quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O negócio Sporting / NOS / PPTV, parte 1: significado político

515 milhões de euros. Direitos televisivos por 10 anos. Patrocínio da camisola por 12 anos e meio. Publicidade estática no interior do estádio por 10 anos. Exploração do canal do clube por 12 anos. Aditamento ao atual contrato com a Sport TV. Números astronómicos que incluem rubricas muito diversas, o que dificulta uma comparação direta com os contratos dos nossos rivais. Mas, na minha opinião, a conclusão mais importante a retirar de todo este processo não é perceber qual o clube que acabou por conseguir o contrato mais favorável.

Convém lembrar que, há pouco mais de um ano, Benfica e Porto elegeram Luís Duque para a presidência da Liga. Fizeram-no com dois objetivos fundamentais: afrontar e isolar o Sporting, e abrir caminho para uma centralização de direitos televisivos patrocinada por Joaquim Oliveira. Essa ideia de centralização tinha um propósito bem definido: uma repartição de receitas à espanhola, em que Benfica e Porto ficariam bastante acima de todos os outros. Aos clubes pequenos prometiam-se valores mais elevados, percebendo-se que esse aumento aconteceria sobretudo à custa daquilo que o Sporting deixaria de receber.

Entretanto a centralização acabou por cair. O peso da dívida de curto prazo levou o Benfica a iniciar um processo de negociação individual dos seus direitos, que acabou por provocar uma reação em cadeia. Seguiram-se vários clubes de dimensão inferior e, depois, o Porto. O Sporting, clube a quem os rivais sempre pretenderam bloquear o acesso a receitas adequadas à sua dimensão, ficava mais uma vez para trás. 

Os profetas da desgraça que tão bem conhecemos venderam o seu peixe com a persistência habitual: anunciaram que Benfica e Porto faziam pressão junto da NOS e Meo para que não fosse assinado com o Sporting um contrato da mesma dimensão, relembraram a existência de cláusulas para atualizações automáticas de valores em função dos valores negociados pelos rivais, bateram insistentemente na tecla que o Sporting já tinha baixado as suas exigências e que, mesmo assim, os operadores não estavam dispostos ir ao encontro das suas pretensões. 

Esses profetas da desgraça - que, como sabemos, não são apenas especialistas em futebol, pois dominam outros temas tão diversos como estratégia empresarial ou técnicas de negociação -, foram sempre categóricos no triste destino que nos estava reservado, e foram sempre fazendo questão de ignorar a óbvia e vantajosa posição negocial em que o Sporting ficou a partir do momento em que Benfica e Porto assinaram com empresas diferentes.

Nos próximos posts hei-de entrar mais nos detalhes dos contratos dos três clubes. Mas, para já, partilho as duas certezas que tenho sobre o assunto. 

A primeira é que não é possível indicar de forma clara qual dos contratos é o melhor. Por muitos quadros comparativos que se possam fazer, não há em nenhum R&C das SADs números suficientemente detalhados para perceber o valor de todos dos componentes destes acordos.

A segunda, e mais importante por agora, é que, politicamente, foi uma grande vitória do Sporting e de Bruno de Carvalho. Os esforços concertados de Benfica e Porto realizados na ressaca do pior período da história do Sporting falharam redondamente no objetivo de diminuir o seu real estatuto no futebol português. 

Os dados financeiros estão lançados para a próxima década e o Sporting conseguiu resistir à desvalorização que os outros nos tentaram impor. Naquilo que diz respeito às principais fontes de receita dos clubes de futebol, ninguém nos pode impedir de, nos próximos dez anos, irmos à guerra com meios semelhantes aos do nossos rivais. A questão decisiva deixou de ser o acesso ao dinheiro. Passou a ser a utilização mais eficiente desses recursos. E, em questões de eficiência de utilização de recursos, o Sporting leva neste momento uma grande vantagem sobre os rivais.