segunda-feira, 20 de abril de 2015

Plot twist: afinal é o Sporting que vai ao colinho dos árbitros

Só à décima expulsão do Sporting no campeonato é que me apercebi que afinal esta chuva de vermelhos é um favor encapotado que os árbitros nos fazem. Sim, está a haver colinho da APAF ao Sporting, pois a iniciativa que revelam para colocar jogadores nossos na rua parece ter como objetivo principal acordar os 10 que ficam em campo, para que comecem enfim a praticar algo parecido com futebol. Os números começam a ser reveladores que este plot twist é uma realidade. Nas últimas semanas houve pelo menos quatro situações em que melhorámos resultados em desvantagem numérica: Belenenses (Mané), Penafiel (Nani), Nacional para a Taça da Portugal (outra vez Mané) e agora Boavista (Slimani).

Hoje a expulsão de Tobias pareceu-me tão justa quanto escusada - Rui Patrício chegaria primeiro à bola e acabaria com o perigo -, tendo sido o ponto mais baixo de uma exibição paupérrima com que o Sporting castigou os mais de 35.000 adeptos presentes no estádio. Na segunda parte a equipa redescobriu o brio profissional perdido e colocou (finalmente) uma dose de esforço em campo que compensou a evidente falta de inspiração coletiva, aos ombros de um grande William e recorrendo aos suspeitos (leia-se matador e municiador) do costume para fazer o golo que garantiu os três pontos que, aos dezassete segundos de jogo, ninguém julgaria que fossem tão duros de conquistar.



Positivo

A entrada de William - não me parece que a subida de produção da segunda parte se tenha devido exclusivamente à entrada de William, mas a verdade é que o número 14 conseguiu empurrar a equipa para a frente de uma forma que mais ninguém fez durante os 90 minutos, quer com passes a rasgar linhas adversárias, quer conduzindo a bola de forma objetiva e eficiente. Tudo isto apesar de ter sido forçado a atuar numa posição híbrida: como central a defender e como médio construtor a atacar. É claro que essa inovação apenas foi possível graças à falta de arrojo ofensivo do Boavista, mas que ironicamente acaba por expor de forma bem evidente o equívoco que foi o onze inicial escolhido por Marco Silva.

O matador e o municiador do costume - não me parece que seja tecnicamente correto classificar o passe de Carrillo como cruzamento, atendendo à posição recuada e tão pouco lateral de onde bateu a bola. Cruzamento ou não, foi mais uma assistência magistral (a 12ª do peruano esta época) para Slimani (13º golo do argelino), que leu na perfeição a intenção do seu colega e desmarcou-se no momento certo para um cabeceamento bem oportuno.

Cédric a defender - apesar de ter feito uma exibição desinspirada a atacar - à semelhança de todos os outros seus companheiros -, foi de longe o melhor elemento da linha defensiva. Ninguém o adivinharia há dois anos, mas Cédric transformou-se num lateral que defende muito bem, sendo que isso nota-se em particular nos lances de contra-ataque adversários. Os sprints que faz do ataque para a defesa para se reposicionar - mesmo que a bola esteja a ser conduzida no flanco oposto - já começam a ser uma imagem de marca de Cédric, e foi graças a isso que conseguiu uma dobra importantíssima num lance que poderia ter dado o empate ao Boavista. Não sei se lhe valerá a recuperação da titularidade, mas promete complicar a vida do treinador no momento da definição do onze da próxima semana.

35.197 - excelente assistência, com muitas crianças nas bancadas. Notável, atendendo que já não podemos aspirar uma classificação superior ao atual 3º lugar.


Negativo

O onze inicial e uma primeira parte para esquecer - quando soube qual seria a equipa inicial torci de imediato o nariz, ao ver que Tanaka seria o único ponta-de-lança e Rosell o primeiro construtor. Num jogo com estas características - não era preciso ser-se adivinho para antecipar a postura ultra-defensiva do Boavista - pensei logo que poderíamos estar a dar de avanço minutos que poderiam vir a ser preciosos. Um golo aos 17 segundos deixou-me prematuramente relaxado, já que pouco depois lá arranjaríamos forma de conceder ao adversário um golo que surgiu de uma jogada em que meia equipa revelou uma passividade inaceitável. É verdade que a exibição de todos os jogadores da equipa foi medíocre durante os primeiros 45 minutos, mas Tanaka e Rosell em particular mostraram ser erros de casting para este jogo. Gostava de ver um heat map do japonês para saber exatamente onde ele passa a maior parte do tempo, mas calculo que não seria perto da meia-lua em que a cor seria mais intensa. Quanto a Rosell, passou o jogo a formar uma linha de 3 com os centrais quando tínhamos a posse de bola, nunca arriscando um passe vertical que fosse. A substituição era inevitável, mas fiquei com pena do rapaz: deve ser desmoralizador ter que sair tão cedo na primeira vez em que foi titular em Alvalade num jogo a sério desde a 2ª (!) jornada.

Jefferson e Tobias - estiveram diretamente ligados aos dois momentos do jogo que poderiam ter deitado tudo a perder: o golo do Boavista e a expulsão a fechar a primeira parte. No golo, Jefferson - que estava no flanco direito após marcar um canto - conseguiu perder duas vezes a bola para jogadores do Boavista, enquanto que Tobias deixou-se antecipar por Zé Manuel numa disputa aérea que devia ser sua. A expulsão surge a partir de uma péssima abordagem à bola de Jefferson, e Tobias devia ter lido melhor o lance - a falta era nitidamente a pior das opções. No resto do jogo, também não estiveram bem. Jefferson não acertou um cruzamento, não conseguiu nenhuma iniciativa ofensiva relevante e esteve apático a defender. Tobias complicou num par de lances, revelando algum nervosismo. Tarde para esquecer para ambos os jogadores.

Nani e João Mário - complicativos durante a maior parte do jogo, demonstraram mais uma vez estar muito longe do seu melhor.



Pior exibição da época a par com a de Guimarães e Dragão. Salvou-se o resultado.