quarta-feira, 10 de junho de 2015

O advento do capitalismo romântico

Se há alguma coisa que qualquer indivíduo sabe, desde o mais ingénuo até ao maior dos tubarões do mundo das finanças, é que o capitalismo é um sistema pouco dado a tomadas de decisões altruístas ou sentimentais.

Aliás, já todos nos apercebemos que ao longo das últimas décadas desapareceram quaisquer escrúpulos que pudessem existir. O capitalismo é hoje um sistema feroz, cego a qualquer argumento que não o lucro.

Será mesmo assim? Não totalmente. Está a nascer um novo "ramo" do capitalismo que se caracteriza por uma compreensão e generosidade dignas de Madre Teresa de Calcutá: operadores de mercado que cedem de bom grado parcelas significativas dos lucros a que têm direito aos seus parceiros, instituições que compram injustificadamente caro sem sequer acautelarem a sua posição em negócios futuros, personalidades que abdicam das fatias de dinheiro que lhes cabem ao vender ativos. É toda uma nova escola de pensamento económico que ganha cada vez mais força - curiosamente todos geograficamente concentrados ali para os lados do Estádio do Dragão.

Ele é a Doyen a abdicar de cerca de 8 milhões para que o Porto possa faturar 30,5M no negócio de Mangala com o City, ele é o Real a estourar 31,5M + comissões + direitos de formação por um jogador a pouco mais de um ano do fim de contrato sem sequer mexer na cláusula de recuperação de Casemiro, mesmo sabendo que o Porto estava numa situação desesperada de tesouraria, e agora ele é o empresário de Jackson (que detém 5% do passe do jogador) a dizer que o Porto pode ficar com a totalidade dos 35M da cláusula se algum clube interessado a bater.

Extraordinário, não é? Nos dias que correm é de saudar a existência de parceiros tão simpáticos. 

Se a explicação for outra, a alternativa possível é que tenham calhado ao Porto como parceiros os piores negociadores à face da Terra. Ou então é tudo banha da cobra que O Jogo está a tentar impingir aos adeptos portistas... cada um que julgue como bem entender...