segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O melhor amigo dos adversários

Depois de uma primeira parte completamente amorfa, em que o Sporting parecia não estar muito interessado em vencer o jogo, nada fazia prever a segunda parte frenética e de elevadíssimo nível a que acabaríamos por assistir. O Sporting fez uma enorme exibição na primeira metade da segunda parte e os dois golos marcados nesse período foram curtos para a quantidade de oportunidades criadas, mas depois de ter feito o mais difícil sofreu de imediato um golo que relançou o Rio Ave na partida e que foi psicologicamente devastador - para o público nas bancadas e também para os jogadores. A falta de experiência nota-se nestas coisas: não perceber quando é hora de acelerar ou congelar a bola, manter a concentração em vez de descomprimir, saber medir o nível de risco aceitável quando estamos em vantagem no marcador. E por duas ocasiões deixámos o adversário voltar à vida.



Positivo

O regresso dos balneários - apenas com a alteração de Mané no lugar do lesionado Carrillo, ninguém diria que os outros dez jogadores que voltaram do intervalo eram os mesmos da primeira parte. Mané deu uma nova dinâmica à equipa, mas definitivamente não foi apenas isso. Não sei o que Marco Silva lhes disse no balneário, mas nos primeiros 25 minutos da segunda parte o Sporting fez um jogo demolidor, com uma sucessão imparável de ocasiões de golo que acabariam por se traduzir em dois golos. O que é facto é que houve muito mais velocidade e muito mais vontade de levar a bola até à baliza de Cássio. 

Sabem onde podem enfiar os quatro milhões de euros? - diz que há uma equipa ucraniana a oferecer €4M por Jefferson. Sei que estamos na época de saldos, mas creio que o Sporting limita as promoções da época aos artigos da Loja Verde. Jefferson mais uma vez foi decisivo ao fazer um cruzamento incrível para o golo de Montero, e ao tirar dos pés de um jogador do Rio Ave um golo certo ainda na primeira parte. Fez piscinas atrás de piscinas no flanco esquerdo, sendo um dos destaques da noite. Está em grande forma. Menos que €20M (que é a cláusula de rescisão) é mal vendido.

Noite de estreias - Tobias fez um jogo um pouco irregular. Esteve particularmente mal nos primeiros cinco minutos da segunda parte em que cometeu três erros, mas genericamente acabou por ter uma exibição positiva. Teve algumas intervenções preciosas e não tem quaisquer responsabilidades nos golos sofridos. Gauld entrou a meio da segunda parte e teve pormenores deliciosos: esteve no terceiro golo, com o túnel que antecedeu o passe para Nani, e fez um passe picado para Montero que, isolado, devia ter rematado à baliza em vez de passar para trás. Ganhou pontos para voltar a ser utilizado brevemente.

E o Tanaka vai marcaaaar - o japonês começa a ser um jogador talismã. Depois de ser herói em Braga, devolveu hoje a tranquilidade ao estádio ao fazer o 4-2. Está a aproveitar ao máximo os minutos que lhe estão a ser dados.

Nove portugueses em campo, oito da formação - quando Mané entrou, o Sporting alinhava com Rui Patrício, Cédric, Paulo Oliveira, Tobias Figueiredo, William Carvalho, André Martins, João Mário, Nani e Carlos Mané. É uma pena que o Sporting recuse em apostar na formação, conforme vários comentadores têm dito e escrito nos últimos tempos.


Negativo

A apatia da primeira parte - o futebol do Sporting caracterizou-se por uma enorme falta de velocidade e dinâmica, com os jogadores a manterem-se quase sempre estáticos e com pouca vontade de se aproximarem da área do Rio Ave. Nos momentos em que um ou outro jogador do Sporting cortava no sentido da área a pedir um lançamento em profundidade, o portador da bola ou não via ou simplesmente não queria arriscar o passe. O Rio Ave mereceu inteiramente chegar ao intervalo empatado.

Falta de presença na área - sei que Montero gosta de participar na construção ofensiva, mas anda a exagerar. Desce TANTO no apoio aos médios que depois deixa uma clareira junto à área, facilitando a tarefa do adversário em encurtar os espaços demasiado longe da baliza. Para além do golo que marcou, destacou-se principalmente pelos remates de fora da área. E devia ter rematado à baliza naquele passe do Gauld. É muito bom jogador, mas não é disto que precisamos enquanto Slimani não regressa.

O nosso 4º golo - foi uma enorme sensação de alívio quando Tanaka sentenciou a nossa vitória, mas não gostei nada da atitude da equipa nos últimos minutos da partida. Em vez de tentar adormecer o jogo, retendo a bola, aproveitando todos os momentos possíveis para deixar correr o relógio, andámos a tentar procurar o golo quase como se estivéssemos empatados. Exemplos: Montero a sair em corrida ao ser substituído por Tanaka; Jefferson a marcar um lançamento menos de três segundos depois de a bola ter saído de campo; Nani a fazer um remate a 30 metros de distância em que as hipóteses de sucesso eram baixas; William Carvalho a aproximar-se demasiadas vezes da área do Rio Ave, arriscando expor a nossa defesa se perdêssemos a posse de bola; um canto marcado para o meio da área em vez de manter a bola junto à bandeirola de canto - como se o 1º golo do Rio Ave não tivesse sido lição suficiente - e, para terminar, a pressão altíssima que acabaria por estar na origem do golo de Tanaka. Faltou inteligência na gestão do jogo. 

A discussão gerada no lance do penálti - o colombiano é agarrado dentro da área de forma ostensiva e continuada. Não se atirou para o chão mas foi evidentemente prejudicado na disputa do lance. Penálti claríssimo (não tive dúvidas a partir do meu lugar na bancada oposta) que não justificava aqueles protestos dos jogadores do Rio Ave. Diego Lopes empurrou o árbitro e devia ter sido expulso. Com que autoridade é que o árbitro pode prosseguir o jogo permitindo este tipo de comportamento aos jogadores?

A falta de espinha de Pedro Martins - depois de ter sido escandalosamente prejudicado no Dragão (com vário erros a prejudicarem o Rio Ave, incluindo dois penáltis não assinalados), a reação de Pedro Martins foi a seguinte: 
Tem algo a dizer sobre dois lances na área do FC Porto após o 1-0? "Muito sinceramente, falar deste jogo é muito complicado. Parece-me penálti no lance do pontapé de canto mas falar disso depois de um 5-0 parece despropositado."
Hoje, num jogo em que há um penálti bem assinalado, em que o árbitro perdoou uma expulsão a um jogador seu, e em que efetivamente pode ter razões de queixa no lance do segundo golo do Sporting, decidiu soltar toda a sua indignação utilizando argumentos espantosos como por exemplo o facto de ainda não ter nenhum penálti a favor esta época - algo que por algum motivo preferiu não reclamar na altura devida, ou seja, no final do jogo com o Porto. Inacreditável.



É preciso valorizar o jogo do Rio Ave: marcaram dois golos estupendos (o primeiro num lance de manual em como bem contra-atacar e o segundo num tiro cruzado indefensável) e podiam ter chegado ao empate por mais que uma vez. No entanto, a responsabilidade do bom jogo do Rio Ave passou muito por aquilo que não soubemos fazer. Merecemos a vitória, mas poderíamos ter feito mais para evitar tanto calafrio. Mas o que conta é a vitória, a oitava consecutiva em todas as competições e a quarta para o campeonato. Saibamos aprender com os erros de hoje, e seremos uma equipa mais forte na próxima semana.