quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Comparação dos plantéis de Sporting, Benfica e Porto entre 2014/15 e 2015/16

Após mais uma longa e penosa janela de transferências que, como é costume, foi dominada por rumores de intermináveis entradas e saídas das quais a esmagadora maioria acabou por não se concretizar, é altura de fazer o balanço do que mudou nas armas que Sporting, Benfica e Porto apresentarão esta época em relação ao ano transato. Estarão mais fortes ou, pelo contrário, mais débeis por causa dos negócios que foram fechados?

Vou fazer de seguida uma comparação entre épocas dos onzes-tipo, alternativas de banco disponíveis e treinador de cada equipa, colocando uma cor diferente que caracterize se a evolução foi positiva, negativa ou neutra. A vermelho estão as posições em que o clube piorou, a amarelo as posições em que não houve grande variação, e a verde os casos em que se registou uma melhoria.

Coloquei nos onzes-tipo alguns jogadores que atualmente se encontram lesionados (nomeadamente William, Ewerton e Salvio), pois mais cedo ou mais tarde serão opção para os seus treinadores. Neste tipo de análise não faz sentido excluir os atuais lesionados, pois qualquer jogador está sujeito a qualquer momento de ficar impossibilitado de dar o contributo à sua equipa.

Este exercício baseia-se na perceção que tenho do estado das equipas após as suas pré-temporadas e primeiros compromissos oficiais. Como qualquer avaliação preliminar, está sujeita a sofrer alterações significativas ao longo da época em função das surpresas agradáveis e desagradáveis que vão sempre surgindo.



Sporting


Na minha opinião o valor facial dos jogadores que constituirão o melhor onze de Jorge Jesus é inferior aos que estavam disponíveis na época passada. Não me parece que Ruiz venha a estar ao nível do melhor Nani da época passada, estou convencido que o Sporting estava melhor servido na lateral direita com Cédric, e para já não estou seguro que Teo Gutierrez seja um upgrade significativo em relação a Montero. Todos os outros potenciais titulares transitaram da época passada.

A conversa é outra em relação à profundidade do plantel. O Sporting parece ter mais e melhores alternativas em praticamente todas as posições em campo do que há um ano, algo que seguramente será essencial à medida que os meses forem passando e o desgaste e as lesões começarem a acumular-se. As aquisições de Naldo e Aquilani, a promoção de Gelson para o lugar do apagado Capel, e a existência de Montero como 3º avançado dão a Jesus soluções de qualidade que não existiam na temporada anterior. Para além disso, não se deve ignorar que, tendo o Sporting um plantel maioritariamente composto por jogadores jovens, seguramente que o acumular de minutos e experiência da época passada os poderá ajudar a conseguir prestações mais consistentes.

Em relação ao treinador, considero Jorge Jesus um upgrade em relação a Marco Silva.

A aposta da direção parece-me clara: manter o mais possível o talento existente e rodeá-lo de alternativas que elevem a competição pela titularidade, confiando na capacidade do treinador em conseguir extrair todo o potencial dos jogadores. Veremos se isso será suficiente para a tão desejada conquista do título.



Benfica


Apesar de o Benfica ter registado um número apreciável de compras e vendas de jogadores, o reflexo no onze base foi muito reduzido. Por um lado, deram-se as saídas de Maxi e Lima, mas por outro nenhuma das contratações parece ter capacidade para tirar o lugar de forma indiscutível a quem já era titular na época passada. Nélson Semedo tem muito potencial mas tardará ainda a atingir o nível de Maxi, pelo que aqui o Benfica não estará tão bem servido. A substituição de Lima foi melhor tratada, pois acredito que Mitroglou marcará golos suficientes para fazer esquecer o brasileiro. E Jimenez parece ser perfeitamente capaz de lutar pela titularidade, caso confirme os atributos que mostrou na liga mexicana.

O banco do Benfica na época passada já não era famoso, e esta época parece não ter melhorado significativamente. A exceção está nas posições de guarda-redes (Ederson à partida dá mais segurança que o traumatizado Artur) e ponta-de-lança (ficarei muito surpreendido se Jimenez / Mitroglou não marcar muito mais golos que Derley).

Quanto ao treinador, tenho muitas dúvidas que Rui Vitória consiga superar o trabalho de Jorge Jesus. As circunstâncias são suficientemente semelhantes às do ano passado, pelo que essa questão ficará certamente respondida no final desta época.

A estratégia de ataque ao mercado do Benfica pareceu-me errática. Não vejo grande benefício na venda de Lima, não só porque se desfez uma dupla que valeu mais de 40 golos, mas também porque logo a seguir contrataram dois jogadores de preço igual ou superior para a mesma posição. Ao mesmo tempo, não se fez qualquer esforço para reforçar a defesa, composta por jogadores na fase descendente da carreira e privada de Maxi.



Porto


A norte passa-se o inverso em relação aos clubes de Lisboa: estabilidade na equipa técnica, mas uma revolução no plantel. As saídas de Jackson, Danilo, Alex Sandro, Oliver e Casemiro seriam sempre complicadas de compensar, e numa primeira avaliação - que, reforço, admito que poderá estar errada - não me parece que o Porto tenha conseguido repôr o talento perdido em qualquer uma dessas posições. Maxi e Danilo Pereira não deixam de ser boas contratações, mas não estão no mesmo nível dos seus antecessores. Oliver não foi substituído (Bueno será o que mais se aproximará, mas é uma adaptação), pelo que a dinâmica do meio-campo acabará por ter que mudar. Aboubakar valerá muitos golos, mas não é Jackson. E em relação à posição de defesa esquerdo, no meio das muitas incógnitas há apenas uma certeza: dificilmente algum dos quatro candidatos (Layún, Indi, Cissokho e Angel) igualará o rendimento de Alex Sandro. Em contrapartida, Casillas é um upgrade evidente em relação a Fabiano, e Imbula poderá ser um caso sério se Lopetegui conseguir tirar o melhor partido das suas características.

Também no banco a melhoria é generalizada. Mais opções nas laterais (Ricardo não deixava de ser uma adaptação), meio-campo (ter como alternativas André André, Rúben Neves, Sérgio Oliveira, Evandro e, em certa medida, Bueno, é um luxo que mais nenhum treinador em Portugal tem) e alas (saíu Quaresma, entraram Corona e Varela). A situação de backup do ponta-de-lança piorou: não me parece que Osvaldo consiga igualar a boa média de golos de Aboubakar na época passada.

Lopetegui mantém-se. A experiência do futebol português é outra, mas por outro lado a pressão e a tolerância para os erros por parte de direção e adeptos não deverá ser a mesma.

Confesso que não encontro grande lógica na forma como o Porto decidiu atacar o mercado. Pareceram gastar quase todas as fichas no meio-campo (Imbula, Danilo, André André, Sérgio Oliveira), apesar de já terem Rúben Neves, Evandro, Carlos Eduardo, Quintero e Herrera. Não tocaram nos defesas centrais (posição em que não têm nenhum jogador de nível internacional ou de potencial assinalável). Osvaldo pareceu uma solução de último recurso para o ataque, que envolve riscos em função do seu comportamento passado. Quaresma foi mandado embora apesar da boa época, e o substituto acabou por aparecer apenas no último dia de mercado, por um valor muito elevado. Ou seja, o arrumar de casa do Porto pareceu mais orientado por questões políticas do que desportivas. Como resultado, o plantel acaba por ser mais desequilibrado do que deveria depois de tanto dinheiro gasto, ficando a meu ver demasiado dependente do rendimento de 3 ou 4 jogadores-chave: Aboubakar, Brahimi, Maxi e, eventualmente, Imbula. Falta saber como se integrarão os reforços de última hora.