segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Janelas de oportunidade

Se, há um mês, alguém me dissesse que o Porto assinaria a muito curto prazo um contrato de direitos televisivos com uma empresa que não a do velho amigo Joaquim Oliveira, e que ambos os nossos rivais anunciariam acordos de longa duração com valores globais a igualar ou superar os quatrocentos milhões de euros, não seria capaz de dar qualquer crédito a essa teoria. Parecer-me-ia demasiado desfasada da realidade do futebol português para se poder concretizar.

No entanto, a realidade consegue muitas vezes superar a ficção e hoje, quer Benfica, quer Porto, têm acordos diretos com operadores por valores que vão muito além das dimensões que eram prática até agora. Valores de encher o olho, à partida bastante favoráveis aos clubes, mas cujas conclusões definitivas apenas poderão ser tiradas daqui a muitos anos. Por exemplo, será que em 2023 - ou seja, quando o Porto terminar a 1ª metade do contrato - estes 45 milhões / ano serão assim tão interessantes? O tempo o dirá.

Já se sabe que, nos próximos dias, benfiquistas e portistas discutirão quem de entre eles conseguiu o melhor contrato. Dificilmente haverá um consenso, pois não são facilmente comparáveis: o Benfica incluiu os elevados custos de funcionamento da BTV no pacote, enquanto que o Porto vendeu o patrocínio das camisolas e a exploração de publicidade no Dragão.

Registe-se, no entanto, a ironia: a pressa que o Benfica teve em anunciar ao mundo o maior negócio de sempre do futebol português acabou por fazer com que o maior negócio de sempre do futebol português apenas fosse o maior negócio de sempre do futebol português durante menos de um mês. A pompa e circunstância com que o acordo foi anunciado apenas fez com que a NOS perdesse margem negocial com os restantes clubes e que o orgulho da PT fosse severamente atingido por uma derrota tão mediática para o seu principal concorrente. Poucas semanas depois, os resultados estão à vista.

Perante isto, resta saber o mais importante: como fica o Sporting no meio desta loucura que se instalou no futebol português? A meu ver, com uma posição negocial reforçada - mesmo considerando que Benfica e Porto farão pressão junto da NOS e Meo para não assinarem um contrato na mesma ordem de grandeza com o Sporting. Mas, por muita pressão que Benfica e Porto façam, isso não altera a realidade: o Sporting tem o poder de desequilibrar os pratos da balança de forma decisiva nesta guerra de operadores. E, ao contrário do que benfiquistas e portistas possam imaginar, as operadoras estão sobretudo focadas nos seus próprios interesses, e não nos desejos daqueles que ficaram atados a si durante uma década.

Não que haja particular pressa para o Sporting em fechar um negócio deste tipo - à semelhança do Porto, o Sporting tem em vigor um contrato com a Sport TV até junho de 2018 -, mas parece-me sensato aproveitar a curto prazo uma guerra tão feroz como aquela que agora se verifica.

Outro facto que pode ser muito interessante para o Sporting é a recente legalização das apostas online. Falamos de um setor com várias empresas que apostam com frequência no patrocínio direto aos clubes, empresas essas que poderão muito em breve operar em Portugal. Isso poderá significar uma nova oportunidade para resolver a questão do patrocínio das camisolas.

Os próximos meses serão seguramente muito interessantes de seguir.