segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Trilogia com desfecho épico

Pegando na analogia das trilogias que utilizei no lançamento do jogo de ontem, ficou guardado para o terceiro capítulo, se não o melhor bocado, seguramente o mais emocionante e épico da saga desta semana. Como em qualquer boa história, as adversidades foram muitas, mas a vontade e capacidade para as ultrapassar foram superiores e determinaram o final feliz que os protagonistas tanto fizeram por merecer. Mas a crónica deste final de trilogia não ficaria completo se não fosse dado o justo reconhecimento dos figurantes que, das bancadas, foram os primeiros a fazer ouvir a sua crença quando o panorama era tão negro como o dos piores dos dramas. Uma vitória de uma vasta equipa que vai muito para além dos 14 jogadores que estiveram em campo. Se há jogos em que as bancadas ajudam a ganhar jogos, este foi de certeza um deles.



Positivo

Exibição de alto nível, durante 90 minutos - quem ouvisse pela rádio os comentários à primeira parte, ficaria a pensar que o Sporting não fez o suficiente para ter um resultado menos desfavorável. Pelo contrário. Excluindo as duas desatenções que valeram os golos de Wilson e Rafa, a exibição do Sporting na primeira parte foi, na minha opinião, melhor que a da segunda. Infelizmente há muito bom comentador que forma as suas opiniões em função da bola que entra ou não entra na baliza. O Sporting jogou 90 minutos de futebol de elevada intensidade e qualidade, com destaque para os inevitáveis João Mário, Adrien Silva e Bryan Ruiz. João Pereira e Naldo também estiveram em muito bom nível. Slimani foi Slimani. O Sporting merecia estar a ganhar ao intervalo e mereceu inteiramente a vitória no final dos 90 minutos.

Confiança num sistema - durante a segunda parte, o Sporting demonstrou urgência em ganhar, mas nunca deixou de o tentar fazer segundo os princípios de jogo que Jesus implementou. Fê-lo evitando bolas bombeadas ao acaso, procurando sempre a melhor solução possível para aproximar a equipa da baliza adversária. Essa paciência foi particularmente visível no segundo golo: entre a recuperação de bola e o golo de Montero, o Sporting trocou a bola no meio-campo do Braga durante 58 segundos, com várias tentativas de aproximação à área, e sem que os arsenalistas conseguissem sequer tocar no esférico. A paciência compensou.

A entrada de Gelson - ao tentar mandar na partida com uma linha defensiva alta contra uma equipa tão perigosa no contra-ataque como o Braga, Jesus assumiu alguns riscos. Mas ao intervalo, com uma desvantagem de dois golos, o treinador decidiu jogar no limite do risco, abdicando de William para colocar Gelson Martins. Nem podia ser de outra forma, pois perder por 2 ou por 3 vai dar ao mesmo. A aposta resultou em pleno. Gelson esteve na origem do penálti que deu início à recuperação e teve várias iniciativas que causaram desequilíbrios na defesa do Braga. Bom jogo do miúdo.

Uma defesa que valeu três pontos - teoricamente é impossível que uma defesa valha três pontos, mas aquela defesa de Patrício com a perna a remate de Rafa evitou o 2-3 e, muito provavelmente a derrota. Patrício é indiscutivelmente um dos melhores do mundo em situações de um-contra-um. Mais uma vez, decisivo.

A força vinda das bancadas - primeiro golo sofrido: incentivo imediato das bancadas. Segundo golo sofrido: incentivo imediatos das bancadas. Apito para o intervalo: zero assobios. Regresso dos balneários: receção entusiasta à equipa. Dos 0 aos 94 minutos: apoio permanente e ruidoso. Antes do jogo começar: mais um arrepiante O Mundo Sabe Que, cantado também por Jorge Jesus, e aplaudido efusivamente por Adrien Silva. Maravilhoso.



Negativo

Apatia e erros individuais nos golos do Braga - o pontapé certeiro de Wilson Eduardo e o fantástico trabalho de Rafa merecem todos os elogios, mas a verdade é que ambas as jogadas foram bastante consentidas pela nossa defesa e por erros individuais que entregaram o ouro ao bandido. No caso dos erros, falo concretamente do mau alívio de William no primeiro golo e do passe errado de Paulo Olivera que deu inicío à jogada do segundo golo.

Dia não na finalização - num jogo em que marcámos três golos, queixarmo-nos da falta de eficácia de finalização pode parecer algo exagerado. No entanto, foram variadíssimas as situações em que faltou só um bocadinho para marcarmos. Entre as oportunidades isoladas desperdiçadas por Slimani e João Mário, o cabeceamento de Paulo Oliveira que bateu duas vezes no poste - com uma defesa de Kritciuk pelo meio -, vários cruzamentos que não foram emendados por centímetros, o Sporting poderia perfeitamente ter marcado seis ou sete golos. Do outro lado, a finalização foi bem mais eficaz, mas acabou por falhar precisamente naquele momento em que não podia falhar - quando um isolado Rafa permitiu, perto do fim, aquela soberba defesa de Rui Patrício com a perna.

A campanha para criação do estigma-Slimani - o argelino é um jogador extremamente impetuoso. Faz parte da sua forma de estar em campo. É verdade que teve uma atitude condenável quando agrediu Samaris no jogo da Taça. Mas desde então tem sido alvo de uma campanha dos adversários, que tentam aproveitar qualquer contacto para encenar uma tragédia grega na tentativa de forçar uma expulsão. Mas não só. Ontem, quem lesse ou visse as reações dos benfiquistas e portistas nas redes sociais e nos programas de TV, ficaria a pensar que Slimani tentou arrancar a cabeça do jogador do Braga com uma cotovelada. Na realidade, acertou-lhe ao de leve com a mão enquanto tentava fugir em corrida ao adversário - não se tratando, de forma alguma, de uma agressão.



Final da primeira volta com quatro pontos de avanço sobre o segundo classificado, e com excelentes perspetivas para o que ainda está para vir. A qualidade das exibições está a crescer, as opções para o treinador também. Nota-se uma enorme confiança na equipa e nos adeptos. Sexta-feira há mais.