nem ao Delegado da Liga, nem à Equipa de Arbitragem, que a 2.ª parte do jogo Penafiel-Sporting recomeçasse com atraso, para não cometer o ilícito disciplinar previsto no art. 116.º do Regulamento Disciplinar da LPFP, passível de aplicação de sanção. O Sporting Clube de Portugal pugna pelo cumprimento escrupuloso dos regulamentos não os incumprindo só porque os outros o fazem em total desrespeito para com as competições em que participam, o fair-play e honestidade que todos deve guiar."

É que, ao contrário do que vários comentadores têm dito, o Sporting não tem que ser anjinho ou deixar de o ser. O Sporting tem que cumprir sempre os regulamentos, por respeito ao desporto e aos adversários. Se os outros não fazem o mesmo, são atitudes que ficam com quem as toma.

Ganhar a qualquer custo? Nunca. Posso ter que esperar ainda mais, mas quando ganhar o sabor da vitória será redobrado.

Em condições normais não acharia piada a isto...

... mas para o Mota abro uma exceção!

(vídeo: 44s; pode ser visto também aqui, entre os 5m16s e os 6m00s)

(quem não costuma conseguir ver estes cortes de vídeo que faço via tubechop, podem dizer-me se o link que coloquei está a posicionar-se corretamente nos 5m16s do vídeo no Youtube? Obrigado!)

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Capas que não fizeram história, nº 5: O jogador do campeonato

Agosto de 2013

Após uma utilização de 14 minutos na Supertaça e de 30 minutos na 1ª jornada, surgia o fenómeno Juan Quintero. Se no jogo da Supertaça entrou numa altura em que o jogo já estava decidido, no começo do campeonato contra o Setúbal o jogador colombiano foi lançado por Paulo Fonseca aos 59' quando o resultado ainda estava 1-1, e o Setúbal jogava com menos um jogador após expulsão do guarda-redes Kieszek. Um minuto depois de entrar, Quintero disparou uma bomba de fora da área e fez o 1-2.

A partir daí choveram elogios ao jovem colombiano. Quintero já fazia esquecer James Rodriguez. Quintero espalhava magia. E até isto:



Como não poderia deixar de ser, Pinto da Costa não perdeu tempo e tratou de tirar todas dúvidas aos adeptos portistas a quem deveriam agradecer tamanha dádiva. "Este miúdo vai ser muito importante", "Já o seguíamos há muito tempo e sabíamos tudo sobre ele", afirmou.

Passados alguns meses, ao fim de 16 jogos para o campeonato, Quintero soma uma impressionante utilização de 337 minutos, que corresponde a 23% do tempo em que Helton esteve em campo.

Estranho é que na recente entrevista ao Porto Canal, Pinto da Costa não tenha mencionado o excelente plantel que colocou à disposição de Paulo Fonseca e, em particular, a sua decisão de comprar 50% do passe de Quintero por €5M.

Mais recentemente, quando o Porto contratou Quaresma, Pinto da Costa preferiu ser mais prudente e disse que se tratou de um pedido expresso do treinador. Vamos ver se o presidente do Porto manterá essa versão se Quaresma voltar a demonstrar as qualidades que tinha na sua passagem anterior pelo clube.

A causa que nos une

Fiquei tremendamente desiludido com o que se passou no sábado. Não pelo valor facial da Taça da Liga, que é perto de zero, mas pela forma impune como Pinto da Costa e o seu clube continuam a conspurcar todas as competições em que estão envolvidos.

Os quase 4 minutos andam a ser desvalorizados por muitos, mas a esses deixo-lhes uma observação: se os jogos têm começado à mesma hora, quando o Porto faz o 2-2 o Sporting ainda teria 8 minutos para conseguir mais um golo. Como não começaram, quando o Porto faz o 2-2 já o 4º árbitro em Penafiel andaria a mostrar a placa com o tempo de descontos. Psicologicamente parece-me haver uma grande diferença.

O estratagema utilizado não é novo e na realidade não posso dizer que tenha ficado surpreendido. A mentalidade chico-espertista da estrutura portista é mais que conhecida, e é evidente para todos que a generalidade dos seus adeptos se revê totalmente nessa forma de estar no desporto.

No entanto, a forma eufórica como festejaram um apuramento numa prova que sempre afirmaram desdenhar, após mais uma demonstração de falta de competência dentro das quatro linhas (não vi o jogo mas as opiniões que li para isso apontam), acabou por funcionar para mim como uma injeção de otimismo para o futuro próximo.

É bom que aquela malta acredite que as vitórias continuarão a aparecer independentemente da qualidade que exibam dentro do campo. Esse tempo está a acabar, e quando acabar será com estrondo.

O afastamento de sábado é de facto difícil de engolir e o desabafo de Bruno de Carvalho no final do jogo não é mais que a expressão pública do sentimento que era comum a todos os sportinguistas naquele momento. 

Espero que os acontecimentos deste fim-de-semana sirvam para reforçar a determinação do presidente do Sporting, e também de todos os sportinguistas. Vale a pena continuar a lutar todos os dias, pois a causa que nos une é justa. O clube tem um rumo bem definido e vejo competência, empenho e coerência de uma ponta à outra da organização. 

É uma causa contra a corrupção, contra os empresários oportunistas, contra o despesismo desenfreado, contra as comissões encapotadas, contra a propaganda que grassa nos media, contra os milhões de treta. É uma causa a favor da transparência, da lealdade, da formação, do mérito e da verdade desportiva.

Episódios vergonhosos como os de sábado, como as arbitragens dos Proenças, Xistras ou Motas ou como as declarações do moço de recados que chefia o Conselho de Arbitragem, podem provocar alguma revolta no imediato, mas acabarão por aumentar a nossa vontade em contribuir da forma que pudermos para acabar com toda esta podridão. E a melhor forma de o fazer é estarmos presentes em força em Alvalade no próximo domingo para demonstrarmos o nosso apoio aos jogadores, à equipa técnica e à direção. Mostrar-lhes que acreditamos neles, que não caminham sozinhos e poderão contar sempre com a companhia dos mais fiéis adeptos de Portugal.

EDIT: para quem ouviu dizer que a 2ª parte dos jogos começaram à mesma hora, recomendo a consulta da imagem que se segue.


Milhões da Treta II - O Regresso

in abola.pt

O Benfica precisa de dinheiro. Vieira evita vender para não ser culpabilizado na eventualidade de perder mais uma vez o campeonato. E, de repente, aparece esta notícia tão boa, mas tão boa, que até parece um milagre. 

Como já estou suficientemente velho e gasto para acreditar em lindos contos de fadas com finais felizes, aquilo que é tão bom que parece mentira, acaba invariavelmente por ser mesmo mentira.

Jorge Mendes não chegou onde chegou sendo parvo. Por isso duvido que ele possa achar 15 milhões de euros um preço justo por um jogador que, embora tendo potencial, mal tem calçado nos últimos 12 meses.

Luís Filipe Vieira é Luís Filipe Vieira. Um homem que se preocupa imenso com a sua imagem de homem de sucesso, capaz de manipular os números que forem precisos para salvar a face.

Esta "venda" de André Gomes só pode ser explicada de duas formas lógicas:

1ª hipótese - Venda à Roberto - assina-se um contrato de transferência dos direitos desportivos e económicos, sabendo que nunca irão receber a totalidade do dinheiro. Quem sabe se André Gomes não será uma forma de pagamento de dívidas antigas ao empresário?

2ª hipótese - Empréstimo de dinheiro sob a forma de transferência - Mendes empresta efetivamente €15M ao Benfica, e a cedência dos direitos económicos de André Gomes é só para CMVM ver. Mendes receberá o dinheiro por fatias em futuras vendas do Benfica, ou através de outras contrapartidas não divulgadas. Entretanto a tesouraria do Benfica fica mais folgada, as contas podem ser mascaradas e Vieira tem mais uma "venda" fabulosa.

Não existem outras hipóteses. O CM, A Bola e o Record podem fazer as capas que quiserem, mas só é enganado quem é parvo ou quem prefere viver iludido do que encarar a realidade.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Um homem difícil de contentar

Luís Sobral, na rubrica Desce no Maisfutebol, a 22 de Dezembro de 2013

Luís Sobral, na rubrica Desce no Maisfutebol, a 26 de Janeiro de 2014

Luís Sobral é um homem difícil de contentar. 

Bruno de Carvalho iniciou o seu mandato a poucos meses do fim da época de 2012/13. Teve assuntos urgentes para tratar relacionados com a sobrevivência do clube. Creio que ninguém lhe poderá levar a mal ter demorado cerca de 9 meses a apresentar as propostas, atendendo que há presidentes que andam por aí há 10 ou 30 anos e que nunca mexeram uma palha nesse sentido.

Entretanto, o Sporting divulgou o tal documento. Parece-me que fez todo o sentido a sua apresentação imediata, já que nunca é cedo de mais para se discutirem melhorias do quer que seja. Ainda por cima falamos de temas cuja discussão, aperfeiçoamento e eventual aprovação será um processo que demorará largos meses, sendo totalmente impossível de serem tratados numa janela temporal apertada como a de Junho - Agosto.

Em relação à crítica ao momento que Luís Sobral fez, estamos conversados.

Quanto ao local, não estou totalmente em desacordo com Luís Sobral. Seria mais apropriado que a discussão fosse feita de forma mais formal no seio da Liga. 

No entanto, numa altura em que a Liga de Clubes está em pé de guerra, com 14 clubes a tentarem a destituição da atual direção, parece-me que seria impossível conseguir-se um ambiente construtivo em que a discussão se centrasse apenas no documento apresentado e que deixasse de lado as recentes disputas pelo poder.

De facto, a reunião da semana passada não foi realizada no local ideal, mas foi o local possível. Para além disso, não invalida que seja discutida na Liga ou na Federação em tempo oportuno. E parece-me positivo que chegue à Liga já trabalhada pelo maior número possível de clubes, em vez de uma proposta de um clube isolado que não se deu ao trabalho de consultar outras sensibilidades.

Quanto à FPF, o Sporting já se deslocou à sede para apresentar o documento. Até a única reação conhecida é a do presidente do Conselho de Arbitragem, que foi o mais destrutiva possível. Vítor Pereira fez-nos o favor de relembrar que se estivermos à espera de consensos, nunca nada será feito, independentemente da forma da apresentação e do conteúdo do documento.

Quatro minutos à Porto

Não tive possibilidade de ver o jogo, pelo que fui acompanhando as incidências do Penafiel - Sporting e do Porto - Marítimo regularmente pelo telemóvel. Não sei se houve ou não penalties mal assinalados. Não sei se jogaram bem ou mal. O que sei é que mais uma vez o Porto usou um estratagema antigo para seguir em frente numa competição que sempre apregoou desdenhar, sem que as entidades que regulam a competição tenham feito algo para o impedir.

Temos que reconhecer que o sorteio dos grupos foi favorável ao Sporting. Ao receber o Porto em casa, tínhamos à partida melhores condições que o adversário para seguir em frente. Nesse jogo, o Sporting fez uma exibição que em condições normais seria suficiente para vencer, mas do outro lado esteve um Fabiano inspirado que acabou por segurar o empate.

A partir daí pareceu haver uma enorme vontade dos astros em ajudar o Porto a seguir em frente. Primeiro, tendo na 2ª jornada a possibilidade de jogar com o Penafiel conhecendo o resultado do Sporting - Marítimo, o que é importantíssimo atendendo ao facto de ser evidente para todos que o apuramento se resolveria pela diferença de golos.

Curiosamente, o Penafiel deu uma réplica interessante, que foi quebrada pela interrupção do jogo por causa da chuva. A partir dessa interrupção o Penafiel acabou para o jogo e o Porto conseguiu ampliar o resultado de um comprometedor 1-0 para um confortável 4-0.

Quis também o destino que para a 3ª jornada o Marítimo abdicasse de levar alguns dos seus jogadores mais perigosos, como Héldon (o 3º melhor marcador da Liga) e Derley, apesar de ainda terem hipóteses matemáticas de discutir o apuramento.

A sequência afortunada do Porto prosseguiu com o facto de ninguém da Liga se preocupar em assegurar que os dois jogos se iniciavam em simultâneo. Por acaso, os quatro minutos de atraso com que o jogo começou acabaram por ser o suficiente para transformar um desaire difícil de aceitar numa qualificação miraculosa.

É muita sorte junta.

sábado, 25 de janeiro de 2014

As escolhas do Marítimo para o jogo com o Porto

Compreendo as opções de Pedro Martins em deixar os principais jogadores de fora, pois a probabilidade de se conseguir apurar é infinitesimal.

No entanto, espero nunca mais ouvir o ainda treinador do Marítimo, na sua carreira, usar as palavras "acredito enquanto for matematicamente possível". Desde ontem, ao revelar os convocados, perdeu esse direito.

As presenças e ausências na discussão das propostas do Sporting

No dia 21, um conjunto de clubes reuniu-se para debater as propostas que o Sporting apresentou para melhoria de diversos aspetos relacionados com o fenómeno futebolístico em Portugal.

Estiveram presentes: Sporting, Benfica, Guimarães, Gil Vicente, Marítimo, Setúbal, Arouca, Belenenses, Paços Ferreira, Tondela, Farense, Leixões, Beira-Mar, Feirense, Santa Clara e Oliveirense. 16 clubes.

Não estiveram presentes mas explicaram a ausência: Nacional (falta de ligação aérea devido ao mau tempo), Ac. Viseu (roubo nas instalações) e Atlético (não ouviu a mensagem no telemóvel a tempo). 3 clubes.

Não estiveram presentes nem se deram ao trabalho de explicar porquê: Porto, Braga, Estoril, Rio Ave, Académica, Olhanense, Moreirense, Portimonense, Penafiel, Covilhã, Aves, Chaves, U. Madeira e Trofense. 14 clubes.

Compreendo que o Porto não tenha ido, devido ao corte de relações com o Sporting. Já me custa mais a compreender que outros clubes façam o mesmo, principalmente emblemas com história no futebol português como o Braga ou Académica. 

Não me preocupa isto por ser uma afronta ao Sporting -- não é o Sporting que está aqui em causa. O que me preocupa é haver uma lista bastante significativa de clubes que nem sequer se incomoda em debater possíveis alterações para benefício do futebol em Portugal.

Estranho também que os 5 primeiros classificados da II Liga (se excluirmos as equipas B) não tenham comparecido. Será que não querem desagradar alguém que lhes possa dificultar a vida na luta pela subida de divisão?

A amarelo as equipas da II Liga que não compareceram nem explicaram a sua ausência

Há aspetos na proposta do Sporting que poderão ser polémicos. O sorteio puro dos árbitros dificilmente encontrará consenso. Outros, como o aumento dos poderes dos stewards, têm implicações legais que podem ser difíceis de ultrapassar a curto prazo. Mas há muitas outras sobre as quais provavelmente todos os clubes estarão todos de acordo.

A recusa em debater melhorias para o futebol português demonstra que há clubes que colocam o orgulho e a subserviência acima do interesse comum. Uns por terem medo de irritar o dono, e outros por viverem confortavelmente na podridão reinante.

Existe um poder reinante em Portugal que não está interessado no aparecimento de movimentos que ameacem abanar o funcionamento de um sistema que tão bons resultados proporciona a uma minoria seleta. Nesse sentido, não surpreendem as declarações totalmente desapropriadas do presidente do CA, Vítor Pereira. Mudar para quê, se lhes anda tudo a correr tão bem?

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Capas que não fizeram história, nº 4: Os milhões da treta

Agosto de 2011

Delicioso o pormenor dos dois sacos de dinheiro que o Record colocou para ilustrar os montantes envolvidos na compra e venda de Roberto. Ainda bem que os desenharam fechados, porque se os tivessem desenhado abertos se calhar iríamos ver bolinhas de esferovite a transbordar do saco da direita. 

Podemos sempre ver as coisas por um prisma positivo: se o Zaragoza realmente entregou ao Benfica um saco daqueles, pelo menos Vieira ficou com um bonito pouf para pôr no seu gabinete.

Vou abster-me de fazer mais comentários a isto. O tipo que aparece no lado esquerdo da capa disse tudo. De milhões da treta percebe ele bem.

Há presidentes que se demitem por isto?

O presidente do Barcelona demitiu-se ontem devido aos contornos pouco claros da transferência de Neymar do Santos para o clube catalão.

in record.pt

Um presidente que se demite por ser acusado de uma transferência cujos montantes não correspondem ao que o clube anunciou? Por ser acusado de distribuir comissões milionárias não declaradas? Num clube com sócios capazes de colocar uma ação contra a direção do clube?



Para que servem os regulamentos?

Ouvi ontem na Bola Branca das 18h15 que o Gil Vicente sempre vai comparecer no Estádio do Restelo para jogar a última jornada da fase de grupos da Taça da Liga com o Benfica. Como é conhecido, o relvado do Estádio da Luz não está em condições.

Mas houve algo que a direção do Gil Vicente referiu que achei interessante: o Gil Vicente não é obrigado a aceitar uma alteração de campo unilateral por parte do Benfica.

Nos regulamentos da Taça da Liga é possível ler-se o seguinte:


Para se mudar o local de um jogo, é necessário um acordo escrito pelos dois clubes. Acontece que pelos vistos o Gil Vicente não foi consultado nesta alteração:


Sendo assim, para que servem os regulamentos? O Benfica já está apurado, é certo, mas não devia fazer a viagem até Barcelos?

Já no ano passado o Porto violou os regulamentos ao utilizar jogadores num jogo da Taça da Liga sem que tivesse passado o período mínimo desde o jogo anterior pela equipa B. É certo que foi por 15 minutos num jogo que foi antecipado a pedido da própria Liga, pelo que era legítimo invocar o espírito da lei para não ser penalizado. E acabou mesmo por não ser penalizado.

O que me incomoda é ver que existe alguma arbitrariedade na decisão de quando é que os regulamentos não são afinal para ser seguidos à risca. E isso não me deixa nada confortável, porque existem muitos casos em que o bom senso não é tido nem achado. Quem na Liga está a definir a métrica que separa a letra da lei do espírito da lei? 

Balanço das arbitragens: 16ª jornada

Benfica 2-0 Marítimo (Hugo Miguel)
41' - Rodrigo parte em posição de fora-de-jogo no lance em que faz o 2-0 - decisão errada, no momento do passe de Markovic, Rodrigo está adiantado
72' - Markovic cai na área, o árbitro não marca penalty e considera simulação - decisão errada, o defesa do Marítimo coloca a perna à frente do sérvio e derruba-o, devia ter sido assinalado penalty
=: arbitragem sem influência no resultado

Arouca 1-2 Sporting (Cosme Machado)
63' - Tinoco vê o segundo amarelo após falta sobre Slimani - decisão errada, o defesa faz falta mas não é motivo para amarelo
66' - Rojo vê o segundo amarelo após falta sobre Serginho decisão errada, o defesa faz falta mas não é motivo para amarelo
=: arbitragem sem influência no resultado, o Sporting não tirou nenhuma vantagem durante o período em que jogou com mais um jogador

Porto 3-0 Setúbal (Hugo Pacheco)
33' - Setúbal pede penalty por mão de Mangala na área - decisão correta, a bola bate apenas no peito do defesa do Porto
85' - Kelvin cai na área após tentativa de corte de Pedro Queirós - decisão correta, o defesa do Setúbal joga apenas na bola
=: arbitragem sem influência no resultado


Resumo da jornada



Acumulado da época



Classificação



Jogos com arbitragens com influência no resultado





quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Como nascem 14 milhões de benfiquistas

Recentemente, Rui Gomes da Silva referiu no programa Dia Seguinte que o Benfica tem 6 milhões de adeptos em Portugal e um total de 14 milhões em todo o mundo.

A forma tão natural como o vice-presidente do Benfica lançou este número para o ar apanhou de surpresa os seus colegas de painel, que depois de uma pausa para assimilarem o que tinha acabado de ouvir, tiveram que inevitavelmente gozar a bom gozar com as palavras de Rui Gomes da Silva. Paulo Garcia é que não achou piada, e tratou logo de ir em salvamento do seu mais-que-tudo.

Confesso que nunca tinha ouvido falar na existência de 14 milhões de benfiquistas em todo o mundo. Ou se ouvi, escapou-me da memória. Por isso, pus-me à procura pela internet da origem deste número.

Em primeiro lugar, deixem-me dar a minha definição (formal) de benfiquista: indivíduo da raça humana que deseja as vitórias do Benfica acima de qualquer outro clube. Para mim, uma pessoa que viva em Espanha e que diz que o clube em Portugal com que mais simpatiza é o Benfica, mas que torce bem mais a sério por um clube espanhol, não é um benfiquista. 

O máximo que admito é que uma pessoa possa dividir o coração entre o clube da terra e um dos grandes. Só aí poderemos considerar alguém adepto efetivo de dois clubes em simultâneo.

Voltando aos 14 milhões, a primeira coisa que salta à vista numa pesquisa rápida na internet é esta infografia, referente a um estudo efetuado em Março de 2006:


Tenho várias considerações a fazer sobre este quadro:

  • A autoria do estudo: Vox Pop (empresa de estudos de mercado, suponho) com a colaboração do INE e da Secretaria de Estado das Comunidades, que dá logo um ar oficial a tudo isto.
  • Segundo o estudo, em Portugal existem 4,7 milhões de benfiquistas, o que significa que Rui Gomes da Silva só usa as partes que lhe interessam.
  • O que dizer dos números dos "benfiquistas" espalhados pelo mundo? 116.000 benfiquistas na Indochina? Deve ser por isso que ficaram célebres os festejos nas avenidas de Hanoi na conquista do campeonato pelo Benfica em 2010. Ou então não. É deliciosa também a precisão do número de benfiquistas em todo o mundo, mas em particular na Índia: 699. Num país que tem mais de 1.200.000.000 de habitantes, gostaria de saber qual foi a projeção que utilizaram para chegar a esta quantidade tão exata de benfiquistas.
Referência ao estudo in tsf.pt

Bom, adiante. Tentei encontrar mais coisas sobre o estudo, mas não consegui. Existem inúmeras empresas de estudos de mercado em todo o mundo chamadas Vox Pop, ou Vox Populi, e nenhum dos sites que visitei faz referência a este estudo. 

No entanto, não foi tempo perdido, pois no meio destas pesquisas acabei por me cruzar com algo muito mais interessante

in maisfutebol.pt

Vejam bem a enorme coincidência: os números apresentados nesta notícia de Abril de 2005 são iguaizinhos ao estudo que Vox Pop, INE e Secretaria de Estado das Comunidades revelariam nove meses mais tarde. E vejam também a curiosidade de o estudo de Abril de 2005 ter sido encomendado e apresentado pela administração da SAD do Benfica.

Na notícia de 2005 podemos ver que este "estudo" foi encomendado a uma empresa estrangeira, mas não há nenhuma referência ao INE ou à Secretaria de Estado das Comunidades. Foi, pura e simplesmente, um estudo de mercado encomendado pelo Benfica. E sabemos que neste tipo de coisas não há estudo que não vá ao encontro das expetativas de quem adjudica o contrato, a bem de oportunidades de negócio futuras. Logo, tem o valor que tem. Zero.

Gostaria só de saber quem andou a colocar o nome de entidades oficiais no "estudo" de 2006. Suponho que propaganda seja isto mesmo.

Mas a verdade é que nem seria preciso apresentar esta argumentação toda para contestar a teoria dos 14 milhões de benfiquistas. Um pouco de bom senso seria suficiente.