sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Algumas considerações sobre o tratamento do caso do motorista de Vieira

1. Para um gestor de elite, negociador implacável, uma das maiores dádivas colocadas na Terra por Deus Nosso Senhor desde Jesus Cristo (segundo o evangelho de Nuno Luz), Vieira tem andado a falhar demasiado na avaliação do caráter das pessoas que o rodeiam. Primeiro, quando deixou um treinador incompetente e intratável (a avaliar por aquilo que muitos elementos da máquina de propaganda benfiquista têm dito de Jesus) comandar a sua equipa durante 6 anos. 


Agora, tem esta desagradável surpresa com um indivíduo que era seu motorista ainda antes de ser presidente do Benfica, que voltou a ser seu motorista enquanto presidente do Benfica, e que teve como prémio pela sua lealdade o cargo de diretor de um departamento recém-criado. E ficámos hoje a saber que este diretor ex-motorista também se entretinha nas horas vagas a ameaçar o opositor de Vieira às eleições de 2009, Bruno Carvalho.


2. Não menos extraordinária é a forma como o Benfica conseguiu abafar esta notícia durante dois meses. Não são muitos os casos neste país em que se consegue fazer com que investigadores, magistrados ou jornalistas se mantenham calados. Foi preciso ser o JN, diário do Porto muito ligado ao clube de Pinto da Costa a revelar a notícia. E não é preciso ser-se particularmente perspicaz que a notícia foi libertada com a benção de Pinto da Costa, avaliando pelo tweet que o Porto fez no dia anterior à sua publicação (e que podem ver à direita). Para quem não perceber a indireta, a porta 18 era o local do Estádio da Luz por onde entravam os cidadãos colombianos que José Santos recebia. Ou seja, parece que definitivamente o leitão azedou.

3. Por outro lado, o CM, normalmente tão bem informado quando o tema envolve a dose certa de podridão, foi apanhado completamente de calças na mão. No dia seguinte a referida publicação comete a proeza de fazer uma capa em que apresenta Vieira como um homem generoso com ar de sofrimento, cuja confiança foi traída e que agora está a fazer todos os possíveis para ajudar a investigação. Não digo que Vieira não esteja a colaborar, mas é um ângulo surpreendentemente benevolente atendendo à lixeira ética que regula o trabalho das pessoas do Correio da Manhã (reparem que estou a evitar a palavra jornal e jornalistas).

4. Entretanto, os jornais desportivos fazem referências envergonhadas ao assunto, longe das capas. É claro que não se trata de um assunto desportivo, mas quando há antecedentes como a da capa em baixo à esquerda...


... fica-se com a ideia de que se calhar justificar-se-ia que A Bola colocasse algum destaque na capa de hoje que podem ver em cima à direita.

5. O Benfica pode e deve condenar o assunto, mas não pode negar que é um problema que envolve o clube. Trata-se de um dirigente do clube (interessante a forma como o Benfica tentou a impingir a ideia de que se tratava de um ex-funcionário, quando na realidade apenas deixou de o ser depois de ter sido preso) que usava as instalações e uma viatura do clube para o desenvolvimento da sua atividade paralela.

6. Em função destes acontecimentos, houve quem oportunamente levantasse o pó a palavras antigas que hoje ganham todo um novo significado, como estas palavras que Pinto da Costa dedicou a Vieira em 2012 (que podem ver à direita).

Não nos podemos esquecer de que falamos de dois velhos conhecidos, que partilharam uma bela amizade durante anos e que saberão seguramente muito da vida do outro.