sexta-feira, 31 de julho de 2015

Mais um cromo para a caderneta das godinhices

in Record

Na edição do Record da passada quarta-feira ficámos a saber que o Sporting cedeu ao Cercle Brugges 5% de uma futura venda de William Carvalho, aquando do empréstimo do jogador durante uma temporada e meia ao clube belga.

Não bastavam as vendas de percentagens de passes de praticamente todos os jogadores do plantel, como pelos vistos também andávamos a ceder direitos sobre futuras transferências de jogadores nossos.

Até compreendo a lógica de premiar um clube parceiro por nos ajudar a trabalhar um jogador jovem, mas seria esta a melhor forma de o fazer? Será que não passaria pela cabeça dos nossos dirigentes que também seria conveniente deixar que fosse o próprio Sporting o principal beneficiado das vendas dos jogadores que andou a formar durante anos?

E fica a dúvida: quantas mais godinhices estarão ainda por conhecer a luz do dia...

Discurso mal limado

Ontem o Benfica comunicou à CMVM a venda de Lima ao Al Ahli por 7 milhões de euros.



Aparentemente Domingos Soares Oliveira deve estar de férias e esqueceu-se de passar algumas indicações aos seus subordinados, pois no dia 4 do presente mês, em entrevista ao Expresso, indicou muito claramente qual o critério seguido para comunicar ou não uma transação à CMVM: 


Enfim, é apenas mais um ato que não encaixa certo no discurso dos dirigentes benfiquistas. Se a venda de Lima foi comunicada, então as de João Cancelo e Ivan Cavaleiro também deveriam ter sido caso a venda tivesse sido pelos 15 milhões tacitamente confirmados quer pelo presidente quer administrador para a área financeira da SAD. Nem é nenhuma novidade: a venda de Cardozo, inferior a 5 milhões, foi comunicada à CMVM há cerca de um ano atrás.

As altas esferas benfiquistas têm optado por se envolver num emaranhado de inverdades, mentiras e omissões, algumas das quais são de importância relativa, mas que vão ganhando volume em cada intervenção pública que vão fazendo. E uma vez sendo cada vez mais evidente que existem coisas que estão a ser escondidas - não se poupando esforços para o fazer -, uma pessoa só pode imaginar aquilo que já terá sido varrido para debaixo do tapete sem que ninguém se tivesse apercebido.

Nota (10h45): na entrevista ao Expresso existe uma incorreção (não sei se o lapso foi do jornalista ou do entrvistado). O R&C do 1º semestre de 2014/15 indicava o os ativos da Benfica SAD (individual) como estando avaliados em €361M. 5% desse valor é €18 M.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Como moldar os acontecimentos em função dos preconceitos pessoais, por António Varela

Quiseram as circunstâncias que Sporting e Porto, dois clubes com relações cortadas cujos dirigentes se envolveram em acusações, provocações e insultos ao longo dos últimos dois anos, tivessem posições convergentes em dois assuntos de grande importância do futebol português que foram notícia ao longo do mês de julho: o sorteio dos árbitros e a eleição do presidente da Liga.

De uma coisa ninguém duvidará: em ambas as situações foi o Sporting o primeiro clube a procurar uma solução alternativa à nomeação dos árbitros e à liderança de Luís Duque. E em ambas as situações a mudança de posição do Porto foi algo surpreendente, mas uma vez assumida o clube (pela voz de Pinto da Costa) explicou publica e repetidamente os motivos que o levou a querer o sorteio dos árbitros já para a próxima época e a apoiar Pedro Proença nas eleições da última terça-feira.

Daí que, por muitas voltas que tente dar ao meu limitado cérebro, não consiga entender por que motivo o jornalista António Varela escreveu o seguinte na edição de ontem do Record:


Dou de barato que o poder do Porto nos bastidores do futebol português é muito superior ao do Sporting, mas daí a alguém dizer que o sorteio dos árbitros foi rejeitado devido ao facto de a sua defesa ter ficado entregue ao Sporting e que a eleição de Pedro Proença se concretizou apenas porque o Porto tomou conta da ocorrência - como se ambos os clubes não tivessem capacidade para combater mais que uma guerra em simultâneo - parece-me um produto de uma mente que só pode ser doentiamente preconceituosa em relação ao Sporting e ao seu presidente. O que na realidade, no caso de António Varela, não é nada que surpreenda.

Mas nem é isto o mais inacreditável. Com a devida vénia ao Álamo, do blogue Leoninamente, que muito oportunamente se apercebeu daquilo que vou escrever já de seguida, António Varela conseguiu uma proeza ainda mais assinalável.

Ao ter escrito "Na semana passada, Pinto da Costa tirou férias e deixou a defesa do sorteio dos árbitros entregue ao Sporting", dando a entender que o Porto não se incomodou muito com o tema do sorteio, é estranho que o mesmo jornalista tenha escrito - apenas 13 dias antes - o seguinte:


É caso para ficarmos confusos: afinal Pinto da Costa agarrou a ideia do sorteio dos árbitros com as duas mãos ou tirou férias? Antes o Porto aparecia como subalterno no Sporting, agora o Sporting é uma personagem marginal no processo? Haja paciência para tamanha falta de coerência.

Bruno de Carvalho não tem tido uma vida simples desde que chegou à presidência do Sporting. O comentário desportivo português está carregado de mentes iluminadas que só consegue avaliar a sua atuação de uma forma: se Bruno de Carvalho falha no quer que seja é porque é incompetente, nada mais que um chefe de claque que não consegue triunfar num dirigismo de homens; se por acaso calha ter sucesso é porque o mérito é atribuível a outros - treinador, jogadores, banca, antiga direção, outros clubes, you name it.

Episódios deste tipo já são um hábito há muito. António Varela é apenas um caso entre várias mentes iluminadas com demasiado tempo de antena na nossa comunicação social, e cujo comentário é ditado exclusivamente pelos seguintes critérios:

1. Preconceitos pessoais
2. Narrativas encomendadas
3. Resultados

Sendo que o 3 acaba por se moldar em função de 1 e 2. Tudo o resto é acessório.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Resultados da Credit Football League, da S&P

No passado dia 23, a Standard & Poor's publicou a 2ª avaliação da sua Credit Football League, uma espécie de tabela classificativa de clubes de futebol segundo o risco que representam para os seus credores. Esta tabela é calculada segundo um modelo que utiliza 24 indicadores financeiros, retirados dos relatórios e contas publicados pelos clubes.

Como a informação financeira divulgada pelos clubes tem de ser suficientemente completa para poder haver um termo de comparação adequado, existem alguns emblemas de peso que ficaram de fora deste estudo - como o Real Madrid, PSG ou Chelsea. Estão no entanto incluídos 44 clubes, incluindo os três grandes portugueses.

A 1ª avaliação foi publicada em outubro de 2014, e os resultados podem ser consultados no post que escrevi na altura: LINK. Ao contrário da 1ª avaliação, a que foi publicada há dias não inclui uma probabilidade de incumprimento dos clubes.

À semelhança da avaliação de outubro, a classificação dos clubes portugueses é bastante má. Aqui ficam os resultados do top 5 e entre o 30º e o 44º classificados:


Comparando os resultados agora divulgados com os de outubro, regista-se uma melhoria do Sporting (da 38ª para a 33ª posição) à qual não serão alheias a participação na Liga dos Campeões e a conclusão do processo de reestruturação financeira. No sentido inverso estão Benfica (passou da 28ª para a 35ª posição) e Porto (passou da 33ª para a 40ª posição).



Não posso deixar de constatar que se trata de mais um reconhecimento externo à evolução da situação financeira do Sporting, à semelhança do que já tinha acontecido com a decisão da UEFA ao não penalizar o clube no processo de incumprimento do Fair Play Financeiro.

Nota: o relatório ainda não está disponível na internet mas pode ser pedido por qualquer pessoa através deste LINK.

terça-feira, 28 de julho de 2015

O maravilhoso mundo dos fundos de "investimento"

Notícias recentes dão conta de que o Benfica será obrigado a comprar os 50% do passe de Ola John que são propriedade da Doyen por cerca de 6 milhões de euros, caso o jogador não seja vendido até ao final desta janela de transferências.

O holandês foi adquirido pelo Benfica em maio de 2012. Na altura a imprensa divulgou um valor de transferência de €9M, podendo chegar aos €12M se determinados objetivos fossem cumpridos.

O R&C anual de 2011/12 da SAD benfiquista apresentou valores mais exatos: €9,15M. O montante aparece dividido em dois quadros diferentes, pois está organizado em função do prazo de pagamento acordado com o Twente (corrente = prazo inferior a 1 ano; não corrente = superior a 1 ano):



Na altura o Benfica ainda era proprietário de 100% do passe do jogador.


No relatório do 1º semestre de 2012/13, o Benfica já tinha concretizado a venda de 50% do passe de Ola John à Doyen, apresentando uma dívida no total de €4,713M em relação ao fundo.



O valor devido à Doyen tem vindo a aumentar. Desconheço se por uma questão de atualização em função dos objetivos cumpridos pelo Benfica que se tenham pago ao Twente, se por penalizações pelo facto de o jogador não ter sido vendido. Estou mais inclinado para a segunda hipótese, pois o aumento é sistemático e bastante linear - e duvido que a componente variável acordada com o Twente tenha tantos critérios e que sejam atingidos com tanta regularidade.

A evolução do valor devido à Doyen foi o seguinte ao longo dos trimestres:

Fonte: R&C da Benfica, SAD

O ritmo da evolução é consistente com os 6M que se diz que o Benfica terá que pagar caso não venda o jogador. Provavelmente, o valor que a Doyen pagou terá sido cerca de €4,5M, logo após o fecho da época 2011/12.

Como é conhecido, Ola John nunca se conseguiu impor no Benfica. A Doyen investiu €4,5M em 50% do passe, mas ao contrário daquilo que é normalmente considerado um investimento, o fundo não corre quaisquer riscos. Nem sequer tem gastos com os salários e prémios do jogador - esses ficam totalmente por conta do clube. 

Pelo contrário: na pior das hipóteses, em 2 anos e meio a Doyen conseguirá um lucro de 1,5M - que equivale a um juro anual de cerca de 10%. Qualquer um de nós ficaria encantado se os nossos investimentos tivessem este patamar mínimo de retorno.

Mas como é evidente, caso o jogador tivesse tido sucesso e vendido por uma verba avultada, o fundo estaria pronto a receber a sua fatia por inteiro. Com parceiros destes - que dividem os benefícios mas nunca o risco - quem precisa de inimigos?

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Caros são os que não jogam

"Caros são os que não jogam", palavras de Pinto da Costa na entrevista que deu na semana passada ao El País, e das quais me lembrei quando vi a seguinte notícia na edição de hoje do jornal A Bola:


Há cerca de um ano Braima Candé estava em final de contrato com o Sporting - que não tinha interesse na renovação com o jogador - mas o Porto lá lhe ofereceu um contrato de 4 anos pelo puro prazer da alfinetada. Mesmo que o salário de Candé seja uma gota no infindável orçamento portista, a soma das tentações em contratar só para desviar alvos de outros clubes hoje representa uma poça com uma proporção não negligenciável e com proveitos desportivos nulos ou reduzidos. A fórmula produziu êxitos incontestáveis no passado - como com Falcao, Danilo, Moutinho - mas o aproveitamento que têm obtido dos desvios mais recentes e bem mais dispendiosos está ao nível da decadência que o clube evidencia. Ghilas e Josué são alguns exemplos. Veremos se o caríssimo Danilo Pereira consegue inverter esta tendência... mas tendo como concorrente o mais dispendioso jogador da história do futebol português será uma proeza se conseguir ter uma utilização regular.

Voltando a Candé, na primeira época de azul e branco não calçou no Porto B nem no Freamunde, clube a que foi emprestado em janeiro. Na segunda época vai para o Mirandela, clube do CNS. Boa oportunidade para relembrar a gritaria que houve da parte de alguns sportinguistas quando deixámos fugir esta pérola para o Porto... 

A participação na Cape Town Cup

A principal conclusão que podemos retirar dos dois jogos efetuados em solo sul-africano pelo Sporting é que ainda há muito trabalho pela frente até termos a equipa totalmente afinada. Foram vários os erros coletivos e individuais a defender ou em perdas de bola que acabaram por proporcionar demasiadas ocasiões para Patrício brilhar - claro que ele está lá para isso, mas seria melhor sinal se passasse umas tardes mais tranquilas -, e em termos de acutilância ofensiva a equipa foi mais atabalhoada que esclarecida, revelando dificuldades em executar depressa e bem em zonas interiores com uma maior concentração de adversários.

Mas estranho seria que fosse de outra forma. A equipa está a assimilar princípios de jogo bastante diferentes daqueles a que estava habituada: a defender procura-se uma pressão alta sufocante, setores mais compactos e uma linha defensiva mais subida, enquanto que com a bola nos pés há maior dinamismo para oferecer linhas de passe aos colegas e privilegiando o centro do terreno às faixas laterais. Para além disso, a equipa está a aprender a viver sem William Carvalho, num sistema em que a posição 6 é fulcral para a saída para o ataque. Princípios de jogo que envolvem um elevado nível de risco e que numa fase de aprendizagem acabam por ter as consequências que verificámos, mas que uma vez encontrados os jogadores que melhor os interpretarão e depois de estarem totalmente assimilados prometem uma equipa bem mais perigosa no ataque e segura a defender.

Do ponto de vista individual, os jogadores demonstraram momentos de forma bastante díspares. O destaque óbvio vai para Rui Patrício. Penáltis defendidos no primeiro jogo, defesas de grande grau de dificuldade em ambas as partidas e, claro, isto:


Mas parecem-me também merecedores de destaque Paulo Oliveira (imperial em ambos os jogos), Jefferson (uma assistência e muito bem a descer pelo flanco e nas bolas paradas), Slimani (mal na finalização, mas o batalhador do costume, tendo sido decisivo no 2º golo de Montero) e Montero (pelos dois golos que marcou contra o Crystal Palace).

Bons indicadores também de Naldo (muito bem no jogo de ontem), Gélson (mais pelo primeiro jogo) e Wallyson (jogou pouco tempo mas demonstrou sempre grande classe com a bola nos pés e segurança no passe).

Vários jogadores estiveram abaixo do que seria desejável, mas nada de anormal atendendo à fase da época em que estamos: João Mário, Adrien, Carrillo, Ciani, Teo Gutierrez, Carlos Mané (apesar do golo que marcou) e Esgaio.

De qualquer forma, vencer um troféu destes não pode deixar de ser positivo. Aprender e aperfeiçoar ganhando e reforçando o prestígio do clube é sempre melhor do que aprender e aperfeiçoar perdendo. No próximo fim-de-semana há mais.


sábado, 25 de julho de 2015

O sorteio da fase de qualificação do Mundial 2018


Fernando Santos continua com a estrelinha que o acompanha desde que tomou conta da seleção grega. Se há um grupo fraco, é fatal como o destino que a bolinha que contém o papelinho da sua seleção o colocará lá, seja numa fase de qualificação ou numa fase final. E se por acaso o grupo até for um pouco mais complicado - como aquele em que estamos envolvidos para o Euro 2016, sorteado quando o selecionador era ainda Paulo Bento -, ganhamos jogos nos últimos minutos e até calha haver incidentes com drones para tirar pontos a um dos principais adversários. Fernando Santos é definitivamente uma espécie de anti-Peseiro.

Não dá para Bruno de Carvalho contratar Fernando Santos por 2 dias em vésperas do sorteio da pré-eliminatória da Champions?

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Finalmente hoje é...


Não é que seja muito relevante o onze que hoje alinhará de início, mas aqui fica o meu prognóstico:

Rui Patrício
João Pereira, Paulo Oliveira, Ciani e Jefferson
Wallyson e Adrien
Gelson, Mané, Montero e Slimani

Driblando a verdade com todos os dentes que tem

in Record

Um dos argumentos de defesa usado por alguns benfiquistas quando o L' Equipe revelou que o Mónaco pagou afinal apenas 3,5 milhões de euros por Ivan Cavaleiro foi que o Benfica nunca revelou, à semelhança do que já se tinha passado aquando da venda de Cancelo, qual o valor da transferência. Pois bem, na entrevista de ontem do Record fica uma confirmação tácita de Vieira em relação aos 15 milhões recebidos por cada um. Para memória futura.

Mas o que dizer do presidente do Benfica quando responde à última pergunta do quadro que coloquei acima com "É evidente que jogadores como o Bernardo poderiam ter sido aproveitados de outra forma, mas não vale a pena olhar para trás."? É que assumindo que Cavaleiro era mesmo jogador do Benfica, não havia nada que impedisse Rui Vitória de o chamar aos trabalhos de pré-temporada - já que o clube onde estava Cavaleiro não acionou uma eventual cláusula de compra sobre o jogador.

Ou seja, continua a empurrar-se a divulgação da história real para a frente, procurando tapá-la com uma argumentação que apenas embala aqueles que já estão a dormir.

É como a história da contenção no ataque ao mercado que o Benfica está a revelar esta época em comparação com os anos anteriores. A mim parece-me que não é nenhuma mudança de estratégia, apenas uma questão evidente de incapacidade financeira. É que ao contrário de anos anteriores, o Benfica não fez vendas significativas. Dizem que venderam Sulejmani e Benito ao Young Boys por um total de 6M, que representa um duplo recorde na história do clube suiço. Dizem que venderam Cancelo e Ivan Cavaleiro por 30M. Se tudo isso fosse verdade as novas trutas já estariam a treinar com o resto da equipa. Trutas que, na realidade, só começarão a chegar quando Gaitán - a única esperança de um encaixe significativo - for vendido. Ou, em alternativa, se a pré-temporada começar a correr mal. Aí, lá se fará mais uma engenharia financeira daquelas para arranjar os milhões necessários.

A propósito, com a devida vénia ao Captomente...


quinta-feira, 23 de julho de 2015

Golos do Nacional 2 - Sporting B 3


O primeiro golo do Sporting foi marcado por Francisco Geraldes após cruzamento de Seejou King.

A jogada do segundo golo do Sporting é simplesmente uma delícia. Começa através de uma recuperação de bola de Gauld, a bola passa por Rubio (creio), que deixa em Francisco Geraldes, que por sua vez faz a assistência para Matheus Pereira.

O terceiro golo foi marcado por Podence após passe de Betinho.


quarta-feira, 22 de julho de 2015

Simplesmente lamúrias de despeitados?


Ao longos das 6 épocas em que Jorge Jesus foi o treinador do Benfica, não foram muitos os casos de jornalistas e comentadores que se atreveram a criticar de forma continuada aquele que para a maioria era o Mestre da Tática. Existiram alguns, é certo, mas muito longe da legião de profissionais da comunicação social que agora vasculha arquivos e os cantos mais recônditos da memória para encontrar as falhas que foram sendo cometidas pelo novo treinador do Sporting.

Parece evidente que se encontra em curso uma espécie de processo de redefinição da história dos últimos 6 anos do futebol português, na qual se identificam os seguintes objetivos primordiais:

  • Responsabilizar o treinador pelos inúmeros flops que passaram pelo Benfica durante a sua liderança técnica - a peça escrita por António Varela no Record é disso um excelente exemplo.
  • Minimizar a importância do técnico na valorização dos jogadores vendidos por quantias elevadíssimas, atribuindo-as sobretudo ao talento inato dos atletas e menos à evolução que registaram com Jesus como seu treinador.
  • Atribuir a falta de aposta da formação do Benfica nos últimos anos unicamente a algum tipo de aversão de Jorge Jesus em relação aos jovens do Seixal, apesar dos desejos em sentido inverso do presidente.
  • Passar a ideia que o bicampeonato foi sobretudo obra da estrutura benfiquista, quase como se Jesus não fosse mais que um figurante que calhou estar no clube no momento certo - e não há melhor exemplo que as peças propagandistas de Nuno Luz e da SIC sobre Luís Filipe Vieira.

O engraçado é que não demorou para que a própria atualidade começasse a contradizer esta nova narrativa. Por exemplo, se foi Jesus que correu com Ivan Cavaleiro do Benfica, por que motivo os responsáveis encarnados não o resgataram logo no momento em que o Corunha não acionou uma das tais cláusulas que para lá andavam? Ou então, se era Jesus que forçava Vieira a contratar em quantidades industriais a ponto de o Benfica parecer mais um entreposto do que um clube de futebol, que dizer do facto de (para já) existirem 4 jogadores (Dálcio, Pelé, Murillo e Diego Lopes) que entraram e saíram do clube sem sequer fazerem uma partida amigável para amostra?

Isto, claro, para não falar nas operações estratégicas para o clube como aquela que esteve na origem da contratação de Fariña, que vai agora cumprir o terceiro ano consecutivo de empréstimo sem sequer ter tido hipóteses de treinar com Rui Vitória. Também era Jesus que as impunha?

E onde entra o tão elogiado departamento de prospeção do clube? Será que esse departamento é responsável apenas pelos casos de sucesso como Ramires, Di Maria, David Luiz, Witsel, Gaitan ou Enzo, e não tem nada a ver com as toneladas de entulho que foram chegando ao clube todos os anos?

A mim parece-me que a verdade estará algures pelo meio. Jesus não é a máquina infalível que muitos tentaram fazer crer (e começando pelo próprio treinador, diga-se de passagem), mas não é seguramente o incompetente que os fiéis comentadores e jornalistas andam agora a tentar convencer-nos que é. A minha esperança (e convicção) é que Jesus é um treinador muito acima da média - seguramente o melhor que o Sporting poderia aspirar a contratar - com uma lista de defeitos bastante inferior à lista de qualidades, da qual a realização de milagres não faz parte.

Durante 5 anos foi tremendamente conveniente a Vieira colocar os holofotes do protagonismo em Jorge Jesus. Foi sempre aparecendo nos momentos bons para capitalizar a sua quota-parte de mérito, mas aproveitou a visibilidade do treinador para se esconder nos maus momentos e ir manobrando nos bastidores de forma a consolidar o seu poder: primeiro no Benfica, blindando os estatutos numa altura em que os sócios estavam (justificadamente) embriagados pelo grande futebol que a equipa praticava e em vésperas da conquista do segundo título em 16 anos; depois, no futebol português propriamente dito, conquistando uma rede de influências aproximada àquela de que o Porto desfrutou durante décadas.

Parece-me que no final de 2013/14, depois de o Benfica limpar todos os títulos nacionais e de se ter consolidado como poder principal nos bastidores do futebol, Vieira sentiu-se suficientemente confiante para assumir o estrelato como figura principal e incontestada do Benfica. O efeito imediato foi a tal razão que Jesus deu como principal motivo pela não renovação: já não se sentia tão desejado. Porque Vieira sentia-se pronto para testar a robustez da máquina que montou, provando que consegue ganhar independentemente do treinador. O último passo que lhe falta para ser o Pinto da Costa dos próximos 20 anos. A história do pupilo que um dia supera o seu mentor.

E é essa a narrativa que deveremos esperar durante os próximos meses. Retirar a Jesus o protagonismo que lhe foi dado com efeitos retroativos, em favor de Vieira e da estrutura. Muito por causa da inesperada desfeita que o treinador fez a Vieira e aos benfiquistas ao optar por seguir a carreira num rival, também para reconfortar os sócios e adeptos de que a fórmula da vitória afinal se mantém intacta, mas sobretudo porque é essa a ambição do presidente. Tivesse Jesus seguido para o médio oriente e estaríamos a assistir ao mesmo, mas de uma forma mais discreta e menos descarada.

Os portistas têm o seu NGP. O ego de Vieira não exige menos que isso em relação aos benfiquistas.

terça-feira, 21 de julho de 2015

R de "Ridículos"


Já não há paciência. Praticamente dois meses depois de se ter consumado a saída de Marco Silva do Sporting, facto que veio na sequência de penosos meses de guerra fria entre presidente e treinador que foi destaque diário nos jornais, rádios e televisões, depois de um processo de despedimento por justa causa que terminou em rescisão por mútuo acordo, agora que já passou um mês do anúncio de Jorge Jesus como novo treinador do Sporting e semanas depois de Marco Silva ter sido apresentado no seu novo clube, a Rádio Renascença ainda parece achar que o diferendo de Bruno de Carvalho e Marco Silva é um assunto relevante para atualidade desportiva nacional.

Não chegam os primeiros encontros de preparação, chegadas de novos jogadores ou anúncios de dispensas. Quiçá guiada por um desígnio católico, a Rádio Renascença viu-se na necessidade de ressuscitar um assunto que, mesmo quando efetivamente tinha relevância, já tresandava - pois falava-se demasiado e sempre na perspetiva de um dos lados em conflito.

Que dado novo encontrou então a Rádio Renascença para voltar a referir que os sportinguistas preferiam que tivesse saído Bruno de Carvalho do que Marco Silva? Uma sondagem? Um inquérito do tipo televoto? Uma entrevista a reconhecido especialista em assuntos sportinguistas que após aturado estudo tem novas informações a dar sobre o tema?

Não. Na origem da reabertura que deveria estar morto e enterrado esteve isto:


Vou dar uma novidade aos senhores da Bola Branca. Há de facto sportinguistas que, dada a hipótese de optarem pela saída de Bruno de Carvalho ou Marco Silva, escolheriam a saída do presidente. Mas esses são uma minoria. E podem estar certos que se perguntassem a essa minoria se prefeririam que o presidente do Sporting fosse Bruno de Carvalho e Pol Pot (se fosse vivo), a maior parte escolheria o segundo sem pestanejar.  

Gostaria também de saber por que motivo a Renascença acha relevante questionar um antigo dirigente do Benfica sobre a vida do Sporting. Não é novidade, é certo. Começa a ser vulgar vermos gente como Rui Rangel, António Figueiredo ou Gaspar Ramos a pronunciarem-se sobre a vida do Sporting. Mas seria interessante que, por uma questão de coerência, se começassem a entrevistar sportinguistas para comentarem o quotidiano do Benfica. Ou então não, é uma forma de fazer jornalismo simplesmente ridícula.

Rádio. Renascença. Ramos. Realmente. Ridículos.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Ponto de situação do plantel

Depois de terem sido fechadas três contratações nos últimos dias e após ter sido feito o anúncio dos convocados para o estágio na África do Sul, parece-me um bom momento para fazermos um ponto de situação do plantel do Sporting.

Guarda-redes: Rui Patrício, Marcelo Boeck e Azbe Jug

Partindo do princípio que Rui Patrício não sairá, a incógnita em relação aos guarda-redes passa por saber qual será o papel que Azbe Jug terá no plantel. Será que está pronto para ser o nº 2 após três anos e meio de utilização quase nula em França? O mais provável é que o esloveno acabe por transitar para a equipa B no final da pré-época. Depois de um ano a jogar, estará seguramente pronto para assumir o lugar de nº 2 - não esquecer que o contrato de Marcelo termina no final desta época.

Defesas direitos: João Pereira, Esgaio

A ausência de Miguel Lopes acaba por não surpreender atendendo às notícias insistentes de um possível empréstimo. Quer João Pereira quer Esgaio parecem-me dois jogadores que têm mais para oferecer ofensivamente do que defensivamente, o que faz sentido atendendo ao papel que Jorge Jesus gosta de atribuir aos seus laterais. Creio que estaremos um pouco pior do que estávamos com Cédric.

Defesas centrais: Paulo Oliveira, Ewerton, Tobias Figueiredo, Rúben Semedo, Naldo e Ciani

A lesão de Ewerton e a pouca experiência das alternativas levaram à contratação de Naldo e Ciani. Não conheço os jogadores nem faço ideia de quais serão os seus pontos fortes e fraquezas, mas se Jorge Jesus conseguiu fazer de Jardel um parceiro de defesa fiável para Luisão, estamos conversados em relação à capacidade que tem para criar centrais competentes - nomeadamente para o nível de competição que encontrarão em Portugal.

Espero que Tobias Figueiredo seja emprestado a outro clube da I Liga poucos dias antes de a janela de transferências fechar.

Rúben Semedo foi incluído na convocatória, mas segundo o que se tem escrito estará a ser testado mais para a posição de médio defensivo. Como defesa central, sendo tantas as alternativas, parece ter o caminho completamente bloqueado.

Defesas esquerdos: Jefferson e Jonathan Silva

Aqui estamos bem servidos e não há motivos para mexer. Será o ano da explosão de Jonathan?

Médios defensivos: William e Rosell

Com a lesão de William, arranjámos um problema para esta posição. Não me parece que se justifique a contratação de um jogador para os dois meses de competição em que William estará ausente, pelo que entre Rosell, Adrien, Wallyson ou - quem sabe? - Rúben Semedo terá que se arranjar uma alternativa que dê para os gastos.

Médios centro: Adrien, João Mário, Wallyson e André Martins

Assumindo que Adrien não será vendido, esta posição tem bastantes alternativas de qualidade. André Martins poderá não ficar no plantel, já que está a entrar no último ano de contrato.

Extremos: Carrillo, Capel, Gélson Martins, Carlos Mané e Iuri Medeiros

A renovação de Carrillo é para mim a primeira prioridade dos assuntos a resolver. Depois da esperada saída de Nani, seria preocupante não podermos continuar a contar com o peruano. Gélson parece estar a ser a revelação da pré-época. A permanência de Capel surpreende-me, já que me parece que não tem muito mais para oferecer à equipa e tem um salário demasiado elevado para o rendimento dos últimos dois anos.

Pontas-de-lança: Slimani, Montero, Tanaka, Bryan Ruiz e Teo Gutierrez

Cinco jogadores, dos quais apenas o argelino é um verdadeiro 9. Seria importante ter outro jogador com características semelhantes às de Slimani no plantel. Em relação ao lugar de segundo ponta-de-lança, não faltam alternativas. Aliás, são tantas que faz com que seja provável que Tanaka acabe por não ficar no plantel.

De fora: Miguel Lopes, Sarr, Slavchev, Labyad, Viola, Wilson Eduardo

Se a ausência da convocatória de Sarr, Slavchev e Wilson Eduardo não surpreendem, havia alguma expetativa em relação ao que Labyad e Viola poderiam mostrar a Jorge Jesus. Miguel Lopes e Viola já tinham o handicap de serem jogadores caros cuja eventual venda terá que ser repartida com outras entidades. Labyad será a maior desilusão, caso a sua ausência da convocatória não tenha a ver com questões físicas.

Aposta na formação?

Até ver, Esgaio, Rúben Semedo, Wallyson, Iuri Medeiros e Gélson Martins estão na luta por um lugar no plantel. Palhinha lesionou-se mas estava a ser uma das figuras da pré-época. E não faltará muito tempo até que Matheus Pereira tenha a sua oportunidade. A aposta na formação está boa e recomenda-se.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Teonovela

Pela septuagésima nona vez no espaço de algumas semanas, há quem garanta que é AGORA que Teófilo Gutierrez vai mesmo assinar com o Sporting. Parece até que já vai no avião a caminho de Lisboa, à hora em que escrevo este texto. 

Mas depois de tantos avanços e recúos, que foram atribuídos a fatores tão variados como desconhecimento do nível dos impostos em Portugal, birra de um empresário, tentativa de interferência por parte do Porto, ou desentendimentos sobre prémios em atraso devidos pelo River, não me levem a mal que não desate já a dar as boas vindas ao colombiano. Nunca se sabe: o Estado Islâmico pode sequestrar o avião, o piloto pode ter tendências suicidas, ou até alguém pode desviar o rumo de forma pacífica para 300 kms a norte do destino original.

Mas já nem é só isso que me refreia o entusiasmo. É que tal como as típicas telenovelas, esta Teonovela já cansa de tanto episódio em que nem o pai morre nem a gente almoça. As palavras de incentivo ficarão reservadas para quando o homem começar a justificar a sua contratação com golos e assistências.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Ouro sobre azul

Ouro sobre azul. Foi esta a expressão que me veio logo à cabeça quando se começou a falar no contrato milionário que Maxi Pereira teria à sua espera no Porto. Na altura falava-se num contrato de 4 anos a valer cerca de 4,5M brutos por época, ao qual certamente se acrescentaria um chorudo prémio de assinatura para o jogador e uns generosos honorários pelos préstimos de Paco Casal. Entretanto soube-se hoje que afinal o contrato foi apenas de 3 anos, mas em contrapartida começa a ser insistente a notícia de que um outro jogador do empresário que rumará ao Dragão, à semelhança dos emplastros que o Benfica fez o favor de contratar aquando da última renovação do uruguaio.

Ouro sobre azul. Pelo melão causado aos lampiões mais bazofientos, pelo facto de ser uma saída de um jogador muito útil que já fazia parte da mobília dos bicampeões, mas sobretudo pelo encargo que representará para o Porto. Maxi é bom jogador, mas não vale nem de perto nem de longe os valores de que se falam.

Ouro sobre azul. Porque deixa à vista de todos que Vieira só é bom negociador enquanto tiver notas para colocar na mesa. A capacidade de negociação é 90% disponibilidade financeira para satisfazer as exigências de quem se quer contratar. São poucos os casos em que a lábia ou o talento para o bluff consigam superar uma proposta que seja financeiramente superior. Não estou a dizer que Vieira fez mal ao decidir não igualar a proposta do Porto - pelo contrário, seria uma irresponsabilidade fazê-lo.

Ouro sobre azul. O Porto é um clube que tem um défice operacional tremendo e, apesar disso, começou a apostar na contratação de jogadores com salários milionários e com uma probabilidade nula de virem a render uma mais-valia significativa numa transferência futura. Esta nova tendência junta-se ao velho vício dos TPO's (ou TPI's, como preferirem), em que parte significativa das eventuais receitas de uma futura venda já estão atribuídas a terceiros - nomeadamente dos atletas com maior potencial de valorização. E estarão para chegar mais jogadores nestas condições. Junte-se a isso o frenesim de contratar tudo o que mexe, independentemente de necessitarem dos jogadores ou não (André André, Sérgio Oliveira, Danilo Pereira chegarão a calçar este ano?).

Num ano em que para evitar prejuízo nas contas foi preciso venderem Mangala (ainda se está para saber o que foi dado à Doyen como contrapartida de terem abdicado de 8M da fatia a que tinham direito), Defour, Danilo e Jackson, para além da receita extraordinária de Casemiro (totalizando cerca de 110M), em que se irá contabilizar dois prémios de participação na Champions (2014/15 e 2015/16), e uma receita invulgar na mesma competição fruto de uma fase de grupos com 4 vitórias e 2 empates e uma carreira que chegou aos quartos-de-final, fica a dúvida de onde desencantarão na época que agora inicia as receitas extraordinárias suficientes para evitar um estrondoso prejuízo. Conseguiram contornar uma penalização do Financial Fair Play aumentando o capital social através da incorporação de metade do estádio na SAD, mas esse estratagema só poderá ser usado mais uma vez. Depois acabou-se.

O que não brilha tanto nesta história toda? É que o Porto está a formar uma equipa que só não será campeã se acontecer algum desastre - curiosamente era também o que se dizia na época passada. E ainda virão mais algumas trutas, a julgar pelos insistentes rumores. Mas sempre neste prisma - ou jogadores feitos com contratos milionários que não se valorizarão, ou jovens promissores que chegam com o patrocínio dos fundos amigos.

Está visto que será este o rumo que Pinto da Costa irá seguir até ao fim da sua presidência. Escolheu-o não porque o considere a estratégia ideal, mas porque simplesmente já não tem capacidade para recuperar as fórmulas de gestão desportiva que lhe valeram tantos encaixes milionários durante a última década. A decadência é clara e a tendência será para piorar, pois cada vez o buraco será mais profundo. Pobre do homem que tiver a pesada responsabilidade de o suceder.

Fernando Correia faz 80 anos

Quando li o post do Pedro Correia no És A Nossa Fé, nem quis acreditar. 80 anos! Um profissional exemplar que cresci a ouvir (que saudades dos fantásticos relatos que fazia com Jorge Perestrelo na TSF) e a admirar. Muitos parabéns, Fernando!


Resumo do Sporting 3 - 1 Mafra


quarta-feira, 15 de julho de 2015

Capas que não fizeram história, nº 51: O fugitivo

Fevereiro de 2015
via @leaodealvalade


Porque as lendas nunca abandonam os seus.



Entretanto a receção dos portistas tem sido muito calorosa...

via @baavin


Fly Outofthere?



E parece que a Megastore do Benfica acabou de sofrer mais uma baixa.


O efeito Casillas

Compreende-se perfeitamente o entusiasmo que a contratação de Iker Casillas desperta nos adeptos portistas. Não é todos os dias que um jogador com este currículo aceita vir para uma Liga onde infelizmente predominam as bancadas semi-desertas e equipas de fraca qualidade e sem ambição. O guarda-redes é um nome incontornável do futebol europeu desde que assumiu a titularidade do Real Madrid ainda muito novo, e dará uma enorme visibilidade à liga portuguesa em geral e ao Porto em particular.

Enquanto jogada de marketing é indiscutivelmente uma bomba. Não sei se valerá muitas camisolas vendidas, mas ajudará certamente o Porto a conseguir um contrato de patrocínio mais favorável e a vender mais bilhetes de época. 

Desportivamente, não tenho tantas certezas. Deve ser uma opinião consensual a de que Casillas nunca teria saído do Real Madrid se ainda estivesse na melhor fase da sua carreira. Resta saber se estará num nível suficiente que represente a mais-valia que os portistas esperam que venha a ser.

Provavelmente o único caso verdadeiramente semelhante que pode ser usado como comparação é o de Schmeichel, que à semelhança de Casillas veio diretamente de um clube de topo mundial onde era titular, para além de ter conquistado títulos importantíssimos quer ao nível de clubes quer de seleções. Tenho a opinião de que o dinamarquês foi muito melhor guarda-redes que o espanhol, mas também acho que chegou ao Sporting já mais longe do seu auge. A forma física estava definitivamente muito longe da ideal, e a motivação com que veio não seria competitivamente a mais saudável: só lhe faltou dizer que vinha para o Sporting para usufruir de umas férias (bem) pagas.

Mas a verdade é que Schmeichel acabou por ser fundamental para o fim do jejum de 18 anos do Sporting. Não tanto pelo que defendeu, mas sobretudo pelo seu carisma, pela sua liderança e voz de comando que representava para o resto da equipa.

Acredito que Casillas chega bastante mais motivado ao Porto do que Schmeichel ao Sporting, mas será que poderá ser o líder que o Porto precisa? Nomeadamente com o afastamento de Quaresma, a previsível perda de influência de Hélton - depois das declarações que (não) fez de Lopetegui - e a mais que provável saída de Jackson? Por um lado, não me parece que Casillas tenha perfil para isso, mas por outro não podemos ignorar que vem para uma equipa carregada de espanhóis que cresceram a admirá-lo. E Lopetegui não se importará seguramente de entregar a Casillas um papel de grande relevância dentro do balneário.

Não me parece que o desconforto demonstrado por Hélton relativamente a Lopetegui venha a constituir um problema para o clube. Duvido que o brasileiro tenha neste momento uma grande influência junto dos colegas, atendendo que praticamente todos os jogadores do plantel entraram no clube já com Lopetegui como treinador. Para além de Hélton, apenas Alex Sandro, Maicon, Herrera, Quintero e Varela vêm de trás.

A questão mais discutível é a financeira. É verdade que o Real Madrid comparticipa uma enorme percentagem do salário do jogador, mas para que alguém justifique um custo salarial de 5M na liga portuguesa precisa de garantir muitos pontos. Olhando para os golos sofridos pelo Porto na época passada - 13 golos sofridos em 34 jogos, poucos dos quais terão sido responsabilidade dos guarda-redes - parece uma tarefa bem difícil que Casillas (ou qualquer outro guarda-redes, na realidade) consiga contribuir para uma melhoria significativa desses números. E como em qualquer outro investimento considerável, há que considerar o custo de oportunidade: o (muito) dinheiro gasto no salário de Casillas poderia ser usado na contratação de um ponta-de-lança de valor indiscutível que ajude a esquecer Jackson. Se bem que, atendendo ao arrojo dos dirigentes portistas no ataque ao mercado, uma coisa provavelmente não impedirá a outra. Mas essa é uma questão para outro post.

Mas questões desportivas e financeiras à parte, sendo eu um adepto de um clube adversário do Porto, não posso deixar de admitir que esta contratação é muito positiva para o futebol português. Jogadores deste nível nunca serão demais.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Que Sir William regresse depressa e mais forte...

... e até lá que o Wallyson, o Adrien e o João Mário segurem o meio-campo. É um abalo grande, mas podia ser pior.

Possíveis reações à revelação do L' Equipe

Para quem não esteja a par, o jornal L' Equipe publicou ontem ao princípio da noite uma lista das contratações dos clubes da liga francesa, revelando lá pelo meio uma inconsistência nos valores de uma transferência amplamente divulgada pelos jornais desportivos nacionais:


Parece que Ivan Cavaleiro foi comprado pelo Mónaco por 3,50M, e não pelos milagrosos 15M que a comunicação social portuguesa comeu e o Benfica calou. Eis as leituras que poderão ser feitas a partir desta revelação:


A LEITURA DO SENSO COMUM

A taxa de câmbio entre o Euro da Treta (EUT) e o Euro (EUR) é finalmente de conhecimento público: 1 EUR = 4,285 EUT. 

Não deixa de ser uma venda muito boa de um jogador que ainda não conseguiu explodir e que, apesar de ter algum potencial, dificilmente alguma vez será um jogador de primeira linha. Eu, por exemplo, não o quereria no Sporting por 3,5M. Ou seja, terem encontrado quem o queira por esse valor parece-me, mesmo confirmando-se estes valores, bastante positivo. O mesmo racional pode ser aplicado a João Cancelo.

E, como é evidente, fica a dúvida: será que Bernardo Silva foi mesmo vendido por 15,75M? Parece cada vez mais um cenário improvável - é cada vez mais óbvio que foi uma venda em pacote, e basta olhar para o dinheiro que o Mónaco continua a não gastar em contratações.


A LEITURA DOS VIEIRISTAS

O Benfica recebeu os 15M por Ivan Cavaleiro! O facto de o L' Equipe indicar que o Mónaco pagou apenas 3,5M pode ter cinco explicações perfeitamente plausíveis:

a) O Mónaco só pagou 3,5M, mas os restantes 11,5M foram pagos pelo Mendes para que a Gestifute possa ter o exclusivo dos negócios de venda das pérolas do Seixal nos próximos anos, desde que sejam vendidos pelo valor mínimo de 15M
b) O Mónaco adquiriu apenas 23% do passe de Ivan Cavaleiro, e tem uma cláusula de compra obrigatória dos restantes 77% no final da época, por causa das imposições do Fair Play Financeiro
c) Os 11,5M em falta serão incorporados na futura venda de Hélder Costa, que terá uma cláusula de compra obrigatória de 26,5M
d) É engano do L' Equipe (o que é que eles sabem de negócios entre portugueses, certo?)
e) É um erro propositado do L' Equipe, que não suporta ver portugueses a serem bem sucedidos em França a não ser numa linha de montagem da Renault ou no ramo de limpeza doméstica (cambada de xenófobos!)

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Bem-vindo de volta, João Pereira!


João Pereira é um regresso surpreendente que, não sendo a minha primeira escolha para reforçar o lado direito da defesa do Sporting, me parece no entanto uma boa contratação:

  • É um jogador que Jorge Jesus conhece muito bem do Braga, tendo sido titular indiscutível no ano em que trabalharam juntos
  • Aumenta o nível de experiência da defesa
  • Jogador raçudo e capaz de desequilibrar no ataque
  • Já conhece os cantos à casa, pelo que não existirão problemas de adaptação
  • Contratação sem encargos
  • Contrato de 2 anos, que me parece adequado face à idade do jogador (31 anos)
  • Mais um processo conduzido com total discrição, que nenhum órgão de comunicação social antecipou - só foi conhecido quando já realizava testes médicos.


O milagre financeiro do Sporting

Muitos falam num all-in do Sporting em função do investimento feito em Jorge Jesus e no reforço do plantel, o que me parece ser um perfeito disparate. E isso é facilmente comprovável pelo que o Cafageste escreveu na caixa de comentários do post de sábado:



Não existem milagres financeiros. Nem aqui, nem na China. Nem no outro lado da estrada ou ao pé da VCI!

O que houve no Sporting foi um investimento num treinador que se considera que poderá valorizar jogadores. Porque se o Sporting pudesse e andasse a esbanjar dinheiro:
  • cobria a proposta do fóculporto pelo Danilo
  • não andava vários dias a tentar contratar o Bryan Ruiz pelo menor preço possível, falando-se de um valor inferior a 2M de euros, quando o Fulham pedia 4M.
  • aceitaria sem problemas as exigências do Ricky
  • já teria fechado o Teo Gutierrez e o Douglas.

Dizer que o Sporting está cheio de dinheiro é falso. Investiu de forma diferente o pouco que tem. E o Jesus só ganhará os 6M se atingir os objectivos. E isso representará um encaixe superior para o clube!



Haverá no Sporting um efetivo aumento do orçamento, assumido pela direção, ditado pela inesperada oportunidade de contar com o melhor treinador que um clube português pode aspirar no momento. É evidente que existem riscos inerentes ao aumento do orçamento, mas avaliando pelas negociações prolongadas que têm havido para contratar os jogadores em que estamos interessados, esses riscos desaparecerão se o Sporting se qualificar para a fase de grupos da Liga dos Campeões. Falhando o apuramento, parece-me muito provável que o Sporting terá que vender alguém no mercado de inverno - como, aliás, o Benfica fez com Matic, Rodrigo, André Gomes e Enzo nas últimas duas janelas de transferências de inverno. A diferença é que ao Sporting bastará efetuar uma boa venda para voltar a equilibrar as finanças (e a tesouraria) da época.

O Benfica e a regra dos 15

Foi ontem publicado mais um artigo tremendamente oportuno de Pippo Russo, para o Calciomercato, que vem na sequência das recentes vendas de Cancelo e Cavaleiro e que usa como ponto de partida a ridícula capa do jornal A Bola de ontem. O artigo original pode ser lido aqui: LINK.

Sinto vergonha alheia pelo que o jornal A Bola já foi no passado. Quanto ao resto da imprensa, referirem que os dados aqui identificados já eram conhecidos do público não é desculpa para não falarem no assunto. Mesmo não havendo provas, há certamente as conclusões que podem ser retiradas usando o bom senso de quem conhece como funciona o futebol e alguns dos seus atores. E o facto de esta ser uma situação em que ninguém minimamente esclarecido porá a mão no fogo pela veracidade dos números anunciados, será certamente motivo suficiente para quem de direito debater e investigar estas relações tão estranhas e convenientes.

Deixo de seguida o artigo traduzido (admito algumas falhas pois o meu italiano é fraco, mas tive muito cuidado para tentar capturar o sentido das palavras). Para ler, reler e refletir - começando pelos benfiquistas.



Sistema Mendes: o Benfica e a regra dos 15

O toque de Midas. A primeira página da edição desta manhã de A Bola não deixa margem para dúvidas sobre a capacidade do Benfica em formar e vender os seus próprios talentos. Uma caprichosa montagem fotográfica mete em primeiro plano o presidente encarnado Luís Filipe Vieira e algumas das figuras produzidas no Seixal, o centro desportivo do Benfica também conhecido como Caixa Futebol Campus. Essa academia, segundo a história contada pelo mais benfiquista dos três diários desportivos portugueses, tornou-se numa espécie de reserva dourada para o clube, que de há um ano para cá esteve ocupado a vender os melhores produtos do viveiro. Daqui vem a explicação para o "toque de Midas" de que A Bola fala, apregoando na primeira página os nomes e os valores desta suposta bonança e, como se tivesse necessidade de cair no exagero, afirma ainda que "o Benfica é um caso de estudo mundial".

E aqui os colegas portugueses meteram verdadeiramente os pés pelas mãos, porque preferiram passar a mão pelo pelo à nação benfiquista e ao Estado Maior encarnado, mas deviam também ter mantido uma certa moderação ao representarem a realidade das coisas. Especialmente quando se faz referência a metade da verdade e se omite a outra metade da história. É certo que ninguém pode contestar o que uma das legendas refere ("Diamantes do Seixal já renderam mais de 75 milhões de euros"), mas não se olha para a outra parte da história e às perguntas que se impõem: por que motivo, sem exceção, os nomes e os valores envolvidos nestas transferências são sempre os mesmos? E os mais de 75 milhões recebidos serão realmente o melhor que conseguiram arranjar? 

É precisamente olhando para o outro lado desta questão que os recentes negócios do Benfica assumem realmente o título de "caso de estudo mundial". Um pouco como aquilo que aconteceu com o Porto há três meses, cuja propaganda exaltava os 700 milhões de receitas encaixadas nos últimos onze anos graças à venda de jogadores. Felizmente existiram análises oportunas como a que foi feita por Enrico Turcato para o site da Eurosport a contar o outro lado da história (LER AQUI). Ou, para aproveitar os mesmos termos já usados aqui, para revelar a outra metade da verdade. No que diz respeito ao Benfica, o outro lado da história nem necessita de um grande trabalho de investigação. Em vez disso, basta referir dois elementos: a presença pouco discreta de Jorge Mendes e dos seus clubes de confiança, e a bizarra utilização do montante de 15 milhões (ou o quer que seja) como o preço que fechou as transações. 

E daqui voltamos ao nosso Midas: o presidente Vieira. Ou seja, o presidente de um clube que, segundo o que foi revelado no início de junho pelo Jornal de Negócios, é o "campeão da dívida". Uma crise que se tornou mais séria desde o verão de 2014, com o colapso do Banco Espírito Santo, que para além de ter constituído o Benfica Stars Fund (fundo de investimento a quem o Benfica cedia percentagens dos direitos económicos dos seus jogadores) era também acionista do clube. E na verdade continua a ser acionista enquanto Novo Banco, que é a entidade renascida das cinzas do BES graças a uma vigorosa injeção de dinheiros públicos. Há que acrescentar que alguns dos problemas dos incidentes do BES também envolveram o presidente Vieira, exposto pela sua empresa Promovalor. É neste contexto que Jorge Mendes aparece e coloca à disposição a sua rede de clubes e alianças. A primeira fase ocorre em janeiro de 2014, numa altura em que o BES ainda não tinha declarado bancarrota, e como tal as finanças do Benfica eram consideradas "dores normais". Nos últimos dias do mercado de inverno de 2014 o clube encarnado cedeu o atacante brasileiro naturalizado espanhol Rodrigo Moreno e o jovem médio André Gomes (um dos "diamantes do Seixal"). O comprador é o fundo de investimento Meriton Capital, propriedade do singapurense Peter Lim, que negociava a compra do Valência e, sobretudo, sócio de Jorge Mendes no fundo Quality Sports Investment (LER AQUI). Curiosamente, os dois jogadores acabaram por ficar até ao final da época no Benfica. Viriam a ser transferidos para o Valência ainda antes de Peter Lim ter concluido a sua ascensão no clube espanhol: uma cedência dos "seus" jogadores como prova de confiança, quase como se fosse uma garantia. Quanto aos valores, 15 milhões foi o custo de André Gomes, enquanto Rodrigo custou 30 milhões. O total foi 45 milhões, ou seja, 15 milhões por 3. Este último cálculo não é nenhum pretensiosismo da minha parte, mas apenas uma recorrência curiosa. 

Depois chegou o verão de 2014, altura em que o estouro do BES coloca o Benfica e Vieira em estado de emergência. E quem chega para resolver o problema? Jorge Mendes, obviamente, que facilita a transferência de um dos "diamantes do Seixal", o guarda-redes Jan Oblak, para o Atlético Madrid (LER AQUI). Este é um dos clubes campeões do mundo em TPOs. O preço é 16 milhões, o valor da cláusula de rescisão. E mais uma vez estamos muito próximos da tal cifra fatídica. O mais estranho na transferência de Oblak é que, poucos dias depois da venda, Luís Filipe Vieira vê-o ser oferecido de volta (LER AQUI). Oblak devia ter mesmo muita utilidade para os colchoneros. De qualquer forma, depois de um começo lento, o guarda-redes esloveno acabaria por conquistar a titularidade no Atlético. Mas as manobras feitas por Mendes na zona do Seixal no verão de 2014 não se ficaram por aqui. O super-agente conseguiu de facto pôr as mãos em três dos jovens mais promissores: Bernardo Silva, João Cancelo e Ivan Cavaleiro. Os três foram emprestados com uma cláusula de compra já fixada. Conseguem adivinhar o valor? Exatamente, 15 milhões de euros cada. Os três são enviados para clubes de chancela mendesiana: Bernardo Silva para o Mónaco, Ivan Cavaleiro para o Deportivo La Coruña e João Cancelo para o Valência. De notar que os treinadores de Mónaco e Valência têm como agente Jorge Mendes: tratam-se dos portugueses Leonardo Jardim e Nuno Espírito Santo. Este último não tem nada a ver com o banco falido, apesar de a coincidência de nomes ser curiosa. Como se saíram os três jogadores emprestados? Muito bem, Bernardo Silva. Suficiente para alimentar a dúvida sobre se o Benfica não o terá dispensado demasiado cedo e a um preço bem inferior daquilo que poderiam ter obtido se o tivessem deixado amadurecer na sua equipa. Os outros dois ainda não se revelaram ao nível do seu colega, mas também no seu caso a pergunta se aplica: o brilho do ouro de Midas é realmente tudo aquilo que conseguiram arranjar? Ou não ficaria melhor descrever-se como um anúncio de "compro ouro", com um vendedor aflito e um comprador capaz de fazer o preço pretendido? Falta dizer que no final da época o Benfica viu os três saírem definitivamente. O Mónaco acionou a opção por Bernardo Silva e levou também Ivan Cavaleiro, enquanto que o Valência acionou a opção por João Cancelo. Os valores? O que podemos ver na primeira página de A Bola são respetivamente: 15,75 milhões, 15 milhões e 15 milhões. Um disco riscado. Que promete continuar tocar a mesma música durante muito tempo. É que o Mónaco já recebeu por empréstimo outro "diamante do Seixal", Hélder Costa. A cláusula de compra já está definida. Por quanto? Vamos ver se adivinhamos. 

E não vai acabar aqui, porque o Benfica já contratou três jogadores ao Rio Ave, o clube mais mendesiano de todos (LER AQUI). Tratam-se de Ederson, Diego Lopes e Hassan. Todos da zona Mendes. Hassan foi devolvido devido a problemas cardíacos, enquanto os outros dois não são propriamente reforços indispensáveis ao Benfica.

P.S.: nas últimas semanas o Mónaco foi protagonista de uma transferência muito desagradável para o Milan: aquela que levou Geoffrey Kondogbia para o Inter. Uma leitura credível dessa história fala numa desfeita de Jorge Mendes aos seus inimigos da Doyen Sports Investment. Mas sabemos como é, o Milan é sempre um clube com quem devemos manter boas relações diplomáticas, coisa que Mendes tem bem presente. Daí que nas últimas horas se tenha concluído uma negociação reparadora: os monegascos compraram El Shaarawy, apesar do seu desastroso currículo recente. Valor do negócio: 2 milhões pelo primeiro ano de empréstimo e opção de compra para o próximo ano de 14. 16 no total, dos quais 15 vêm da venda de Ferreira Carrasco do Mónaco ao Atlético. Será que na Liga TPO roda sempre o mesmo dinheiro?  

domingo, 12 de julho de 2015

Resumo do Sporting 3 - 0 Sporting B


Entrevista a Labyad

Já tem uns dias, mas só ontem é que me apercebi que a Sporting TV o tinha entrevistado. Parece voltar de cabeça limpa. Esperemos que consiga concretizar todo o seu potencial.


sábado, 11 de julho de 2015

Sobre a página do diretor de comunicação do Sporting no Record

Foi com alguma surpresa que vi que o Record reservou uma página da edição de ontem para Mário Carneiro, diretor de comunicação do Sporting - à semelhança, diga-se, do que já tinha acontecido uma semana antes com João Gabriel, diretor de comunicação benfiquista. Para quem não leu, aqui fica:


Estaria a mentir se dissesse que gostei de ler. Sinceramente, não gostei. Por vários motivos.

Em primeiro lugar, o facto de ser um diretor de comunicação a escrever é logo à partida um mau sinal. Para mim, o diretor de comunicação não deve ser um ator, deve ser o homem dos bastidores que ajuda a escrever o guião e indica quando e como os verdadeiros atores devem dizer as suas deixas. O facto de João Gabriel falar publicamente de forma frequente não significa que seja essa o modelo a seguir.

Depois, por causa de parte do conteúdo do que Mário Carneiro escreveu. Deixo 3 exemplos.

 - A forma como misturou o apoio vibrante dos sportinguistas em ocasiões como a conquista da Taça CERS, a participação da Missão Pavilhão e na última AG, ou os festejos da Taça de Portugal com a conclusão do mais-bem sucedido empréstimo obrigacionista da história do Sporting. A ver se nos entendemos: é claro que é positivo que o empréstimo obrigacionista se tenha concretizado com sucesso, mas:

a) O facto de a procura ter ultrapassado largamente o objetivo deveu-se sobretudo à elevada taxa de juro que foi oferecida - mais baixa que o do empréstimo anterior, é certo, mas ainda assim bem mais alta que as taxas oferecidas por Porto e Benfica -, o que não é algo de que nos devamos orgulhar por aí além;

b) O sucesso da subscrição deveu-se em fraca medida à adesão dos sportinguistas, mas principalmente a quem tem muito dinheiro disponível e quis rentabilizá-lo. Aliás, basta consultar os resultados da subscrição para perceber que dos 4.241 investidores, a esmagadora maioria das obrigações ficou nas mãos de um conjunto bastante pequeno de subscritores - que serão maioritariamente empresas ou particulares endinheirados que apostam com frequência neste tipo de produtos financeiros. 

c) Compreendo que o empréstimo obrigacionista era algo previsto na reestruturação financeira acordada com a banca, mas para mim não deixa de ser um foco de (grande) preocupação: contraímos um empréstimo de 30M para pagar um de 20M mais juros, e infelizmente parece-me quase inevitável que daqui a 3 anos estaremos a pedir um de 40M para pagar este.

Resumindo: não discuto a necessidade de contrair este empréstimo e muito menos responsabilizo a atual direção pelos motivos que nos levam a fazê-lo, mas recuso-me a celebrá-lo e usá-lo como uma prova da vitalidade do sportinguismo.


Também não apreciei absolutamente nada partes do texto como estas:
"As réplicas do sonho de Bruno de Carvalho são cada vez mais visíveis, óbvias e incontornáveis"
ou
"Este é o Clube que, fruto da visão do seu Presidente, apresenta um lucro de 22 milhões de euros".

Sou um admirador confesso da coragem da gestão de Bruno de Carvalho e da forma como diariamente defende os interesses do Sporting, mas isto não passa de um endeusamento completamente desnecessário. Fossem João Gabriel, Fernando Guerra ou João Querido Manha a usar as mesmas palavras referindo-se a Luís Filipe Vieira, e estaríamos todos a acusá-los de terem escrito uma peça de propaganda. Lamento, mas isto não é diferente. Que se fale das ideias concretas do presidente, do alcance da sua visão, mas não do presidente em si - e muito menos nestes termos. Os méritos do presidente serão prontamente reconhecidos pelos sportinguistas em função da qualidade das suas ideias e do sucesso da sua implementação.

E, já agora, seria prudente que não se falasse num lucro de 22 milhões de euros enquanto não soubermos qual será a decisão do TAS em relação ao caso Rojo. Isto estende-se a Bruno de Carvalho, que já o fez por diversas vezes.


- "Por aqui passa o indesmentível impacto internacional do Sporting Clube de Portugal, o mesmo impacto que levou a Direção a apostar em novas funções para o último técnico português campeão nacional pelo Clube, entregando a Augusto Inácio as Relações Internacionais (...)".

Aqui Mário Carneiro está a tentar nitidamente impingir-nos uma ideia que não corresponde à realidade. Quem leia isto até deve estar a pensar que se tratou de uma promoção, mas na realidade todos sabemos que Inácio foi afastado como consequência direta da chegada de Jorge Jesus. O novo cargo é uma forma simpática de agradecer os serviços prestados, mas não passa disso. 

O afastamento de Inácio é uma decisão complicada e deve ser assumida como tal. Tendo a oportunidade de contar com Jesus como treinador, Bruno de Carvalho não hesitou em mudar radicalmente a estrutura do clube. Compreendo a decisão e aplaudo-a. Creio que a maioria dos sportinguistas pensa da mesma forma que eu, até porque sempre houve muitas dúvidas em relação ao real papel de Inácio dentro da estrutura. Mas façam o favor de não nos passarem um atestado de estupidez fazendo de conta que Inácio não era até há umas semanas atrás o homem forte do futebol, e fingindo que se tratou de uma medida pensada e enquadrada numa estratégia que já vinha de trás. 



Voltando ao princípio, vejo com agrado as evoluções que se registaram nos últimos meses ao nível da comunicação, e em particular no relacionamento com a comunicação social. Passámos também a utilizá-la em nosso proveito, coisa que já não via acontecer há muito tempo. Mas espero que, sendo este espaço de opinião para continuar, Mário Carneiro abandone o caminho do elogio fácil à figura do presidente e se concentre mais nas ideias que o clube defende e nas mensagens que devem ser passadas aos sportinguistas. E sempre de uma forma honesta e equilibrada. Nem tudo o que acontece no Sporting é bom, e nem tem que ser. 

O que queremos é a realidade, e já demonstrámos ter estofo para lidarmos com ela, por muito dura que seja. Não copiemos os maus exemplos dos outros.