sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O negócio Pizzi

Agora que já passou a ressaca da passagem de ano, o clássico e o Dia de Reis, será que já é apropriado a comunicação social debruçar-se sobre a contratação mais cara da história do Benfica? É extraordinário como uma notícia deste calibre passou por entre os pingos da chuva, apesar de tanto os detalhes do negócio como a forma como o Benfica o anunciou terem tudo para despertarem a atenção e curiosidade da imprensa (e, já agora, dos benfiquistas).



A forma como o negócio foi divulgado

Começando pela forma: o Benfica anunciou a contratação de Pizzi por volta das 16h30 do dia 31 de dezembro. Repito, por volta das 16h30 do dia 31 de dezembro, altura em que 90% do país já estava com a cabeça na passagem de ano. Foi bem jogado pela SAD. Sabiam que a maior parte das pessoas não se aperceberia da notícia, e os que eventualmente se apercebessem tinham boas hipóteses de se esquecer com a bebedeira do reveillon. E, sorte das sortes, no dia 1 de janeiro eram poucos os jornais que seriam publicados. Não havia melhor momento para soltar um comunicado incómodo. Kudos para a SAD benfiquista por isso.

Para além disso, há que não esquecer que Vieira deu, no mesmo dia 31, uma entrevista de 8 páginas ao jornal A Bola. Nessas 8 páginas não conseguiu arranjar um cantinho que fosse para dar a boa nova aos benfiquistas. Nem sequer um indício foi dado pelo presidente para a iminente compra dos restantes 50% do passe de Pizzi. Se Vieira tivesse um mínimo de interesse em dar a notícia, de certeza que teria falado sobre o assunto.


Os contornos do negócio

Em relação ao negócio propriamente dito, o que há a dizer? Em primeiro lugar, que Pizzi não vale nem de perto nem de longe 14 milhões de euros (o Benfica tinha comprado em 2013 os primeiros 50% por 6 milhões). Está agora a atravessar um bom momento, como atravessou com Jesus ao substituir Enzo no onze titular, mas está muito longe de justificar o estatuto de jogador mais caro da história do Benfica.

Em segundo lugar, é impossível não observar a incoerência entre o que o Benfica diz e faz: a contratação mais cara da história do clube acontece poucos meses depois de o seu presidente ter anunciado uma mudança de paradigma. Acabaram as compras de 8 e 10 milhões, disse Vieira. Num espaço de poucos meses já existiram duas.

Por último, é mais uma transação feita entre Benfica e Atlético Madrid, que já tinham um historial recente de várias transferências sobreavaliadas. Sobre esta questão hei-de entrar em mais pormenores num futuro post.


O impacto mediático

Perante tudo isto, o impacto que a notícia teve na comunicação social foi praticamente inexistente. Curiosamente, a compra dos 50% remanescentes do passe de Pizzi já tinha sido anunciada pela imprensa... em março de 2015 e em julho de 2015. Em março, inclusivamente, a notícia foi dada com toda a pompa e circunstância que uma capa de A Bola pode providenciar.


Relembro que, na altura, Pizzi era considerado uma peça fundamental no meio-campo. Nove meses depois, quando o clube anunciou oficialmente, a notícia não passou deste destaque:


Justiça seja feita: houve um jornalista que perguntou a Rui Vitória o que tinha a dizer sobre a transferência mais cara da história do Benfica. O treinador benfiquista (naturalmente) esquivou-se à questão dizendo que não tem formação em contabilidade. E, na realidade, até falou bem: é muito provável que seja mesmo apenas uma questão de contabilidade. Se há dinheiro a circular, isso já é outra questão. 

Veremos se no futuro haverá vontade e coragem para tentar arrancar a Luís Filipe Vieira uma explicação convincente para este negócio que tresanda por todos os lados.