quarta-feira, 15 de julho de 2015

O efeito Casillas

Compreende-se perfeitamente o entusiasmo que a contratação de Iker Casillas desperta nos adeptos portistas. Não é todos os dias que um jogador com este currículo aceita vir para uma Liga onde infelizmente predominam as bancadas semi-desertas e equipas de fraca qualidade e sem ambição. O guarda-redes é um nome incontornável do futebol europeu desde que assumiu a titularidade do Real Madrid ainda muito novo, e dará uma enorme visibilidade à liga portuguesa em geral e ao Porto em particular.

Enquanto jogada de marketing é indiscutivelmente uma bomba. Não sei se valerá muitas camisolas vendidas, mas ajudará certamente o Porto a conseguir um contrato de patrocínio mais favorável e a vender mais bilhetes de época. 

Desportivamente, não tenho tantas certezas. Deve ser uma opinião consensual a de que Casillas nunca teria saído do Real Madrid se ainda estivesse na melhor fase da sua carreira. Resta saber se estará num nível suficiente que represente a mais-valia que os portistas esperam que venha a ser.

Provavelmente o único caso verdadeiramente semelhante que pode ser usado como comparação é o de Schmeichel, que à semelhança de Casillas veio diretamente de um clube de topo mundial onde era titular, para além de ter conquistado títulos importantíssimos quer ao nível de clubes quer de seleções. Tenho a opinião de que o dinamarquês foi muito melhor guarda-redes que o espanhol, mas também acho que chegou ao Sporting já mais longe do seu auge. A forma física estava definitivamente muito longe da ideal, e a motivação com que veio não seria competitivamente a mais saudável: só lhe faltou dizer que vinha para o Sporting para usufruir de umas férias (bem) pagas.

Mas a verdade é que Schmeichel acabou por ser fundamental para o fim do jejum de 18 anos do Sporting. Não tanto pelo que defendeu, mas sobretudo pelo seu carisma, pela sua liderança e voz de comando que representava para o resto da equipa.

Acredito que Casillas chega bastante mais motivado ao Porto do que Schmeichel ao Sporting, mas será que poderá ser o líder que o Porto precisa? Nomeadamente com o afastamento de Quaresma, a previsível perda de influência de Hélton - depois das declarações que (não) fez de Lopetegui - e a mais que provável saída de Jackson? Por um lado, não me parece que Casillas tenha perfil para isso, mas por outro não podemos ignorar que vem para uma equipa carregada de espanhóis que cresceram a admirá-lo. E Lopetegui não se importará seguramente de entregar a Casillas um papel de grande relevância dentro do balneário.

Não me parece que o desconforto demonstrado por Hélton relativamente a Lopetegui venha a constituir um problema para o clube. Duvido que o brasileiro tenha neste momento uma grande influência junto dos colegas, atendendo que praticamente todos os jogadores do plantel entraram no clube já com Lopetegui como treinador. Para além de Hélton, apenas Alex Sandro, Maicon, Herrera, Quintero e Varela vêm de trás.

A questão mais discutível é a financeira. É verdade que o Real Madrid comparticipa uma enorme percentagem do salário do jogador, mas para que alguém justifique um custo salarial de 5M na liga portuguesa precisa de garantir muitos pontos. Olhando para os golos sofridos pelo Porto na época passada - 13 golos sofridos em 34 jogos, poucos dos quais terão sido responsabilidade dos guarda-redes - parece uma tarefa bem difícil que Casillas (ou qualquer outro guarda-redes, na realidade) consiga contribuir para uma melhoria significativa desses números. E como em qualquer outro investimento considerável, há que considerar o custo de oportunidade: o (muito) dinheiro gasto no salário de Casillas poderia ser usado na contratação de um ponta-de-lança de valor indiscutível que ajude a esquecer Jackson. Se bem que, atendendo ao arrojo dos dirigentes portistas no ataque ao mercado, uma coisa provavelmente não impedirá a outra. Mas essa é uma questão para outro post.

Mas questões desportivas e financeiras à parte, sendo eu um adepto de um clube adversário do Porto, não posso deixar de admitir que esta contratação é muito positiva para o futebol português. Jogadores deste nível nunca serão demais.