domingo, 3 de janeiro de 2016

O mundo soube que mora um verdadeiro candidato em Alvalade

Foi um jogo com duas partes distintas. Os primeiros 45 minutos foram pautados por grande equilíbrio, e há que reconhecer que tivemos a sorte do nosso lado: marcámos de bola parada - com Slimani a aproveitar uma falha de marcação - e o Porto teve duas ou três ocasiões em que causou enorme aflição na nossa área. Bastava que o desfecho de qualquer um desses lances fosse diferente para que a história do jogo tivesse sido outra.

A segunda parte, no entanto, não deixou dúvidas a ninguém. O Sporting foi claramente superior e dispôs de imensas ocasiões de golo: duas bolas nos ferros, remates mal direcionados que tinham condições para ir parar ao fundo das redes, e outros que colocaram Casillas à prova. Do outro lado do campo, a linha defensiva do Sporting esteve sempre concentrada e não concedeu qualquer oportunidade ao Porto. Lopetegui acabou por ajudar ao retirar Aboubakar de campo, e nenhuma das alterações que fez alterou a dinâmica da partida. Adivinhava-se o segundo golo do Sporting, que chegava com facilidade à área adversária. Teimosamente, o golo da tranquilidade foi-se adiando, até que Adrien, Ruiz e Slimani protagonizaram uma transição rápida e mataram definitivamente a partida, já perto do fim. 



Positivo

Adrien e João Mário - Slimani pode ser o destaque mais óbvio da partida pelos golos que marcou, mas na minha opinião os melhores em campo foram Adrien e João Mário. Estiveram, autenticamente, em todo o lado. Foi incrível o trabalho defensivo de ambos e o esclarecimento e criatividade demonstrados com a bola nos pés, criando inúmeras situações prometedoras no ataque. Adrien esteve muito perto do golo ao fazer um remate ao poste, e já na primeira parte tinha feito outro para defesa difícil de Casillas. E quantas recuperações de bola fez o capitão em todo o jogo? Perdi a conta. Resumindo: duas enormes exibições.

Slimani - O argelino foi mais uma vez decisivo com dois golos à matador. Podia ter faturado um terceiro mas o cabeceamento saiu demasiado picado e ressaltou para a barra. De resto, foi o o avançado batalhador e participativo de sempre.

Naldo - tinha uma das missões de maior risco, ao ser obrigado a marcar Aboubakar a 40 metros da baliza. Sabia que não podia deixar o camaronês arrancar e ganhar velocidade, pelo que foi uma autêntica carraça. Sempre que o avançado do Porto era solicitado, lá estava Naldo a antecipar-se nas costas - algumas vezes até teve que subir a meio do meio-campo do Porto para impedir Aboubakar de receber. Para além disso esteve muito bem nas dobras a Jefferson, e foi decisivo ao antecipar-se a Corona na pequena área ainda na primeira parte com o resultado a zero.

Rui Patrício - estaria certamente à espera de mais trabalho, mas no pouco que teve foi importantíssimo. Refiro-me, em particular, a uma saída da área em que se antecipou a Aboubakar e à defesa com o corpo perante o isolado camaronês.

Uma vitória do coletivo - seria injusto, num jogo em que a equipa demonstrou um empenhamento total e uma disciplina tática quase exemplar, não destacar a grande exibição coletiva que os nossos jogadores nos proporcionaram. João Pereira a fazer um bom trabalho a conter Brahimi, mesmo em muitas situações em que não tinha apoios próximos, e a recuperar a bola que daria origem ao lance do 2º golo. Jefferson fez mais uma assistência, para o suspeito do costume. Paulo Oliveira eficaz, como é habitual. William, enquanto esteve fresco, sempre rapidíssimo a soltar a bola com qualidade. Matheus a entrar no onze com grande personalidade. Ruiz com uma assistência e outras pinceladas de classe. E Gelson a ser extremamente útil, nunca facilitando nas tarefas defensivas. Um conjunto de boas exibições individuais sempre ao serviço do coletivo. Foi uma equipa no sentido total da palavra, que levou a lição bem estudada e a pôs em prática com enorme competência.

Um vulcão verde e branco em erupção - os 49.362 espectadores estabeleceram um novo recorde de assistência no novo Alvalade. Ficará na memória a entoação coletiva de O Mundo Sabe Que, no início da partida. Não tenho dúvidas que foi nessa arrepiante manifestação de amor ao clube que a vitória começou a ser construída. Agora imaginem se for sempre assim até ao final da época. Depende de cada um dos sportinguistas a recriação deste ambiente daqui para a frente. Não é aceitável que, depois de todas as provas dadas por esta equipa, que se repitam assistências abaixo dos 40.000 / 45.000 espectadores.


Negativo

A última meia hora de William - coloco-o no negativo, apenas porque se trata de Sir William. Não é de todo normal vermos o número 14 cometer tantas falhas como as que fez na última meia-hora: acumulou passes errados, más abordagens a bolas divididas e perdas de bola. Provavelmente ressentiu-se de alguma forma da lesão que o afetou durante a semana.

O problema não é meu, mas... - que desperdício ver jogadores como Brahimi e Corona completamente abandonados no seu flanco... o que não fariam nas mãos de Jesus.



Grande jogo, grande vitória, grande ambiente, liderança recuperada. Uma exibição que de certeza que convenceu os mais céticos que mora em Alvalade um verdadeiro candidato ao título. Se somos o principal candidato, isso é outra conversa. Temos todos os motivos para nos sentirmos confiantes com o progressivo entrosamento desta equipa, mas não há espaço para haver qualquer tipo de euforia: há muito campeonato pela frente, temos apenas dois pontos de vantagem e em qualquer momento pode aparecer-nos pela frente um novo União da Madeira.