segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Em tempo de guerra...

O empate que quase foi uma derrota no Restelo - que veio na sequência de outra desilusão ocorrida uma semana antes - parece ter despertado em muitos sportinguistas a necessidade de se procurarem os culpados pelos desaires que nos colocaram na situação atual. Lê-se e ouve-se um pouco de tudo: afinal Marco Silva não é treinador de grande, Adrien não faz nada em campo, João Mário meteu férias, Montero, Nani e Carrillo estão com a cabeça noutros lados, ou que Cédric é burro e não acerta um cruzamento. Poderia trazer mais exemplos, pois são poucos aqueles que escaparão ao escrutínio apertado de adeptos desapontados.

Compreendo obviamente a frustração - custa-me imenso pensar na quantidade de pontos que desperdiçámos por culpa própria - mas acho importante relembrar algumas coisas que muitos de nós têm a tendência de esquecer em momentos difíceis como este.


As contingências do jogo do Restelo

Começando pelo empate de ontem, creio que dentro dos pontos que já perdemos neste campeonato foi um dos jogos em que até tivemos melhor atitude do princípio ao fim da partida (ao contrário do que disse Marco Silva na flash interview). Sim, é verdade que as oportunidades não abundaram, é verdade que Marco Silva mexeu mal na equipa, é verdade que há vários jogadores-chave em má forma, mas que raio!, não foi por falta de esforço que a equipa não venceu o jogo. Foi uma partida que se desenrolou sob chuva ininterrupta e vento forte, em que o Belenenses apenas marcou graças a um flagrante erro individual nosso, e ainda nos vimos na contingência de ter que ir atrás do resultado apenas com 10 jogadores nos minutos finais. Shit happens.

Claro que nada disto invalida que não tivéssemos a responsabilidade de vencer, já que uma equipa com estofo de campeão encontra uma forma de tornear as dificuldades - e não estou a falar da APAF. Se noutros jogos perdemos pontos porque não houve a atitude adequada, o resultado de sábado foi mais fruto de diversos fatores que não se podem controlar e do abaixamento de forma de alguns dos nossos principais jogadores. Não foi por falta de vontade de ganhar.


A diferença de recursos para os nossos rivais

Por muito frustrante que seja ver Benfica e Porto a distanciarem-se progressivamente de nós na classificação, não nos podemos esquecer da abismal diferença de orçamentos de que ambos dispõe em relação a nós. 

O Porto começou a época com uma previsão de orçamento praticamente 3 vezes superior ao nosso, e ainda se deu ao luxo de investir mais 4 milhões  no mercado de inverno num jogador que dificilmente será um fator determinante no que resta da temporada - e que foi mais caro do que qualquer contratação nossa realizada nas últimas duas temporadas. O Benfica tem uma política de aquisições que poucos compreenderão, mas na imensa quantidade que compram arriscam-se sempre a acertar em alguns dos jogadores escolhidos. E o teto salarial dos dois clubes ronda os €3M / €4M por época, ou seja, 10 vezes mais do que aquilo que o Sporting estipulou para os atletas contratados em 2014/15.

Definitivamente o Sporting não usufrui dos mesmos luxos que Benfica e Porto: todos percebemos que havendo dinheiro a direção iria atrás de um substituto para Slimani e de um central de experiência e qualidade indiscutível. O problema é que no Sporting o orçamento não estica. O que há para gastar ao longo da época são... os mesmos €25M que estão definidos desde julho. E para entrar alguém, primeiro tem que sair um jogador que abra espaço na folha salarial.

Não é uma questão de não querer ou de não saber: é mesmo uma questão de não poder.


Ser-se candidato ao título não implica que acabemos por vencê-lo

Causou polémica o facto de Bruno de Carvalho ter assumido categoricamente que o Sporting era candidato ao título, apesar de todos os constrangimentos que eram conhecidos. Apesar de eu preferir na altura que se repetisse novamente a abordagem jogo a jogo, percebo a decisão do presidente: lutar pelo campeonato é o espaço natural do Sporting.

A única declaração verdadeiramente discutível sobre as possibilidades do Sporting vencer o campeonato vieram de Augusto Inácio, com a infeliz tirada de partirmos na pole position. Mas mesmo aí era preciso dar o desconto do momento e das circunstâncias em que tal frase foi proferida.

Independentemente da minha opinião ou da infeliz frase de Inácio sobre o assunto, Bruno de Carvalho nunca prometeu o título aos sportinguistas. Prometeu lutar por ele. É verdade que foram cometidos alguns erros que não ajudaram a consolidar essa candidatura (o acerto das contratações ficou aquém do exigível e a formação de um plantel principal demasiado extenso que acabou por tapar a ascensão natural de alguns valores emergentes da equipa B), mas no fim de contas se não fosse o colinho da APAF ao Benfica ainda estaríamos completamente dentro da luta. É bom que ninguém se esqueça disto.


Aquilo que já foi conseguido e o que ainda há para conquistar

Conforme comecei este post, é normal que se procurem culpados nos momentos de maior frustração. No entanto, não nos podemos esquecer que este grupo de trabalho não tem tido um trabalho nada fácil. É ver a disparidade nas estatísticas de penáltis / cartões vermelhos em relação aos rivais para percebermos que internamente os campos ainda se inclinam mais para uns do que para outros. É ver que, apesar da fava que sorteio da Taça nos reservou logo no princípio, ainda estamos no caminho para o Jamor. Tivemos uma participação muito digna na Champions, apesar do complicado grupo que nos calhou (sabem que o Schalke está em 4º e o Leverkusen em 6º?), e acabámos por ser afastados através de fatores extra-futebol.

Temos uma taça para ganhar, temos um 2º lugar para perseguir, temos jogadores para desenvolver.

Nádegas, liga e comunicação social a soldo não nos irão dar um dia de descanso. Bem bastam esses para nos bombardearem sistematicamente com críticas gratuitas e boatos sem fundamento. Somos nós contra o mundo, e em tempo de guerra não se limpam as armas e muito menos se desperdiçam munições contra aqueles que estão do nosso lado. 


Num passado não muito distante, a maior parte de nós lamentaria os €1,8M gastos em Paulo Oliveira, e no entanto hoje já não haverá quem ache que tenha sido dinheiro mal gasto. Ainda há muita época pela frente e objetivos importantes para alcançar. 

Por isso, sugiro que guardemos os balanços e as sentenças definitivas para maio. Agora é tempo de continuar a apoiar a equipa, em vez de estarmos a facilitar a vida a todos aqueles que nos querem ver mortos e enterrados.