terça-feira, 7 de julho de 2015

Perguntas para Vítor Pereira

No último sábado, um dia antes de Marco Ferreira ter feito as polémicas afirmações sobre eventuais pressões de Vítor Pereira na semana anterior ao Rio Ave - Benfica, o presidente do CA foi entrevistado na SIC Notícias. Aqui ficam algumas partes que me pareceram relevantes:


Antes de colocar as minhas questões, é importante que estejam a par do seguinte:
  • O CA divide-se em 3 áreas distintas: a secção profissional, responsável pelas nomeações dos árbitros para as competições profissionais; a secção não profissional, responsável pelas nomeações de árbitros para as competições não profissionais; e a secção de classificação, responsável pela elaboração das classificações dos árbitros das diferentes categorias e pela nomeação e gestão dos observadores. Acima das 3 secções está o presidente do CA, que é Vítor Pereira.
  • As classificações dos árbitros de primeira categoria dependem de uma ponderação de 2 fatores: 95% provêm das avaliações dos jogos em que participaram; e os restantes 5% são definidos pelos resultados dos testes físicos. 
  • A avaliação de um jogo é determinada pela pontuação dada pelo observador, que por sua vez é corrigida pelos seguintes fatores:
    • Coeficiente do observador - rácio que serve para evitar que observadores tendencialmente mais benevolentes beneficiem os árbitros que mais vezes observam, e para evitar que observadores tendencialmente mais exigentes prejudiquem os árbitros que mais vezes observam
    • Grau de dificuldade do jogo - atribuída pela secção profissional, o mesmo departamento do CA que é responsável pela nomeação dos árbitros
  • A classificação dos árbitros é afetada por fim pelas sanções disciplinares que os juízes acumularam ao longo da época.
  • A nomeação de Marco Ferreira para a final da Taça de Portugal nunca poderá ter sido feita com o objetivo de o ajudar a subir na classificação, pois é um dos três jogos oficiais (a par da Supertaça e da final da Taça da Liga) que não são considerados para efeitos de classificação.

Agora sim, aqui ficam as minhas questões:


Sobre o critério de nomeação das finais da Taça de Portugal e da Taça da Liga

Vítor Pereira começa por afirmar que foi ele que nomeou Marco Ferreira para a final da Taça. Disse também que, "como é evidente, não podia saber [que o árbitro ia ser despromovido]". A nomeação foi definida em finais de março - a par com a nomeação para a final da Taça da Liga - em função das classificações do ano anterior e incluindo o requisito de nomear um árbitro que nunca tivesse tido a oportunidade de apitar cada uma das finais em causa.

Ou seja, podemos concluir pelas palavras de Vítor Pereira que as nomeações para as finais da Taça de Portugal e da Taça da Liga o momento de forma atual dos árbitros é irrelevante. Isto faz algum sentido? Tratando-se de jogos que decidem títulos, não deveriam ser nomeados os árbitros em melhor momento? Não deveria ser uma nomeação feita na própria semana do jogo (ou, no limite, na semana anterior) em vez de dois meses antes?


Sobre o desconhecimento da classificação

Compreendo os motivos que levaram a definir a regra de que as secções profissional e não profissional da Liga não tenham uma noção exata da classificação dos árbitros. Suponho que a ideia seja a de não se deixarem influenciar ou tentarem influenciar o desfecho da mesma. Mas não sejamos ingénuos, todos os membros do CA sabem o que é preciso para fazer um qualquer árbitro galgar posições em caso de dúvida ou necessidade.

Vítor Pereira confirmou que vai tendo acesso às notas dos árbitros ao longo da época. Suponho que todo o CA tenha acesso a essa informação. Quem nomeia os árbitros é responsável pela definição do grau de dificuldade dos jogos, como tal também têm esse elemento. Para além disso, são obrigados a ter conhecimento das sanções disciplinares aos árbitros, pois não os podem nomear enquanto estão castigados. Ou seja, se por absurdo algum elemento da secção profissional quisesse construir uma classificação provisória podia fazê-lo facilmente recorrendo a uma folha de Excel básica.

Como tal, não seria mais adequado haver uma classificação provisória (mesmo que não incluindo alguns dos critérios como o coeficiente do observador) mantida semanalmente e que seja partilhada com quem nomeia os árbitros? Ou a secção de classificações, que reúne todas as semanas, só lá está para nomear observadores e arquivar a sua papelada após cada jogo?


A gestão do estado de alma dos árbitros ao longo da época

Vítor Pereira referiu que usa a informação das notas para ir gerindo "o estado de forma e o estado de alma dos árbitros ao longo da época". Nesse caso, por que motivo não fez o mesmo para a final da Taça de Portugal, decidindo-se por um árbitro à beira de um ataque de nervos que tinha perfeita consciência das más notas que tinha e, por cima disso, estava no meio de um processo disciplinar por um conflito com o observador do Setúbal - Porto?