quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Dia de tributo ao jornal A Bola, capítulo III: O sermão ao Bruno Miguel

Capítulo III - O sermão ao Bruno Miguel
29 de dezembro de 2015


No final do capítulo anterior, questionei a seriedade da opção de Delgado e de muitos outros jornalistas em tratar o presidente do Sporting por Bruno, coisa que, como bem sabemos, não é feita com os presidentes dos outros clubes. E a questão da idade não é argumento, pois João Loureiro chegou à presidência do Boavista com 34 anos, e não me lembro de alguma vez algum jornalista o ter tratado por "João" (bem lembrado, T!).

Mesmo assim, há quem consiga ir ainda mais além. Falo do texto de opinião de Fernando Guerra, escrito no final do ano passado. Aqui nem sequer é Bruno. É Bruno Miguel, qual progenitor que dá uma reprimenda ao filho que se tem portado mal.

Infelizmente, o conteúdo desta crónica é tão rasteira quanto os modos empregues no título.



Imagino que Fernando Guerra tenha passado, em 2015, um dos natais mais felizes da sua vida. Já estou a ver a imagem na noite de dia 24: os netos sentados no chão da sala, abrindo ruidosamente os presentes recebidos, o filho e nora num corropio, registando o momento com os respetivos telemóveis, enquanto o avô Fernando se balouça pachorrentamente para a frente e para trás na sua velhinha cadeira de madeira, com cabeça encostada e os olhos fechados, fazendo uma retrospetiva da semana das derrotas do Sporting em campo e fora dele, e listando mentalmente, com um sorriso de orelha a orelha, os fracassos que o Bruno Miguel acumulou desde que ousou estragar os planos que o seu querido presidente Vieira tinha para a carreira de Jorge Jesus.

O que há a dizer de um jornalista que aproveita uma semana horrível de um clube para atirar à cara do presidente desse clube (e, por inerência, à cara de todos os adeptos) uma lista de todos os fracassos, semifracassos e, em alguns casos, insucessos pontuais? Que recomenda menos conversa e mais trabalho (!), como se o presidente não tivesse já resultados para apresentar em tantas outras vertentes desportivas e financeiras ao longo do seu mandato? 

Mas não bastou o caso Doyen, o não apuramento para a Champions, a falta de patrocínio e a questão dos direitos televisivos. Até a construção do pavilhão serviu de pedra de arremesso - porque na sua douta opinião, sabe a pouco. Não podia estar mais enganado.

Mas o pior, na minha opinião, foi na forma como gozou com a enchente, em itálico, de oito mil adeptos num treino do Sporting que foi organizado no âmbito de uma iniciativa bastante nobre, transformando-a numa ação promocional da figura do presidente - só porque Bruno de Carvalho tirou fotografias e deu autógrafos a alguns adeptos presentes. Isto é insultuoso e completamente falso.


Tão lesto foi Fernando Guerra a desmascarar o aproveitamento de iniciativas de solidariedade para promoção de imagem, que até estranho que não tenha dito nada sobre a iniciativa da Fundação Benfica em Cabo Verde, que o Benfica publicitou nas salas de cinema. Más línguas até poderiam dizer que a fundação gastou mais dinheiro a publicitar a ação de solidariedade do que na ação de solidariedade propriamente dita.


Infelizmente para Fernando Guerra, o sermão que deu ao Bruno Miguel caiu no ridículo no espaço de uma semana. No próprio dia em que esta crónica foi escrita, o Sporting fechou as questões do patrocínio das camisolas e dos direitos televisivos. Na jornada seguinte, o Sporting recuperaria o primeiro lugar e, 72 horas depois, amplaria a distância para o segundo para quatro pontos. E agora, Fernando?