quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Apesar de tudo, ganhámos

Foi um Sporting de contrastes que se apresentou ontem em Alvalade. A equipa de Jorge Jesus entrou de forma personalizada e ofereceu aos mais de 40.000 espectadores uns primeiros vinte minutos de excelente futebol, período em que acabaria por colocar-se em vantagem no marcador. No entanto, depois do golo de Teo, o CSKA pegou no jogo e começou a chegar à nossa área com demasiada facilidade. É certo que parar Musa e Doumbia não é fácil para nenhum jogador, mas foi o próprio Sporting que se colocou a jeito ao não conseguir evitar as inúmeras situações de 1 contra 1 que começaram a semear o pânico na nossa defesa. A jogada do penálti que Rui Patrício defenderia foi um aviso sério ao qual o resto da equipa não soube reagir da melhor forma, e há que reconhecer que foi graças ao nosso guarda-redes que acabámos por não sair ao intervalo em desvantagem. Até com bola o Sporting parecia uma equipa presa pelo medo de a perder, evitando esticar o jogo - mesmo em situações de contra-ataque em igualdade numérica.

Na segunda parte tudo mudou. As pilhas de Musa esgotaram-se e o Sporting ganhou confiança para partir para cima dos russos, realizando uma segunda parte de enorme qualidade. Não só graças ao génio peruano que esteve em praticamente todas as jogadas de perigo, mas também muito por causa da ajuda que veio do banco. O ascendente traduziu-se em oportunidades de golo, ora desperdiçadas por nós, ora defendidas por Akinfeev, ora evitadas por uma arbitragem tendenciosa com demasiadas semelhanças ao roubo russo de Gelsenkirchen. Valeu Slimani com um golo a fazer lembrar aquele que marcou no Jamor e que relançou o Sporting na conquista da Taça de Portugal. Esperemos que este tenha uma importância idêntica para o sucesso da equipa nesta eliminatória.



Positivo

Apesar de tudo, ganhámos - para além da óbvia importância da vitória, o golo de Slimani que nos colocou em vantagem na eliminatória obrigará o CSKA a sair da sua zona de conforto e assumir o jogo. Não quero dizer que devemos ir para Moscovo defender o resultado, mas é sempre melhor quando são os adversários a terem que assumir a maior fatia do risco do jogo.

Rui Patrício, who else? - mais uma enorme exibição. Alvalade festejou a defesa do penálti como se de um golo nosso se tratasse, mas viu também o seu guarda-redes a fazer mais um punhado de defesas importantíssimas. Mesmo no golo de Doumbia fez a mancha de forma exemplar, quase o suficiente para que Naldo conseguisse evitar o remate do jogador africano.


Apesar das intermitências, Carrillo - há muito para dizer sobre a exibição do peruano. Foi ele que assumiu quase sempre as despesas de levar a equipa para a frente, mas infelizmente parecia estar com o complicómetro ligado e foi um jogador menos esclarecido do que é habitual. Mas a verdade é que Carrillo esteve em praticamente todos os lances de perigo do Sporting: fez um passe de génio para Ruiz a rasgar a defesa do CSKA no primeiro golo, fez uma assistência deliciosa para o golo de Slimani, e até foi ele que fez o cruzamento teleguiado para a cabeça de Slimani que acabaria por encontrar a mão do defesa russo. All in all, nada mau para um dia de trabalho.

A diferença de atitude da segunda parte - ofensivamente foi um Sporting bem mais autoritário que regressou dos balneários; defensivamente foi um Sporting bem mais solidário, com níveis de entreajuda muito superiores quando comparados com os primeiros 45 minutos. Carrillo e Ruiz (e depois Mané e Gelson) garantiram um apoio aos laterais bem mais efetivo e as situações de 1 contra 1 - e consequentemente as jogadas de perigo para a nossa baliza - praticamente desapareceram.

As substituições - Jorge Jesus conseguiu agitar o jogo com as três substituições. Primeiro ao dar a estreia a Aquilani: sem bola, o italiano pareceu um elemento estranho à equipa, mas com a redondinha nos pés passeou classe. Sempre de olhos nos colegas mais adiantados, acrescentou verticalidade no passe, acabando por estar no princípio da jogada do 2º golo ao solicitar Slimani na quina da área. Mané e Gelson acrescentaram capacidade de explosão e desequilíbrio nas faixas e no centro. Uma palavra adicional sobre Gelson Martins: ninguém diria que se estava a estrear nestas andanças, atendendo à personalidade demonstrada na forma como quis pegar no jogo.


Negativo

O golo sofrido e os últimos 20 minutos da primeira parte - o golo que sofremos não foi uma surpresa, olhando para a facilidade com que o CSKA chegou à nossa área a partir dos 25 minutos da primeira parte. Infelizmente para nós, é um golo que nos deixa sem margem para errar na segunda mão. Provavelmente vai obrigar-nos a marcar um golo em Moscovo.

Alguém explica para que servem os árbitros de baliza? - como é possível não ter visto aquela mão do defesa russo na área? Penálti por assinalar, que se junta a uma falta sobre Brian Ruiz por volta dos 60 minutos que também poderia ter dado direito a um castigo máximo. Esperemos que estes erros não acabem por ter consequências nefastas no conjunto das duas mãos.



Os russos foram o adversário mais complicado que defrontámos esta época e confirmaram que são um autêntico adversário de Champions. Vão causar-nos imensas dificuldades perante o seu público, ao qual se junta o problema adicional de o jogo se disputar num relvado sintético. Mas, apesar de tudo isto, ficou amplamente demonstrado que temos equipa para eles. Está tudo em aberto para a segunda volta.