sexta-feira, 26 de junho de 2015

Balanço de 2014/15: Bruno de Carvalho



Nota: neste balanço não vou levar em consideração o caso Rojo, já que a decisão de anular os contratos com a Doyen poderá variar entre o genial e o desastroso em função do veredito do TAS. 


Numa pincelada grossa, diria que o ano de Bruno de Carvalho foi tremendamente positivo em questões não diretamente relacionadas com o futebol, mas teve um problema grave no que ao futebol diz respeito.

Começando pelo problema grave: a questão Marco Silva. Não há forma de o presidente sair ileso desta novela: se Marco Silva teve um comportamento dentro dos limites daquilo que é razoável esperar em termos de lealdade com a direção e o clube, então a ação de Bruno de Carvalho seria absolutamente lamentável; se, por outro lado, Marco Silva é culpado de tudo aquilo de que é acusado, então Bruno de Carvalho teria falhado redondamente na avaliação do carácter do treinador com quem se comprometeu para um contrato de quatro anos.

Uma coisa é certa: Bruno de Carvalho parece-me uma pessoa bem mais racional do que aquilo que a comunicação social tenta fazer passar, e não consigo conceber que a rutura com o treinador se tenha devido apenas a uma questão de inveja pela partilha dos holofotes. O que se pode questionar é o método encontrado: optando primeiro por mandar recados através de um comunicado e uns dias depois através de José Eduardo. Uma vez pública a polémica, o resto da época foi um suplício para todos os sportinguistas. Valeu o bom senso de apenas partir para o despedimento no final da época, colocando os objetivos da equipa de futebol ainda em aberto no topo das prioridades.

Já que falamos na comunicação, eis outro problema. Não gostei das críticas públicas à equipa principal e equipa B naquele fim-de-semana trágico das derrotas por 3-0 em Guimarães e por 5-0 na Tapadinha. Não tenho dúvidas de que o conteúdo foi empolado - tentou-se dar um peso excessivo às palavras do post de Facebook -, mas toda a polémica teria sido evitada se a crítica tivesse sido feita em privado. Já agora, a utilização de uma página semipessoal do Facebook como canal de comunicação também me parece estranha, havendo tantos outros meios do clube ao dispor do presidente. A contratação da equipa de assessoria de comunicação pareceu-me bastante positiva e deu frutos visíveis no relacionamento com a comunicação social - utilizando-a também em nosso proveito. Mesmo assim continuaram-se a cometer erros: achei perfeitamente dispensáveis as declarações de Bruno de Carvalho no Estoril Open - não tanto pelo que disse, mais por ter dado um mau exemplo aos jogadores ao aceitar falar aos jornalistas -, bem como a críptica conferência de imprensa realizada a duas semanas do final da época (em que deu também o divertido sermão sobre Belfodil).

Finalmente, para terminar os pontos negativos, é preciso referir o pouco acerto nas contratações do defeso passado. Apenas Paulo Oliveira e Nani pegaram de estaca. Jonathan, Tanaka e Rosell foram úteis a espaços, enquanto que Sarr, Slavchev, Geraldes e Rabia parecem erros de casting. Gauld e Sacko foram contratações a pensar no futuro, pelo que não é justo avaliar pelo que (não) jogaram esta época. E ainda preciso quem me explique a necessidade de contratar Gazela.

É no entanto justo referir que o empréstimo de Nani foi uma jogada tão genial quanto imprevisível, e representou um upgrade significativo à qualidade das soluções à disposição de Marco Silva - para não falar no impacto no moral dos sportinguistas e na venda de gameboxes e camisolas.

Passando agora para assuntos não diretamente ligados ao futebol, o trabalho de Bruno de Carvalho foi, a meu ver, notável.

Começo pela sequência dada ao saneamento das contas do clube: mais um ano em que o orçamento foi cumprido à risca, apresentação de lucros significativos (mesmo que o caso Rojo tenha um desfecho totalmente desfavorável), conclusão do importantíssimo processo de reestruturação financeira, recuperação de uma percentagem significativa de passes de jogadores que estavam na mão da Holdimo ou do Sporting Portugal Fund, e um sucesso absoluto no processo levantado pela UEFA a propósito da infração das regras do Fair Play Financeiro.

Em dois anos e meio conseguiu-se sair de uma situação de pré-falência para uma posição estável e controlada. Para tal foram necessários enormes sacrifícios e um rigor total, mas isso não impediu que se conseguisse melhorar significativamente o desempenho desportivo. Fez-se muito mais com muito menos.

Outro aspeto positivo é que com Bruno de Carvalho sabemos que os interesses do clube são defendidos até às últimas consequências. Esta direção não compra a resolução de problemas com dinheiro a partir do momento que considera que a razão está do seu lado. Foi assim com Bruma, foi assim com a Doyen, foi assim com a Somague, foi assim com Marco Silva. Algumas destas situações não são nada agradáveis de seguir, mas esta direção prefere tomar o caminho que melhor defende o Sporting em vez do mais fácil.

Finalmente, a cruzada contra os fundos. No início a maior parte via em Bruno de Carvalho um Dom Quixote que investia contra moinhos de vento. Ridicularizaram-no. Mas depois veio a entrevista com a BBC. E depois reuniões com altos dirigentes da UEFA. Inesperadamente a UEFA afirma publicamente a necessidade de terminar com os fundos, e consegue forçar a FIFA a tomar uma atitude. Primeiro pensava-se que os fundos seriam proibidos depois de um período de 3 anos, mas a decisão foi categórica e não deu mais de 6 meses para o seu fim. Muitos ficaram chocados. Vimos Jorge Mendes a espumar de raiva ao falar do Sporting. Vimos os fundos a fazerem um seminário ridículo com os seus patéticos aliados, perante a indiferença do universo do futebol. O resto da história é conhecida. A cruzada ainda está longe de terminar, mas já ninguém tira a este Dom Quixote o mérito de ter sido fundamental para a demonstração de que afinal os moinhos de vento eram mesmo um exército de gigantes real que urgia liquidar. O mundo está convencido. Já só falta convencer Portugal.