quinta-feira, 25 de junho de 2015

Balanço de 2014/15: Marco Silva


É complicado escrever sobre a época de Marco Silva. Do ponto de vista puramente desportivo revelou um potencial tremendo: a forma personalizada com que o Sporting jogou contra os adversários mais poderosos que defrontou é um sinal inequívoco que Marco Silva sabe preparar muito bem a sua equipa. Os dois jogos com o Benfica, o jogo em Alvalade com o Porto e no Dragão para a Taça e as excelentes exibições contra o Schalke, Wolfsburgo e Chelsea são prova disso. A única vez em que isso não aconteceu foi na derrota por 3-0 no Dragão, mas ficou a ideia que se deveu mais a quebra física e psicológica dos jogadores após sofrerem o primeiro golo do que por uma abordagem tática deficiente - nos primeiros 30 minutos a resposta da equipa até tinha sido bastante positiva.

No entanto, Marco Silva demonstrou dificuldades no trabalho de focar os jogadores nos jogos do campeonato em períodos de alternância com as competições europeias. Como consequência desperdiçámos demasiados pontos contra equipas mais fracas durante o primeiro terço da competição. Essas falhas acabaram por afastar prematuramente o Sporting da luta pelo título. 

De registar também a irregularidade exibicional da equipa. Na primeira metade da época tivemos oportunidade de assistir a um futebol muito atrativo, mas progressivamente a qualidade das exibições foi decaindo. Na segunda volta a equipa limitou-se a jogar essencialmente pelas faixas, apostando insistentemente nos cruzamentos (mesmo quando Slimani não jogava) e arriscando pouco na construção interior. Como resultado, o futebol passou a ser menos apelativo, se bem que em contrapartida a equipa desperdiçou menos pontos. Parece-me no entanto que a melhoria dos resultados se deveu sobretudo à estabilização da defesa, à melhor forma de William e à falta de compromissos europeus, e menos pela redução dos riscos corridos.

Como ponto alto da época, há que registar o fim do jejum de 7 anos com a conquista da Taça. O percurso não foi imaculado - aquela eliminatória a duas mãos com o Nacional esteve muito perto de terminar num desastre, bem como a paupérrima exibição frente ao Vizela -, mas acabou por ser inteiramente merecido face à magnífica exibição no Dragão e às circunstâncias épicas em que virámos o resultado contra o Braga no Jamor - com muita sorte à mistura, é certo, mas a sorte também se faz por merecer.

O ponto mais negativo do percurso de Marco Silva no Sporting foi mesmo a forma como não se demonstrou solidário com a direção em determinados momentos e a falta de alinhamento com a estratégia do clube. Baseio estas afirmações em factos públicos e comprovados: as suas palavras sobre o afastamento de Rojo e Slimani por questões disciplinares foram totalmente desapropriadas, as indiretas enviadas a Bruno de Carvalho em conferências de imprensa, e a enorme resistência revelada na abertura do plantel aos jogadores da equipa B.

Concluindo: falando exclusivamente no aspeto desportivo, a época foi bastante positiva mas não imaculada, e acredito que se Marco Silva continuasse no Sporting iria evoluir muito - e já na próxima época - em função da experiência ganha ao longo de 2014/15.